Eu sorri, colocando um sanduíche cortado em forma de dinossauro em sua lancheira.
"Que incrível, meu amor, mas primeiro, a nave do Leo precisa fazer uma parada no Acampamento de Verão Aventura."
Ele fez um biquinho, mas seus olhos brilhavam de animação.
"Eles vão ter fogueira de verdade?"
"Sim, meu amor, com marshmallows e tudo", eu o tranquilizei, fechando a lancheira e ajeitando seu boné.
Eu era Lívia, uma estilista de moda, e minha vida parecia perfeita, meu trabalho era minha paixão, e meu filho era meu mundo, Ricardo, meu marido, e eu tínhamos construído uma vida que muitos invejariam.
Naquele dia, deixei Leo no acampamento, o abracei com força e senti seu cheirinho de criança, uma mistura de sabonete e aventura.
"Te amo até a lua e voltar", eu sussurrei em seu ouvido.
"Eu também, mamãe", ele respondeu, me dando um beijo estalado na bochecha antes de correr para se juntar às outras crianças.
Eu o observei por um momento, meu coração cheio de um amor que quase doía, e então me virei para ir embora, mal sabia eu que aquele seria o último momento de paz da minha vida.
Menos de dez minutos depois, meu telefone tocou, era um número desconhecido, mas a urgência em minha intuição me fez atender.
"Senhora Lívia? Aqui é do acampamento, houve um... um incidente, precisa vir para cá agora."
A voz do outro lado era trêmula, carregada de pânico, meu coração gelou e minhas mãos começaram a tremer.
"Um incidente? O que aconteceu? O Leo está bem?"
"Por favor, senhora, apenas venha."
A ligação terminou, e eu pisei no acelerador, o carro voando pelas ruas, minha mente um turbilhão de cenários terríveis.
Quando cheguei, o acampamento estava cercado por viaturas da polícia e uma ambulância, fita amarela bloqueava a entrada, e um monitor, um jovem pálido e aterrorizado, estava gritando para os policiais.
"Foi um assassinato! Alguém foi assassinado!"
Eu saí do carro, minhas pernas fracas, e corri em direção à fita, ignorando os gritos dos policiais para parar.
Eu precisava ver meu filho, precisava saber que ele estava bem.
Um policial me segurou, mas eu lutei, desesperada, e então, através da multidão, eu vi, a cena que despedaçaria minha alma para sempre.
Lá estava ele, o pequeno corpo do meu Leo, ainda sentado em sua cadeira de acampamento, sua camisa azul favorita manchada de um vermelho escuro e vibrante, o sangue escorria de seu pescoço, formando uma poça no chão de terra.
Mas sua cabeça... sua cabeça havia desaparecido.
Um grito saiu da minha garganta, um som animalesco, de pura agonia e horror, o mundo ao meu redor se desfez em um borrão de dor.
Eu caí de joelhos, o ar faltando em meus pulmões, a única coisa que existia era a imagem do meu filho, sem vida, sem sua cabeça.
Com as mãos trêmulas, peguei meu telefone e liguei para a polícia, minha voz rouca de raiva e desespero.
"Prendam o assassino! Encontrem quem fez isso com meu filho!"
Mas o diretor do acampamento, um homem de aparência escorregadia que eu nunca tinha gostado, se aproximou dos policiais com um tablet na mão.
"Temos o vídeo da câmera de segurança", ele disse, com uma falsa expressão de pesar.
O policial pegou o tablet e deu o play, eu me aproximei, cambaleando, precisando ver, precisando entender.
Na tela, uma mulher que se parecia comigo, mas com os olhos de uma louca, segurava uma faca enorme, ela agarrou o cabelo do meu filho, meu Leo, e com um movimento brutal, cortou sua cabeça.
Eu olhei para a imagem, incrédula, o rosto no vídeo era o meu, as roupas eram as minhas, mas a crueldade, a loucura... não era eu.
"Não sou eu!", eu gritei, minha voz quebrando. "Eu nem toquei na faca! Isso não é real!"
Mas ninguém me ouviu, os olhos de todos se voltaram para mim, cheios de horror e acusação.
Algemas frias e pesadas prenderam meus pulsos, o metal gelado contra minha pele era a confirmação de que meu pesadelo estava apenas começando.
Eles me arrastaram para longe, para a sala de interrogatório da prisão, um lugar cinza e sem alma.
A polícia me perguntava sem parar, a mesma pergunta, de novo e de novo.
"Onde está a cabeça do seu filho, Lívia?"
Minha mente estava em branco, eu só conseguia repetir as mesmas palavras, um mantra de inocência desesperada.
"Eu não sei! Não fui eu!"
Então, meu marido, Ricardo, entrou na sala, seu rosto estava contorcido de dor e raiva, e em seus braços, ele segurava o corpo frio e sem vida do nosso filho, envolto em um cobertor.
Ele olhou para mim, seus olhos cheios de um ódio que eu nunca tinha visto.
"Ele tinha apenas seis anos!", ele gritou, sua voz ecoando na pequena sala. "Como você pôde fazer isso? Onde você escondeu a cabeça dele?!"
Eu chorei até não ter mais lágrimas, até minha garganta ficar seca e meu corpo tremer incontrolavelmente, eu quase desmaiei, a dor da perda misturada com a injustiça da acusação era insuportável.
"Não sei! Não fui eu!", eu soluçava, mas minhas palavras se perdiam no abismo de sua dor e convicção.
Depois daquele dia, o vídeo da vigilância vazou, e Lívia, a renomada estilista de moda, tornou-se a "mãe demônio" que chocou o país.
A internet explodiu em um frenesi de ódio e condenação, todos estavam esperando que eu entregasse a cabeça do meu filho, todos me viam como um monstro.
Mas eu também queria saber.
Quem cortou a cabeça do meu filho? E onde, em nome de Deus, a escondeu?