Coração Roubado, Vida Destruída
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Capítulo 2

Ricardo voltou para o hospital, o dinheiro da "clínica" queimando no bolso. Não era muito, mas era um começo. No quarto, Lucas dormia, o rostinho pálido e sereno. Uma máquina ao lado da cama emitia um bipe lento e constante, o som frágil do coração do seu filho.

Ele se sentou ao lado da cama e segurou a mãozinha de Lucas. Estava fria.

"Papai está aqui, meu campeão," ele sussurrou, a garganta apertada. "Vai ficar tudo bem. Papai vai dar um jeito."

Lucas abriu os olhos lentamente, um pequeno sorriso se formando em seus lábios secos.

"Papai... você parece cansado."

A inocência na voz do menino quebrou o coração de Ricardo em mil pedaços. Ele forçou um sorriso.

"Papai só trabalhou muito. Mas é pra gente poder comprar aquele robô gigante que você queria, lembra?"

"E pra mamãe voltar pra casa?" perguntou Lucas, os olhos cheios de uma esperança que Ricardo não tinha mais.

Ricardo engoliu em seco. "Sim, filho. Pra mamãe voltar pra casa."

Ele ficou ali, observando o filho dormir, até que a dor na lateral do seu corpo, onde o corte improvisado doía, se tornou insuportável. Ele precisava voltar para o trabalho. Precisava de mais dinheiro.

No dia seguinte, de volta ao lava-rápido, a dor física era nada comparada à dor em sua alma. Cada carro de luxo que ele limpava era um lembrete da traição de Ana. Ele esfregava os pneus com uma fúria silenciosa, a imagem dela sorrindo no iate gravada em sua mente.

Por volta do meio-dia, um conversível vermelho parou na entrada. Ricardo sentiu o sangue gelar.

Era Ana.

Ela estava ao volante, rindo, com o cabelo voando. Ao lado dela, o mesmo homem da foto, Miguel. Ele a beijou no rosto antes de sair do carro e entregar a chave para o gerente do lava-rápido.

Ricardo se escondeu atrás de uma van, o coração batendo descontroladamente. Ele observou os dois. Ana usava um vestido de seda azul e carregava uma bolsa da Hermès. Miguel vestia uma camisa de linho e o mesmo relógio de ouro. Eles pareciam um casal de capa de revista.

"Limpeza completa, por dentro e por fora," disse Miguel ao gerente, com arrogância. "E rápido. Temos um almoço importante."

Ricardo sentiu o estômago revirar. Um almoço importante. Enquanto o filho deles lutava pela vida num leito de hospital.

Ele observou Ana, a mulher com quem dividiu uma cama por cinco anos, a mulher por quem ele estava destruindo o próprio corpo. Ela olhou ao redor, entediada, sem nem sequer notar a figura suja e suada que se escondia a poucos metros de distância. Ela era uma estranha. Uma estranha rica e cruel.

Quando eles se afastaram, Ricardo se aproximou do carro. Ele tinha que fazer seu trabalho. Ao abrir a porta, um brilho no tapete chamou sua atenção. Era um relógio. Um relógio idêntico ao que Miguel usava na foto, mas com uma pulseira de couro rosa. Um relógio de casal. E ao lado, no porta-luvas que estava entreaberto, um cartão de visita dourado: "Miguel Andrade, CEO, Andrade Investments".

Aquele era o investidor. O investidor com quem Ana estava "em reunião".

Mais tarde naquela semana, seu quarto emprego, entregador de aplicativo, o levou a um condomínio de luxo na área mais nobre da cidade. O endereço no aplicativo era o de uma cobertura. Quando o porteiro o autorizou a subir pelo elevador de serviço, ele sentiu um calafrio.

Ele deixou a entrega na porta, como instruído. Ao se virar para ir embora, viu o zelador empurrando um grande saco de lixo preto. O saco estava mal amarrado, e algo caiu no chão.

Por curiosidade, Ricardo olhou. Era uma embalagem de preservativo. E ao lado, um recibo de farmácia. O nome no recibo era "Ana Pereira". Seu nome de solteira.

Ricardo sentiu o vômito subir à garganta. Ele se apoiou na parede, ofegante. Não era só traição. Era um nível de depravação que ele não conseguia compreender. Ela estava vivendo uma vida dupla, uma vida de luxo e mentiras, enquanto ele e o filho doente apodreciam na miséria que ela mesma havia criado.

Ele olhou para a embalagem no chão, o símbolo de sua humilhação. Colegas de trabalho no lava-rápido às vezes faziam piadas sujas sobre os clientes ricos e suas amantes. Agora, ele era o marido traído em uma dessas piadas. O tolo. O ingênuo. A raiva que sentiu antes era fria. Agora, era um fogo que queimava tudo por dentro, deixando apenas cinzas e um desejo sombrio por respostas.

            
            

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