Ele era o garoto mais popular da vizinhança. Bonito, carismático, sempre rodeado de amigos. E eu, desde pequena, era fascinada por ele. Ele tinha um jeito de me fazer sentir especial. Enquanto ele ignorava a maioria das outras meninas, ele sempre me dava atenção. Ele me puxava para as brincadeiras de futebol com os meninos, me ensinava a empinar pipa e sempre me defendia se alguém mexesse comigo.
Eu me tornei a sombra dele, sua "pequena seguidora", como nossas mães costumavam dizer. Onde Gabriel ia, eu ia atrás. Se ele estava no campinho jogando bola, eu estava na arquibancada improvisada, torcendo por ele. Se ele ia para o fliperama, eu ia junto, mesmo que odiasse videogames.
Minha mãe vivia reclamando.
"Laura, por que você não brinca com as meninas? Você só vive atrás do Gabriel."
Mas a mãe dele, a tia Célia, achava a maior graça.
"Deixa eles, Márcia. Eles são unha e carne. É a coisa mais linda de se ver."
Lembro de uma vez, quando tínhamos uns sete ou oito anos, a tia Célia comentou como Gabriel era diferente comigo.
"É engraçado," ela disse para minha mãe, enquanto tomavam café na cozinha. "Gabriel não tem paciência com meninas, mas com a Laura é diferente. Ele cuida dela como se fosse uma irmãzinha mais nova."
Eu, que estava escondida ouvindo a conversa, senti meu coração se encher de um calorzinho bom. Eu não era qualquer uma. Eu era a Laura dele.
Cresci em uma redoma de carinho e proteção. Meus pais me mimavam, e Gabriel me protegia. Eu era uma garota feliz, um pouco ingênua, que acreditava que o mundo era um lugar seguro e que a amizade que eu tinha com Gabriel duraria para sempre. Para mim, ele era meu herói, meu melhor amigo, o centro do meu pequeno universo. Eu não conseguia imaginar minha vida sem ele.