"Marcos, eu aceito."
"Aceitas o quê?"
"O casamento arranjado. Eu caso-me com ele."
Houve um silêncio do outro lado, seguido por um suspiro de alívio.
"Finalmente tomaste a decisão certa. Aquele Leonardo Rossi nunca foi bom para ti. Um jogador de póquer, que futuro terias com ele?"
A crítica de Marcos era dura, mas Sofia não tinha forças para defender Léo. Não mais.
"Pai já falou com a família Monteiro," continuou Marcos. "Eles estão muito satisfeitos. O noivo, Gabriel, é um homem decente, um arquiteto de renome. Ele é a melhor escolha para ti."
Sofia concordou com os termos do casamento, mas pediu um prazo.
"Preciso de um mês. Tenho de resolver as minhas coisas aqui em São Paulo."
"Claro," disse Marcos. "Um mês é razoável. Vamos organizar um jantar de noivado quando voltares. Devíamos convidar o Léo? Afinal, ele é meu amigo."
O nome dele causou uma pontada de dor no seu peito.
"Não," respondeu ela, a voz mais firme do que esperava. "Não o convides. Ele não precisa de saber."
Antes que Marcos pudesse questionar, a porta do quarto abriu-se. Léo entrou, o cabelo ainda húmido do banho, vestindo apenas uma toalha na cintura.
"Com quem estás a falar tão cedo?"
Ele ouviu parte da conversa e aproximou-se, o seu cheiro familiar envolvendo-a. Sofia desligou rapidamente.
"Era o Marcos."
Léo sorriu, um sorriso que antes a fazia derreter. Ele passou os braços à volta da sua cintura, puxando-a para perto. O seu corpo era quente contra o dela.
"O que é que o teu irmão superprotetor queria? A verificar se eu estou a cuidar bem de ti?"
A sua mão começou a deslizar para baixo, um toque íntimo e possessivo. Sofia sentiu um arrepio, mas não era de desejo. Era de repulsa.
Ela afastou-se ligeiramente.
"Léo, o que somos nós?"
A pergunta pairou no ar, carregada de um peso que ele não pareceu notar.
Léo riu, como se a pergunta fosse uma piada.
"O que somos? Moramos juntos há seis anos, dormimos na mesma cama. O que achas que somos?"
Ele desconsiderou a sua dúvida, usando a coabitação e a intimidade como prova do relacionamento. Tentou beijá-la, mas Sofia virou o rosto.
"Não me sinto bem hoje."
Ele interpretou a sua recusa como timidez, dando-lhe um beijo na testa.
"Tudo bem, minha menina tímida. Vou preparar o pequeno-almoço."
Enquanto ele saía do quarto, o monólogo interno de Sofia gritava. Ela era realmente a parceira dele, ou apenas uma sombra, uma substituta conveniente para o seu verdadeiro amor?
Um flashback invadiu a sua mente. Ela conheceu Léo há oito anos, quando visitou Marcos na faculdade. Léo era o melhor amigo do seu irmão, carismático e popular. Ela apaixonou-se instantaneamente. Quando se mudou para São Paulo para a universidade, Marcos pediu a Léo que cuidasse dela, e ela acabou por ir morar no apartamento dele.
No início, a interação entre eles era mínima. Léo tinha muitas namoradas, e ela era apenas a "irmãzinha" do seu melhor amigo. Mas uma noite, ele voltou para casa bêbado, tropeçando e caindo. Sofia cuidou dele, limpou-o e colocou-o na cama. Ele acordou no meio da noite, olhou para ela com olhos turvos e perguntou: "Tu gostas de mim, não gostas?" Antes que ela pudesse responder, ele a beijou.
Depois daquela noite, tudo mudou. Léo pareceu comprometer-se com ela. Ele terminou com as outras mulheres e passou a dedicar-lhe toda a sua atenção. Por ele, Sofia recusou todas as propostas de casamento arranjado que a sua família lhe fazia. Ela acreditava ter encontrado o amor da sua vida.
Mas ele sempre a impediu de contar à família sobre o relacionamento deles. Dizia que queria esperar o momento certo, que não queria que Marcos pensasse que ele se aproveitou da irmã do seu melhor amigo.
Recentemente, a verdade veio à tona. Numa festa, um amigo de Léo, completamente bêbado, apontou para ela e disse: "Vejam só, a substituta perfeita. Quase igual à Isabella."
Sofia investigou. Descobriu que Isabella Furtado foi o primeiro amor de Léo, a mulher que o deixou anos atrás por um homem mais rico. Desde então, Léo procurava parceiras que se parecessem com Isabella. O cabelo, os olhos, o sorriso. Até a carreira de musicista de Sofia, ele a incentivou a seguir porque Isabella também sonhava em ser cantora.
Seis anos da sua vida. Uma ilusão.
Percebendo que o seu relacionamento de anos foi uma mentira, Sofia tomou a sua decisão. Ela aceitaria o casamento arranjado e abandonaria os seus sentimentos por Léo. O amor que ela sentia por ele tinha morrido na noite anterior.
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