Cada palavra era uma provocação. Ela não sentia muito. Ela estava se deliciando com a minha dor.
Antes que eu pudesse responder, a campainha tocou insistentemente. Abri a porta e dei de cara com a mãe de Pedro, uma mulher que eu um dia chamei de sogra. Seus olhos me fuzilaram.
"Sua descarada!", ela gritou, tentando me empurrar para dentro. "Você achou que ia conseguir alguma coisa, não é? Meu filho nunca te amou! Ele só te usou porque você era útil! Agora saia desta casa! Isso tudo pertence à Juliana!"
Ela avançou sobre mim, as unhas prontas para arranhar meu rosto. Eu recuei, o choque me paralisando por um segundo. Mas então, a raiva que eu senti na leitura do testamento voltou. Eu não ia mais ser um saco de pancadas.
Quando ela tentou me agarrar, eu segurei seus pulsos com força.
"Saia da minha casa," eu disse, com uma voz fria que eu mesma não reconheci.
Ela ficou chocada com a minha resistência. Ela sempre me viu como a garota dócil e submissa. Ela recuou, me lançando um olhar de puro ódio antes de ir embora, gritando ameaças.
Fechei a porta e me encostei nela, tremendo. Mas não era de medo. Era de raiva. Eu não ia deixar que eles me destruíssem.
Naquela mesma semana, contratei um advogado. Eu tinha provas. E-mails, rascunhos de projetos, testemunhas. Provas de que a 'Construções Futuro' foi construída sobre o meu trabalho intelectual. Eu ia lutar pelo que era meu por direito.
O processo foi longo e desgastante. A família de Pedro e Juliana usaram todo o seu dinheiro e influência para me difamar. Pintaram-me como uma aproveitadora, uma ex-namorada amarga e gananciosa. Mas eu persisti.
No dia do veredito, o juiz bateu o martelo.
"A corte decide em favor da senhorita Sofia. Fica provado que ela é cofundadora intelectual da empresa 'Construções Futuro' e tem direito a cinquenta por cento de seus ativos."
Uma onda de alívio me inundou. Eu tinha conseguido. Justiça. Por um breve momento, eu senti que podia respirar de novo.
Eu saí do tribunal e entrei no meu carro, sentindo um misto de exaustão e triunfo. Liguei para minha mãe para dar a boa notícia. Enquanto o telefone chamava, eu dirigi para casa, sonhando com o futuro. Um futuro onde eu finalmente estaria livre de Pedro e sua sombra.
Foi quando eu vi os faróis.
Um caminhão vindo na contramão, em alta velocidade. Não tive tempo de reagir. O impacto foi brutal. O som de metal se contorcendo, vidro quebrando. E depois, uma dor lancinante e a escuridão.
Minha última visão consciente foi a de dois rostos na janela do meu carro destruído.
Pedro e Juliana.
Eles não pareciam preocupados ou chocados. Eles sorriam.
"Que pena," disse Juliana, com a voz gotejando sarcasmo. "Parece que você não vai poder aproveitar seu dinheiro, Sofia."
Pedro se inclinou, seu rosto uma máscara de desprezo.
"Eu te avisei para não mexer comigo. Você nunca aprendeu, não é? Você sempre foi tão ingênua. Agora, tudo é meu. E da Juliana. Como deveria ter sido desde o começo."
A escuridão me engoliu. A última coisa que senti foi a raiva queimando, a injustiça me consumindo. Eles tinham me tirado tudo. Minhas ideias, minha carreira, meu amor, e finalmente, minha vida. E eles saíram impunes.