"Sofia, você não vai acreditar no que aconteceu ontem no evento da Construções Futuro! O Pedro subiu no palco para apresentar o 'projeto do século' e foi um desastre total! Ele gaguejou, não sabia responder às perguntas técnicas... Foi tão vergonhoso que um dos investidores perguntou se ele tinha roubado a apresentação de outra pessoa! E pra piorar, a tal da Juliana, a noiva dele, estava na primeira fila com uma cara de enterro. Foi épico!"
Eu li a mensagem e um sorriso satisfeito se espalhou pelo meu rosto. Eu não precisei fazer nada. Sem os meus arquivos, sem a minha orientação, Pedro era apenas um vendedor com um discurso vazio. Ele se humilhou sozinho. A sensação foi deliciosa. Vingança servida fria. Ou melhor, servida com a incompetência dele.
Passei o dia organizando meu portfólio, limpando qualquer vestígio de Pedro da minha vida e do meu apartamento. Foi catártico. Joguei fora fotos, roupas que ele deixou para trás, presentes. Cada objeto que ia para o saco de lixo era um peso que saía das minhas costas.
Naquela noite, exausta mas feliz, adormeci profundamente. Fui acordada no meio da noite pelo som insistente do meu celular. Meio grogue, olhei para a tela. Um número desconhecido. Ignorei. Mas o número ligou de novo, e de novo.
Irritada, atendi.
"Alô?"
"Sofia... sou eu."
A voz de Pedro. Chorosa, patética.
"Como você conseguiu meu número?", perguntei, fria.
"Eu... eu preciso de você. Sofia, eu estraguei tudo. O evento foi um desastre. Os investidores estão me processando. Juliana... ela está furiosa. Por favor, me ajuda. Você é a única que pode consertar isso."
Eu fiquei em silêncio, ouvindo o desespero na voz dele. Na vida passada, essa súplica teria derretido meu coração. Eu teria corrido para ajudá-lo, para salvá-lo, como sempre fiz.
Mas eu não era mais aquela Sofia.
"Não", eu disse, simplesmente.
"O quê? Sofia, por favor! Pelo que nós vivemos! Por tudo..."
"Não existe mais 'nós', Pedro. Você fez suas escolhas. Agora viva com elas."
Desliguei o telefone. E, sem hesitar, adicionei o número à minha lista de bloqueados.
No entanto, a curiosidade me venceu. Antes de apagar tudo, verifiquei as mensagens que ele havia enviado antes de ligar. Eram dezenas.
"Sofia, eu sei que você está aí. Não me ignore."
"Eu sinto sua falta. Cometi um erro."
"Você não entende o que está em jogo! Nossa vida!"
E então, a última mensagem, a que confirmou minhas suspeitas.
"Como você pôde fazer isso comigo? De novo? Você também se lembra, não é? Você também voltou! Nós deveríamos estar juntos nisso!"
Então era verdade. Ele também tinha renascido. A revelação não me assustou. Pelo contrário, me deu mais força. Ele não era apenas o meu ex-traidor. Ele era meu inimigo consciente, um inimigo com conhecimento do futuro. Isso tornava o jogo mais interessante.
Apaguei as mensagens. Olhei para a escuridão do meu quarto e sorri.
Ele achava que estávamos "juntos nisso". Que tolo. Ele achava que podia me usar de novo, me manipular com memórias de uma vida que terminou em tragédia para mim e triunfo para ele.
Ele não entendeu nada. Isso não era uma parceria. Era uma guerra. E desta vez, eu tinha todas as armas. Eu não ia mais pagar pelas ações egoístas dele. O preço da arrogância dele, desta vez, seria pago por ele, e somente por ele.