O coração começou a bater mais forte. Um sentimento ruim se formou no meu peito.
Uma das minhas amigas, a Patrícia, percebeu minha expressão e perguntou baixinho: "O que foi?"
Fiz um sinal para ela esperar e continuei a chamada. "Tia, talvez ele só esteja com o celular no silencioso. Vou tentar ligar para ele."
Desliguei e imediatamente disquei o número de Gabriel. Chamou, chamou e caiu na caixa postal. Tentei de novo. Mesma coisa.
Foi então que a Patrícia me cutucou e apontou para a entrada do bar.
"Laura, aquele não é o Gabriel?"
Eu me virei. E lá estava ele. Não com os amigos da faculdade. Ele estava de braços dados com uma garota que eu nunca tinha visto, rindo de algo que ela dizia ao pé do ouvido dele. Eles pareciam um casal. Um casal feliz.
O som ao meu redor desapareceu. O barulho, as luzes, as pessoas, tudo sumiu. Só conseguia ver os dois, parados na entrada, como se estivessem em um mundo só deles. A garota era linda, com cabelos longos e loiros e um sorriso que parecia iluminar o lugar. Gabriel olhava para ela de um jeito que eu nunca o tinha visto olhar para mim.
Meu cérebro parou de funcionar. Eu não conseguia respirar. Era como se tivessem me dado um soco no estômago, tirando todo o ar dos meus pulmões. O copo na minha mão tremeu, e o gelo bateu contra o vidro, um som minúsculo em meio ao caos que se instalava dentro de mim.
Então, o celular na minha mão vibrou. Era uma mensagem de Gabriel.
"Amor, desculpa não poder te ver hoje. A reunião com o pessoal da faculdade está demorando mais do que eu pensava. Te amo."
A mentira. A mentira descarada, enviada enquanto ele estava a menos de vinte metros de mim, com outra garota. A dor foi tão intensa, tão aguda, que me deixou tonta. Era uma dor física, que se espalhava pelo meu peito e subia pela garganta.
Minhas amigas viram a cena, viram a mensagem, viram meu rosto perder a cor. Elas não precisaram dizer nada. Apenas me abraçaram enquanto eu tremia, incapaz de chorar, incapaz de gritar, apenas sentindo a dor da traição me consumir por completo.
A dor era como uma enchente, subindo rapidamente e ameaçando me afogar. Por um instante, eu quis levantar, ir até lá, gritar, fazer um escândalo. Mas minhas pernas não obedeciam. Fiquei paralisada, sentada naquela cadeira, vendo o homem que eu amava desde criança me trair na minha frente.
A onda de choque inicial passou, mas a dor permaneceu, pulsando em um ritmo constante. Minhas amigas me levaram para casa, me colocaram na cama. Fiquei horas olhando para o teto, revivendo a cena sem parar. O sorriso dele, o jeito que ele olhava para ela, a mensagem no meu celular. Cada detalhe era uma nova facada.
As lágrimas finalmente vieram, silenciosas e quentes. Chorei por horas, até não ter mais forças. Chorei pela nossa história, pela minha ingenuidade, por tudo que eu achei que tínhamos. Quando o sol começou a nascer, a dor ainda estava lá, mas algo havia mudado. A tristeza devastadora estava dando lugar a uma raiva fria e a uma calma assustadora. Eu não era mais a garota que tremia no bar. Eu precisava de respostas. Precisava encará-lo.
Levantei, lavei o rosto e me vesti. A imagem no espelho era de alguém com os olhos inchados e o rosto pálido, mas o olhar era firme. Peguei as chaves do carro e dirigi até a casa dele. Eu não sabia o que ia dizer, mas sabia que precisava ouvir da boca dele.
Cheguei e o carro dele estava na garagem. Respirei fundo e toquei a campainha. A mãe dele atendeu, com uma expressão de alívio ao me ver.
"Laura! Que bom que você veio. Gabriel acabou de chegar, disse que o celular descarregou. Ele está no quarto."
Subi as escadas, cada degrau parecendo pesar uma tonelada. A porta do quarto dele estava entreaberta. Bati e entrei.
Ele estava deitado na cama, mexendo no celular, e sorriu quando me viu. Um sorriso despreocupado, como se nada tivesse acontecido.
"Oi, amor. Chegou cedo."
Fiquei parada na porta, olhando para ele. A calma que eu sentia era assustadora.
"Onde você estava ontem à noite, Gabriel?"
Ele franziu a testa, confuso. "Eu te falei. Com o pessoal da faculdade. Foi um saco, só falamos de trabalho."
A mentira, dita com tanta facilidade, me encheu de nojo. Era tão absurdo, tão insultante, que quase ri.
"Sério? Não foi no bar Sideral, com uma garota loira?"
O sorriso dele desapareceu. Ele se sentou na cama, o rosto pálido. Ele abriu a boca para falar, mas nenhuma palavra saiu. A culpa estava estampada em seu rosto.
"Laura, eu posso explicar."
"Explicar o quê? Que você mentiu para mim? Que você me mandou uma mensagem dizendo que me amava enquanto estava com outra pessoa? O que tem para explicar, Gabriel?"
"Não é o que você está pensando. Ela é só uma amiga."
"Uma amiga que você abraça daquele jeito? Uma amiga para quem você olha como se ela fosse o centro do universo?" minha voz era baixa, mas carregada de uma fúria que eu não sabia que possuía.
"Laura, por favor..."
Eu balancei a cabeça. Não havia mais nada a ser dito. A confiança, construída ao longo de anos, tinha sido destruída em uma única noite.
"Acabou, Gabriel."
Ele se levantou e veio na minha direção, tentando pegar minha mão.
"Não, Laura, não faz isso."
Eu me afastei, como se o toque dele queimasse.
"Não encosta em mim. Eu tenho nojo de você."
Virei as costas e saí do quarto. Desci as escadas correndo, ignorando os chamados da mãe dele. Entrei no meu carro e dirigi para longe, sem olhar para trás. As lágrimas voltaram, mas desta vez, não eram de tristeza. Eram de raiva, de libertação e de uma dor profunda por ter que deixar para trás uma vida inteira de memórias. Sabia que a partir daquele dia, nada seria como antes.