Eu não assinei.
Em vez disso, peguei na minha mala, na mesma que trouxe quando me mudei para esta casa há três anos. Coloquei lá dentro algumas roupas e os meus documentos.
Laura observava cada movimento meu, como um falcão.
"Não penses que podes levar algo de valor."
"Não quero nada vosso."
Saí daquela casa sem olhar para trás. A rua parecia estranha, hostil. Eu não tinha para onde ir. Os meus pais tinham morrido há anos e eu não tinha outros familiares próximos.
Sentei-me num banco de paragem de autocarro, o peso do mundo sobre os meus ombros. O que é que eu ia fazer? Grávida, desempregada e sem casa.
Peguei no telemóvel de uma senhora simpática para fazer uma chamada. Liguei à minha melhor amiga, Ana.
A sua voz soou preocupada quando lhe contei a história, aos soluços.
"Sofia, onde estás? Vou buscar-te agora mesmo."
Vinte minutos depois, o carro dela parou à minha frente. Ana saiu e abraçou-me com força.
"Vais ficar comigo. Vamos resolver isto."
No seu pequeno apartamento, senti-me segura pela primeira vez em dias. Ela fez-me chá e sentou-se comigo no sofá.
"Sofia, isto não faz sentido nenhum. Tu amas o Pedro. Nunca o trairias."
"Eu sei, Ana. Mas o relatório diz o contrário. Como é possível?"
"Tem de haver uma explicação. Uma troca de amostras no laboratório? Uma falsificação?"
"Quem faria isso? E porquê?"
Ana pensou por um momento.
"O Pedro tem inimigos? Alguém no trabalho?"
"Não que eu saiba. Ele é geralmente bem visto."
"E a família dele? A Laura nunca gostou muito de ti, pois não?"
Eu encolhi os ombros. "Ela sempre foi fria. Achava que eu não era boa o suficiente para o filho dela. Mas falsificar um teste de ADN? Isso parece extremo."
"As pessoas fazem coisas loucas por dinheiro e poder, Sofia. A família do Pedro é rica. Talvez ela quisesse uma nora de uma família igualmente rica."
A ideia era perturbadora. Poderia a minha própria sogra ter orquestrado isto?
"E a Clara?", perguntou Ana. "Ela não está sempre a ligar-lhe?"
"Sim... Ele foi ajudá-la hoje. Deixou-me para ir ter com ela."
Ana estalou a língua.
"Há algo de errado aí. Um homem não abandona a sua esposa grávida numa crise para ir ajudar uma 'colega'."
A sua lógica era clara e cortante. A semente da dúvida que eu tinha sobre a Clara começou a germinar. Ela estava sempre por perto, sempre a precisar de algo, sempre a monopolizar o tempo do Pedro.
"Preciso de descobrir a verdade, Ana. Pelo meu bebé."
"E nós vamos descobrir", disse ela, apertando a minha mão. "Primeiro, vamos fazer outro teste de paternidade. Num laboratório diferente. Um em que possamos confiar."
A esperança, pequena mas feroz, começou a arder dentro de mim.
Eu não estava louca.
E não ia desistir do meu filho.