Ana ajudou-me a marcar uma consulta numa clínica privada de renome noutra cidade.
"Vamos pagar nós mesmas", disse ela. "Sem hipótese de interferência."
A viagem de comboio foi longa. Olhei pela janela para a paisagem a passar, a minha mão a descansar protetoramente na minha barriga. Cada pontapé do bebé era um lembrete do que estava em jogo.
Na clínica, o ambiente era diferente. Profissional, discreto. Uma enfermeira simpática recolheu a minha amostra de sangue.
"O resultado estará pronto em três dias úteis", informou ela. "Enviaremos por e-mail seguro."
Saímos da clínica e eu senti um peso a ser levantado dos meus ombros. Agora, era só esperar.
Enquanto esperávamos, tentei reconstruir a minha vida. Ana ajudou-me a procurar apartamentos pequenos e a procurar empregos que eu pudesse fazer a partir de casa.
Numa tarde, o meu telemóvel antigo, que Ana me tinha devolvido, tocou. Era um número desconhecido. Hesitei, mas atendi.
"Sofia?"
Era a voz de Pedro. O meu coração deu um salto.
"O que queres?"
"Eu... recebi os papéis do divórcio de volta. Não assinaste."
"Não. Não vou assinar nada baseado numa mentira."
Houve um silêncio do outro lado.
"A minha mãe está a pressionar-me, Sofia. Ela quer que isto acabe."
"E tu? O que é que tu queres, Pedro?"
Ele hesitou. "Eu... eu não sei. Estou confuso."
"Estás confuso?", a minha voz subiu. "Eu fui expulsa de casa, acusada de algo terrível, e tu estás confuso?"
"A Clara disse que talvez tenhas razão. Que os laboratórios podem cometer erros."
Clara. Claro que era a Clara. A fingir-se de pacificadora.
"Isso é muito simpático da parte dela", disse eu, a minha voz carregada de sarcasmo.
"Ela está apenas a tentar ajudar. Ela está preocupada contigo."
"Não quero a preocupação dela. Quero que o meu marido acredite em mim."
Outro silêncio.
"O que é que eu devo fazer, Sofia? O relatório..."
"Esquece o relatório! Pensa com o teu coração, Pedro! Acreditas mesmo que eu faria isso?"
"Eu..."
Antes que ele pudesse terminar, ouvi a voz de Laura ao fundo.
"Pedro! Com quem estás a falar? Desliga já esse telemóvel! Não tens mais nada a dizer a essa mulher!"
A chamada terminou abruptamente.
Atirei o telemóvel para o sofá, frustrada. Ele estava tão fraco, tão facilmente manipulado pela mãe e pela Clara. O homem por quem me apaixonei parecia ter desaparecido.
Ana entrou na sala, a olhar para o meu rosto.
"Era ele?"
Eu assenti.
"Não te deixes abater, Sofia. Ele está a mostrar quem realmente é. Daqui a alguns dias, teremos a prova. E então, ele não terá onde se esconder."
As suas palavras eram o meu porto seguro. Eu agarrei-me a elas. A verdade estava a chegar.