Sofia fechou o computador portátil, onde a conversa de Léo com Isabella no chat estava visível. Ele tinha partilhado fotos do seu dia, falado sobre os seus sonhos, sobre o passado. Não havia uma única menção a ela. Era a confirmação final de que ela era apenas uma sombra, uma peça de substituição que seria descartada agora que o original tinha voltado. Ela desligou o aparelho.
Na manhã seguinte, a campainha tocou. Sofia abriu a porta e encontrou um entregador com um enorme ramo de flores e um bolo.
"Entrega para a Sra. Oliveira."
Léo, que estava a sair do quarto, viu a cena.
"Encomendas-te flores e bolo?"
"Não," disse ela, pegando nos presentes. "Um amigo enviou." Ela olhou para o cartão. Era de um amigo da faculdade.
Só então Léo pareceu dar-se conta. O seu rosto ficou pálido.
"Merda. É o teu aniversário. Sofia, eu... eu esqueci-me completamente. Desculpa."
A culpa estava estampada no seu rosto. Ele tentou compensar, sugerindo um passeio.
"Vamos sair. Vamos celebrar. Onde queres ir?"
"Prefiro ficar em casa."
"Por favor," insistiu ele. "Deixa-me compensar-te."
Ela finalmente concordou, sem energia para discutir. Eles visitaram os locais que costumavam frequentar, assistiram a um filme, fizeram compras. Era uma normalidade forçada, uma tentativa desesperada de reconexão que chegava tarde demais.
Enquanto Léo pagava as compras, Sofia foi à casa de banho. Ao passar por uma joalharia, ouviu a voz dele. Ele estava ao telemóvel, a providenciar a compra de um colar caro que ela tinha admirado na montra há alguns minutos.
"Sim, esse mesmo. O de diamantes. Embrulhe para presente."
Ela ficou confusa. Ele lembrava-se de um desejo passageiro, mas esquecia-se do seu aniversário. Que tipo de lógica era aquela?
Então, ela compreendeu. Ele só se importava quando Isabella estava ausente. Agora que o seu verdadeiro amor tinha voltado, a sua atenção estava dividida. Ele sentia-se culpado e tentava comprar o seu perdão com presentes caros. Ela sentiu-se completamente desinteressada.
Léo notou a sua falta de entusiasmo no caminho de volta.
"Não gostaste do dia?"
"Gostei," mentiu ela. "Só estou um pouco cansada. Quero ir para casa."
"Ainda não," disse ele, virando o carro numa direção inesperada. "Tenho uma surpresa. Vou apresentar-te aos meus amigos."
Sofia ficou surpresa. Em seis anos, ele nunca a tinha apresentado oficialmente ao seu círculo de amigos. Ele sempre dizia que eles eram demasiado barulhentos, que ela não ia gostar. Percebeu que ele estava a fazer isto agora por culpa, um grande gesto antes de ela partir. Ela permaneceu em silêncio.
Eles chegaram a uma casa de praia no Guarujá. Ao entrarem, foram recebidos com confetes e gritos de "Feliz Aniversário!". Léo a protegeu dos confetes, sorrindo.
"Surpresa!"
Mas o seu sorriso congelou quando viu quem estava no centro da sala, segurando um copo de champanhe.
Isabella.
Isabella aproximou-se, o seu sorriso era uma mistura de doçura e veneno.
"Vim para a celebração. Espero não incomodar."
A expressão de Léo era indecifrável. Sofia, por outro lado, sentiu uma calma fria tomar conta de si. Ela estendeu a mão.
"Olá. Sou a Sofia Oliveira."
Isabella observou-a intensamente, apertando a sua mão. O seu toque era frio.
"Isabella Furtado. Sou uma... amiga do Léo."
Ela fez uma pausa, os seus olhos a percorrerem o rosto de Sofia.
"Alguém já te disse que nos parecemos muito?"
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