Ferramenta do Destino, Senhora do Mundo
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Capítulo 3

O cheiro de gasolina e pneu queimado invadiu minhas narinas. Uma dor aguda latejava na minha cabeça. Abri os olhos, piscando contra a luz forte de um poste.

Eu estava no meu carro. O airbag tinha sido acionado. O para-brisa estava trincado.

Meu coração disparou. O caminhão. O acidente.

Mas... algo estava errado. Eu olhei para minhas mãos. Elas estavam firmes no volante. Eu me toquei. Eu estava viva. Inteira.

Olhei pela janela. Eu reconheci o lugar. Era a rotatória perto do centro de convenções. E eu reconheci a data no painel do carro. Era o dia. O dia em que Pedro me humilhou publicamente, anunciando seu noivado com Juliana em um evento da empresa, depois de apresentar um projeto que eu havia criado como se fosse dele.

Eu tinha sofrido um pequeno acidente a caminho do evento. Na minha vida passada, eu saí do carro, ajudei uma senhora que tinha caído na confusão e cheguei atrasada, bem a tempo de assistir ao meu mundo desmoronar.

Um som de gritos me tirou de meus pensamentos. A senhora. Ela tinha caído, sua bolsa se espalhando pela calçada. Na vida passada, eu corri para ajudá-la, a "boa samaritana" de sempre.

Desta vez, eu pisei no acelerador.

O carro saiu cantando pneu. Eu não olhei para trás. A senhora seria ajudada por outra pessoa. Não por mim. Não mais.

Minha mente estava a mil por hora. Renascimento. Eu voltei no tempo. Eu tinha voltado para o dia em que tudo começou a dar errado.

Uma risada borbulhou no meu peito, uma risada meio louca, meio aliviada. Eu não estava morta. E eu tinha uma segunda chance. Uma chance de fazer tudo diferente.

Na minha vida passada, minha bondade só me trouxe dor. Ajudei aquela senhora e torci o tornozelo, uma lesão que, por falta de cuidado adequado na época, me assombrou com dores crônicas por anos. Fui a "justiceira" no trabalho, defendendo colegas, e acabei sendo isolada. Fui a parceira leal e acabei traída e morta.

Chega.

Nesta vida, eu só ia cuidar de mim e da minha família. Minha mãe, Lúcia. Meu irmão, Miguel. O resto do mundo que se dane.

Dirigi direto para casa, ignorando as dezenas de chamadas de Pedro. Cheguei em casa, liguei meu computador e, com as mãos tremendo de adrenalina, fiz algo que mudaria tudo. Vendi as poucas ações que minha avó tinha me deixado. Eram de uma empresa de tecnologia que, eu sabia, iria à falência em seis meses. Com o dinheiro, comprei ações de uma pequena startup de energia renovável que ninguém conhecia, mas que, eu sabia, se tornaria um gigante em dois anos.

Era meu primeiro passo. Minha primeira vingança.

Meu telefone tocou de novo. Era Pedro. Desta vez, atendi.

"Sofia! Onde você está? Eu preciso da versão final da apresentação! O evento começa em uma hora!" Sua voz era arrogante, exigente.

Eu respirei fundo, sentindo um poder que nunca tive antes.

"Pedro," eu disse, com a voz calma e fria.

"O quê? Anda logo, me manda o arquivo!"

"Eu não vou mandar nada. E, a propósito, terminamos. Pegue suas coisas do meu apartamento até o final do dia."

Houve um silêncio chocado do outro lado da linha.

"O que... O que você disse? Você ficou louca? Sofia, não brinque com isso agora! Minha carreira depende dessa apresentação!"

Sua carreira. Não a nossa. A dele. A carreira que ele estava construindo nas minhas costas.

"Esse é o seu problema, não o meu," eu disse, e desliguei.

Imediatamente, bloqueei o número dele. E o de Juliana. E o dos pais dele.

Sentei-me no sofá, o mesmo sofá onde chorei por dias na minha vida passada. Mas desta vez, eu não estava chorando. Eu estava sorrindo. O jogo tinha virado. E eu estava pronta para jogar.

            
            

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