Cem Tentativas, Um Divórcio
img img Cem Tentativas, Um Divórcio img Capítulo 4
5
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

Marcos, no papel de Lucas, entrou no quarto com um buquê de lírios, as flores favoritas de Sofia. O gesto era tão falso que a fez sentir náuseas.

"Sofia, eu soube que você passou mal. Fiquei preocupado", ele disse, sua voz tentando soar gentil, como a de Lucas. "Trouxe suas flores favoritas."

"Não se incomode", disse ela friamente, virando o rosto para a janela. "Guarde-as para a Ana. Ela precisa mais do que eu."

A menção de Ana o fez hesitar. Ele colocou as flores sem graça em um vaso.

"Como você está se sentindo?"

"Pronta para ir para casa."

Ela não lhe deu chance de protestar. Chamou a enfermeira, assinou sua alta por conta própria e começou a se vestir. Marcos ficou parado, observando-a, uma mistura de irritação e suspeita em seu rosto. Ele não entendia essa nova Sofia, fria e distante. A mulher submissa que ele conhecia havia desaparecido.

Quando chegaram à mansão que um dia fora seu lar, Sofia não perdeu tempo. Ela foi direto para o quarto que dividia com Marcos e começou a arrumar suas coisas. Mas ela não estava guardando nada.

Ela pegou sacos de lixo grandes e começou a jogar tudo dentro. Roupas, joias, presentes que ele lhe dera, fotos... tudo o que a ligava a ele e àquela vida. Ela esvaziou as gavetas, o guarda-roupa, a penteadeira.

Seu celular tocou. Era Juliana.

"Amiga, estou no aeroporto com suas passagens. O voo sai em três horas. Rafael já confirmou tudo. Você consegue sair daí?"

"Consigo. Me espere."

Ela desligou e continuou seu trabalho com uma eficiência impiedosa. Em menos de uma hora, o quarto estava irreconhecível. Estava vazio, estéril, como se ela nunca tivesse vivido ali.

Ela desceu com uma única mala pequena, contendo apenas seus documentos, alguns itens essenciais e o dinheiro que tinha em sua conta pessoal.

Na sala, Marcos e Ana estavam sentados no sofá. Ana, já se recuperando, estava aninhada nos braços dele, agindo como a nova senhora da casa. Eles olharam para Sofia e sua mala, surpresos.

"Onde você pensa que vai?", perguntou Marcos, sua voz dura.

"Embora", respondeu Sofia calmamente.

Ele se levantou, furioso.

"Embora? Você não vai a lugar nenhum! Você é a viúva de Marcos! Seu lugar é aqui!"

Sofia riu, um som oco.

"Meu lugar? Este lugar nunca foi meu. E quanto a ser sua viúva... Marcos está morto. A dívida está paga. Eu estou livre."

Ana olhou para Marcos, confusa.

"Querido, do que ela está falando? Por que ela está agindo assim?"

Marcos forçou um sorriso para Ana, passando a mão em seu cabelo.

"Não se preocupe, meu amor. Ela só está de luto, não sabe o que diz." Ele se virou para Sofia, o sorriso desaparecendo. "Nós vamos jantar em família esta noite. Para celebrar a recuperação da Ana. Você vai ficar."

Não era um pedido. Era uma ordem.

Sofia deu de ombros.

"Tudo bem. Um último jantar."

O jantar foi uma tortura. Dona Helena, Marcos e Ana sentaram-se à mesa, agindo como uma família feliz. Eles conversavam sobre o futuro, sobre como "Lucas" assumiria os negócios da família, sobre o casamento deles que aconteceria em breve.

Ninguém falou com Sofia. Ninguém olhou para ela. Ela era uma fantasma na mesa.

Marcos só tinha olhos para Ana. Ele colocava a comida favorita dela em seu prato, ignorando completamente que Sofia era alérgica a frutos do mar, que compunham a maior parte do menu.

Sofia não comeu nada. Ela apenas observou o teatro, o nojo crescendo dentro dela.

No meio do jantar, ela se levantou.

"Com licença. Não estou me sentindo bem. Vou para o meu quarto."

Ninguém pareceu se importar.

Ela subiu as escadas, pegou sua mala e desceu silenciosamente pela escada de serviço. Ela saiu pela porta dos fundos, chamou um táxi que já a esperava na esquina e foi direto para o aeroporto.

Ela não olhou para trás.

Horas depois, na mansão Almeida, a farsa continuava. Marcos e Ana subiram para o quarto que antes pertencia a Marcos e Sofia. Ao abrir a porta, eles pararam, chocados.

O quarto estava completamente vazio. O guarda-roupa aberto revelava cabides vazios. As gavetas estavam abertas e limpas. Não havia um único vestígio de Sofia Lima.

"O que... o que é isso?", gaguejou Ana.

Marcos correu pelo quarto, abrindo e fechando portas, como se não pudesse acreditar no que via.

"Ela se foi", ele rosnou, a raiva distorcendo seu rosto. "Aquela desgraçada... ela realmente foi embora."

Naquele exato momento, o celular de Marcos (o celular de "Lucas") tocou. Era um número desconhecido.

"Alô?"

"Senhor Almeida? Aqui é o Sargento Costa, da polícia de trânsito. Estamos ligando sobre um acidente. Uma testemunha anotou a placa do seu carro em uma batida seguida de fuga esta noite. Uma pessoa ficou gravemente ferida."

Marcos franziu a testa.

"Deve haver algum engano. Eu não saí de casa esta noite."

"O carro está registrado em nome de Sofia Lima, sua cunhada. Uma testemunha a viu saindo do local do acidente. Precisamos que ela venha à delegacia para prestar esclarecimentos."

O sangue de Marcos gelou. Sofia. Ela tinha usado o carro dela. Mas por quê?

"Onde ela está agora?", perguntou a polícia.

Marcos olhou ao redor do quarto vazio.

"Eu não sei."

Ele desligou o telefone, uma sensação terrível se apoderando dele. Sofia não apenas o abandonou. Ela o incriminou.

Ou pior. Alguém a incriminou. E ela estava desaparecida.

---

                         

COPYRIGHT(©) 2022