Ela recuou, um movimento sutil, mas que não passou despercebido por ele. Uma sombra de irritação cruzou seus olhos, mas foi rapidamente substituída pela falsa ternura.
"É a pressão do desfile. Você está se esforçando demais. Eu trouxe uma coisa para te ajudar a relaxar. Uma receita especial da minha avó, para dar força."
Ele estendeu uma tigela de porcelana. Dentro, um líquido escuro e espesso exalava um cheiro adocicado e herbal. Era a sopa. A "bebida" que ele havia mencionado na conversa com Lucas. O veneno.
Luana olhou para a tigela, depois para ele. Seus olhos estavam vazios, mas sua mente trabalhava furiosamente. Ela precisava ganhar tempo. Precisava manter a farsa.
"Rafael," ela começou, a voz fraca, mas firme. "Eu preciso te contar uma coisa. Nós vamos ter um filho."
Ela observou o rosto dele. Por um microssegundo, uma emoção indecifrável passou por seus olhos. Foi hesitação? Culpa? Um lampejo de algo humano? Mas desapareceu tão rápido quanto surgiu, substituído por uma frieza calculada. Ele forçou um sorriso.
"Um filho? Que... notícia maravilhosa." A palavra soou oca, falsa. "Então você precisa mesmo desta sopa. Para fortalecer você e o bebê."
A insistência dele era a confirmação final. O sorriso em seu rosto era o de um carrasco.
Luana sabia que não tinha escolha. Recusar seria assinar sua sentença de morte ali mesmo. Com as mãos trêmulas, ela pegou a tigela. O cheiro adocicado agora parecia podre, um prenúncio da morte. Ela olhou nos olhos dele uma última vez, buscando qualquer vestígio do homem que pensou amar. Não encontrou nada. Apenas um vazio ambicioso.
Ela levou a tigela aos lábios e bebeu. O líquido desceu queimando, não pela temperatura, mas por sua própria natureza vil. Cada gole era uma facada em seu ventre, uma traição líquida. Ela terminou e devolveu a tigela vazia para ele.
"Beba tudo. Isso mesmo, minha querida." O sorriso dele era vitorioso.
Não demorou muito. Uma cólica aguda, brutal, a dobrou ao meio. Era uma dor como nenhuma outra, uma torção violenta em suas entranhas. Um grito ficou preso em sua garganta. Ela caiu de joelhos, o corpo convulsionando. A dor era excruciante, uma agonia que parecia rasgar seu corpo de dentro para fora.
Ela olhou para Rafael, implorando ajuda com os olhos. Ele apenas a observava, impassível, como um cientista observa um experimento.
Nesse exato momento, o celular dele tocou. Ele atendeu, a voz mudando instantaneamente para um tom meloso.
"Sofia, meu amor... Sim, claro. Estou a caminho."
Ele desligou e olhou para Luana, caída no chão, se contorcendo de dor. Não havia compaixão em seu olhar. Apenas impaciência.
"Eu preciso ir. A Sofia precisa de mim."
Ele se virou e saiu. Simplesmente saiu. Deixou-a ali, sangrando, perdendo o filho que ele mesmo condenou, para atender ao chamado da mulher por quem ele a traiu e destruiu.
Luana ficou sozinha no chão frio do quarto. A dor física era avassaladora, mas a dor daquele abandono era infinitamente pior. Era a prova final e inequívoca de sua total falta de valor aos olhos dele. Ela era um objeto descartável. O amor era uma mentira, a preocupação uma farsa, e seu sofrimento, a consequência desejada de um plano cruel.
Enquanto o sangue e a vida se esvaíam de seu corpo, sua alma se quebrava em mil pedaços. O choro que veio não foi de dor, mas de um desespero tão profundo que parecia não ter fim. Naquele quarto luxuoso, cercada pela opulência que sua nova vida lhe dera, Luana experimentou o mais absoluto desamparo. O carnaval lá fora podia ser uma explosão de vida e cor, mas ali dentro, tudo era morte e escuridão.