Cem Tentativas, Um Divórcio
img img Cem Tentativas, Um Divórcio img Capítulo 3
4
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 3

Sofia acordou com o cheiro familiar de hospital e a voz furiosa de Juliana.

"Aquele desgraçado! Aquele filho da mãe! Ele te força a doar sangue para a amante dele e te deixa aqui para morrer? Eu vou matar aquele homem! Quer dizer, o fantasma dele! Ou seja lá o que for aquele monstro se passando pelo irmão!"

Juliana estava andando de um lado para o outro no quarto, gesticulando com raiva. Ver a amiga tão protetora trouxe um calor ao peito de Sofia.

"Ju, calma", disse Sofia, a voz ainda fraca.

"Calma? Sofia, como você pode estar calma? Você quase morreu! Primeiro o desmaio no funeral, depois isso! E você ainda ia passar pelo aborto! O médico disse que se você não fosse médica e não soubesse reconhecer os sinais, você poderia ter entrado em choque hipovolêmico!"

Juliana parou ao lado da cama, seus olhos cheios de preocupação e fúria.

"Aquela família é podre. A mãe dele, cúmplice. Ele, um assassino manipulador. E aquela Ana, a noiva 'inocente'. Todos eles podem ir para o inferno! Você não deve nada a eles, Sofia. Você ouviu? Nada! A dívida está paga. Com seu sangue, com seu filho, com três anos da sua vida. Está mais do que pago!"

As palavras de Juliana eram a validação que Sofia precisava.

"Eu sei, Ju. Eu sei."

Sofia olhou para a amiga e, pela primeira vez em muito tempo, seus olhos brilharam com uma nova luz. Não era resignação, era determinação.

"Eu vou embora."

Juliana parou, surpresa.

"O quê?"

"Eu vou embora daqui. Para longe dos Almeida. Para longe desta cidade. Eu vou recomeçar."

Um sorriso enorme se abriu no rosto de Juliana. Ela abraçou Sofia com cuidado.

"Graças a Deus! Eu estava esperando você dizer isso há três anos! Para onde você vai? O que você vai fazer? Eu vou com você!"

Sofia riu, um som genuíno.

"Calma. Eu tenho um plano."

Assim que Juliana saiu para buscar algo para ela comer, Sofia pegou seu celular. Suas mãos ainda tremiam um pouco, mas seu propósito era firme. Ela discou um número que não usava há anos, um número que ela sabia de cor.

O telefone tocou uma, duas, três vezes. Ela quase desligou, pensando que talvez ele não atendesse.

"Alô?"

A voz do outro lado era profunda, calorosa e familiar. Rafael Silva. Seu antigo mentor na faculdade de medicina, o homem que sempre a apoiou, o homem por quem ela secretamente teve uma queda antes de Marcos entrar em sua vida.

"Rafael? É a Sofia. Sofia Lima."

Houve um silêncio do outro lado, seguido por uma inspiração rápida.

"Sofia? Meu Deus, é você mesmo? Onde você está? Eu soube do... do Marcos. Eu sinto muito."

"Está tudo bem, Rafael. Eu... eu preciso de um favor."

"Qualquer coisa. Diga." A resposta dele foi instantânea, sem hesitação.

"Eu sei que você trabalha com os Médicos Sem Fronteiras. Vocês... vocês ainda precisam de médicos? Eu preciso sair daqui. Preciso de um lugar para ir, um trabalho que me mantenha ocupada."

A alegria na voz dele era palpável, mesmo através da linha telefônica.

"Sofia, você não poderia ter ligado em um momento melhor! Estamos montando uma nova clínica em uma pequena cidade no interior da África. Precisamos desesperadamente de um médico experiente. O lugar é remoto, tranquilo... perfeito para quem quer recomeçar. Se você quiser a vaga, ela é sua. Eu arranjo tudo."

Lágrimas de alívio escorreram pelo rosto de Sofia.

"Sim. Sim, eu quero. Obrigada, Rafael. Você não sabe o quanto isso significa para mim."

"Eu que agradeço, Sofia. Ter você na equipe... seria um sonho. Quando você pode vir?"

"O mais rápido possível."

"Ótimo! Eu te mando todos os detalhes por e-mail. Passagem, acomodação, tudo. Apenas venha. Eu estarei esperando por você no aeroporto."

"Estarei aí", prometeu ela.

Enquanto falava, o canto do olho de Sofia captou um movimento na porta.

Marcos, ainda fingindo ser Lucas, estava parado ali, observando-a. Ele parecia ter ouvido parte da conversa. Uma expressão sombria cruzou seu rosto.

Sofia agiu rápido.

"Ok, obrigada pela informação. Tchau."

Ela desligou o telefone bruscamente, o coração batendo forte. Ela não podia deixá-lo estragar isso. Esta era sua única chance.

Ela precisava sair dali, e precisava sair agora.

---

            
            

COPYRIGHT(©) 2022