Sofia acordou e observou Léo a arrumar-se. Ele estava a vestir um dos seus melhores fatos, algo que raramente fazia, e penteava o cabelo com um cuidado meticuloso. Ele estava notavelmente mais cedo e bem-vestido do que o habitual.
"Como estou?" ele perguntou, virando-se para ela com um sorriso radiante.
"Estás bonito," respondeu ela, a voz neutra.
"Tenho um evento importante hoje. Uma festa de boas-vindas para uma velha amiga. Prometo trazer-te um doce da tua pastelaria favorita quando voltar."
Ele deu-lhe um beijo rápido na testa e saiu.
Momentos depois, o som do seu telemóvel a vibrar na mesa de cabeceira chamou a sua atenção. Ela pegou nele para o silenciar, mas o ecrã acendeu-se com uma nova mensagem. O nome "Isabella" brilhava no topo.
"Léo, mal posso esperar para te ver depois de tantos anos. Estou tão entusiasmada!"
O coração de Sofia afundou. A "velha amiga" era Isabella. A festa de "boas-vindas" era para ela.
A porta abriu-se de repente. Léo voltou a entrar, parecendo agitado.
"Esqueci-me do meu telemóvel."
Ele viu o aparelho na mão dela, o ecrã ainda aceso com a mensagem de Isabella. Os seus olhos arregalaram-se por um segundo, e ele olhou para Sofia.
"Viste alguma coisa?"
"Não," mentiu ela, entregando-lhe o telemóvel.
Ele pareceu visivelmente aliviado.
"Ótimo. Vemo-nos mais tarde."
E saiu novamente, desta vez para valer.
Sofia ficou confusa com a reação dele. Porque é que ele se importaria se ela soubesse a verdade? Se ela era apenas uma substituta, a sua opinião não deveria importar. Ela abanou a cabeça, descartando a ideia. Não valia a pena pensar nisso.
Ela sentou-se à sua secretária e abriu o computador. Tinha um álbum de composições para terminar. Queria concluir todos os seus projetos antes do casamento arranjado, antes de deixar São Paulo para sempre.
Horas mais tarde, ela começou a arrumar as suas coisas. Pegou num pequeno urso de peluche que Léo lhe tinha dado no primeiro aniversário de namoro. "É um pouco infantil, não achas?", ele tinha comentado na altura. Ela deitou o urso no saco do lixo. Depois, pegou numa moldura com uma foto dos dois. "Saíste com os olhos fechados nesta", ele dissera. A moldura juntou-se ao urso. Um a um, os objetos que simbolizavam o seu relacionamento foram sendo descartados. Com cada item, sentia um peso a ser retirado dos seus ombros.
Quando estava a levar o saco do lixo para fora, a porta do elevador abriu-se e Léo saiu, inesperadamente cedo.
"O que estás a fazer?" ele perguntou, olhando para o saco na sua mão.
"A deitar fora lixo inútil," respondeu ela calmamente.
Ele aceitou a resposta sem suspeitar de nada, demasiado feliz para notar qualquer coisa estranha.
Enquanto subiam no elevador, ela viu pela porta de vidro os funcionários da limpeza a levarem o saco. Ele não notou a falta dos objetos porque nunca se importou com eles. A sua felicidade genuína, ela sabia, não tinha nada a ver com ela. Era por causa do regresso de Isabella.
De volta ao apartamento, Léo finalmente notou os espaços vazios nas prateleiras.
"Onde estão as nossas fotos?"
Antes que Sofia pudesse responder, o telemóvel dele tocou. Uma mensagem de Isabella. Ele rapidamente guardou o telemóvel no bolso, ignorando as prateleiras vazias.
"Tenho de sair outra vez. Não esperes por mim para jantar."
Sofia ficou sozinha no apartamento silencioso. À meia-noite, o seu telemóvel vibrou. Mensagens de feliz aniversário do seu irmão, dos seus pais, dos seus amigos. Nenhuma de Léo. Ele tinha-se esquecido.
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