Todo mês ele trazia uma mulher diferente para casa, cada uma mais bonita que a outra, todas com o mesmo propósito: forçá-la a se divorciar.
Sofia sentiu uma pontada no coração, uma dor familiar que já quase se tornara parte dela. Ela apertou a mão atrás das costas, o papel do teste de gravidez amassado em sua palma.
Positivo.
Ela estava grávida.
Ela respirou fundo, suprimindo as lágrimas que ameaçavam cair.
"Marcos, eu não vou me divorciar."
Ela levantou a cabeça, forçando um sorriso.
"Me dê mais um ano. Se em um ano, eu ainda não conseguir engravidar, eu mesma sairei de casa sem levar nada."
Marcos franziu a testa, irritado. Ele odiava a teimosia dela. Ele a via como um obstáculo, uma mancha em sua vida perfeita.
"Um ano? Sofia, você não se cansa disso?"
A mulher ao lado dele riu com desdém.
"Marcos, sua esposa é realmente persistente."
Sofia ignorou a provocação. Ela apenas olhou para Marcos, seus olhos cheios de uma súplica silenciosa. Ele finalmente cedeu, impaciente.
"Tudo bem, um ano! Mas que seja o último. Depois disso, desapareça da minha vida."
Ele se levantou, pegou a mão da outra mulher e saiu, sem sequer olhar para trás.
A porta bateu, e o silêncio na sala era ensurdecedor. Sofia finalmente soltou o ar, seu corpo tremendo. Ela olhou para o teste de gravidez amassado em sua mão. Um filho... talvez um filho pudesse salvar este casamento.
No dia seguinte, a notícia veio como um raio em céu azul.
Um grave acidente de carro. Marcos e seu irmão mais velho, Lucas, estavam no veículo.
Um morto, um ferido.
Sofia correu para o hospital, seu coração batendo descontroladamente. No corredor, ela viu sua sogra, Dona Helena, com o rosto pálido e os olhos vermelhos.
"Mãe, como eles estão?"
Dona Helena a olhou com uma expressão complexa.
"Lucas... Lucas não resistiu. Marcos está gravemente ferido, mas está fora de perigo."
O mundo de Sofia desabou. Lucas, seu cunhado gentil e amável, estava morto. E Marcos... o homem que a humilhara por três anos, estava vivo.
O funeral foi três dias depois. O céu estava cinzento, assim como o coração de todos. Sofia, vestida de preto, ficou em silêncio ao lado do caixão, disfarçando sua dor e a complexidade de seus sentimentos. O homem que a traiu estava morto, mas a dor era real.
Ela se sentiu tonta, o cheiro das flores e a atmosfera pesada a sufocando. De repente, tudo ficou escuro.
Sofia desmaiou no cemitério.
A escuridão não durou muito. Ela começou a ouvir vozes, abafadas, como se viessem de debaixo d'água.
"...Mãe, você tem certeza que ninguém vai descobrir? Fingir minha própria morte... assumir a identidade de Lucas... é loucura!"
Era a voz de Marcos.
Sofia congelou. Morto? Ele não estava morto?
"Cale a boca! Quer que alguém te ouça?", a voz de Dona Helena soou, áspera e ansiosa. "Foi a única maneira, Marcos! Você sempre amou a Ana, e Lucas nunca te daria uma chance com ela. Agora que ele está morto, você pode assumir o lugar dele. Você será o herdeiro da família Almeida, e terá a Ana ao seu lado."
Ana. A noiva de Lucas. O verdadeiro amor de Marcos.
O coração de Sofia se partiu em mil pedaços. A verdade era mais cruel do que qualquer traição que ela já havia sofrido.
"E a Sofia?", a voz de Marcos continuou, cheia de desprezo. "O que eu faço com ela? Agora ela é a 'viúva' do Marcos. Que piada."
"Isso é perfeito!", disse Dona Helena. "Deixe-a ser a viúva. Ela está grávida, não está? Esse filho será uma 'dádiva' sua para a família. Ela continuará na família Almeida, cuidando do seu filho, e você poderá ficar com a Ana sem nenhum obstáculo. Ninguém jamais suspeitará."
Grávida. Eles sabiam.
A náusea subiu pela garganta de Sofia. Não era apenas náusea da gravidez, era uma repulsa profunda por aquele homem e sua família.
O acidente... não foi um acidente. Foi um plano. Um plano para se livrar de Lucas, para se livrar dela.
Naquele momento, uma memória antiga veio à tona. O acidente que quase a matou anos atrás. Marcos a salvou, tirando-a do carro em chamas. Foi por gratidão que ela se casou com ele, ignorando todos os sinais de alerta, suportando três anos de humilhação. Ela sentia que devia sua vida a ele.
Mas agora, com o "desaparecimento" de Marcos, a dívida estava paga. Ele a salvou uma vez, e agora, ao "morrer", ele a libertou.
Ela não devia mais nada a ele.
A raiva, a dor, a traição... tudo se transformou em uma calma assustadora. Ela continuou de olhos fechados, ouvindo a conversa do lado de fora da sala de descanso do cemitério.
"Mas e o corpo no caixão?", perguntou Marcos.
"Não se preocupe, eu cuidei de tudo. Ninguém vai conseguir identificar. Agora, você é Lucas. Lembre-se disso."
Marcos riu, uma risada fria e cruel.
"Pobre do meu irmão. Ele sempre conseguia tudo o que eu queria. Agora, a noiva dele é minha. E aquela idiota da Sofia vai criar meu filho pensando que é uma lembrança do marido morto. É genial, mãe."
"Ela é uma tola leal. Sempre foi. Casou com você por gratidão, vai continuar sendo grata ao 'falecido' Marcos. E o tipo sanguíneo dela é raro, RH negativo. Se o bebê precisar, ela será útil."
Sofia sentiu o sangue gelar. Útil. Era isso que ela era para eles. Uma incubadora e um banco de sangue ambulante.
Ela apertou os punhos com tanta força que sentiu as unhas quebrarem contra a palma da mão. A dor física era um alívio bem-vindo para a agonia em sua alma.
Quando as vozes finalmente se afastaram, Sofia abriu os olhos. O teto branco do pequeno quarto parecia zombar dela.
Ela tocou sua barriga.
Este filho... o filho de um monstro.
Um símbolo de sua estupidez, de sua lealdade cega.
Não.
Ela não iria dar a Marcos a satisfação. Ela não seria a viúva sofredora, a mãe solteira dedicada a uma mentira.
Ela se levantou, sentindo uma tontura, mas sua determinação era mais forte. Ela caminhou até a porta, cambaleando.
No hospital, ela encontrou uma enfermeira. Sua voz estava rouca, mas firme.
"Eu quero fazer um aborto."
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