O Conto de Fadas Desfeito
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Capítulo 1

Luana olhou para seus pais adotivos, sentados no sofá da modesta sala de estar, seus rostos marcados pela preocupação. O ar estava pesado, carregado com a decisão que ela acabara de anunciar, uma decisão que mudaria tudo.

"Então... Isabela?", sua mãe, Clara, perguntou suavemente, testando o novo nome na língua. Era estranho, como vestir uma roupa que não era sua.

"Sim, mãe. Isabela", Luana confirmou, a voz mais firme do que se sentia. "Luana precisa desaparecer por um tempo. Isabela é quem vai recomeçar."

Seu pai, Jorge, um homem de poucas palavras mas de um coração imenso, levantou-se e a abraçou com força. "Se é isso que você precisa para se curar, minha filha, nós estamos com você. Seremos a família de Isabela, assim como fomos a de Luana."

A gratidão a inundou, uma onda de calor em meio ao oceano de gelo que se tornara seu coração. Eles não faziam muitas perguntas, apenas ofereciam o apoio incondicional que sempre lhe deram. Deixar para trás sua identidade era uma despedida dolorosa, um enterro de todos os seus sonhos, mas era necessário.

Clara se juntou ao abraço, seu toque trazendo um conforto familiar. "Já arrumei o quarto de hóspedes para você, querida. Pense nisso como um novo começo. Uma nova cidade, uma nova vida. Ninguém aqui conhece seu passado."

Enquanto seus pais começavam a planejar os detalhes práticos de sua nova vida, a mente de Luana vagou para longe, para o centro da cidade, onde ela sabia que ele estava. O homem que destruiu seu mundo.

Em um dos restaurantes mais caros e badalados da cidade, Pedro estava de pé em um pequeno palco, o microfone na mão, o sorriso charmoso que um dia a fez se apaixonar estampado em seu rosto. As luzes dos celulares o iluminavam, gravando cada palavra.

"Muitos de vocês me conhecem como um homem de negócios", ele começou, sua voz ressoando pelo salão lotado. "Mas esta noite, eu sou apenas um homem apaixonado. Um homem que encontrou a mulher da sua vida e que vai se casar em poucos dias."

Um coro de "awns" e aplausos encheu o ambiente.

Luana não estava lá, mas não precisava. A cena se desenrolava em sua mente, alimentada por anos de familiaridade. Ela podia ver tudo, sentir a energia da multidão, a admiração nos olhos das pessoas.

"Esta canção é para você, meu amor. Luana, a mulher que me completa."

A melodia começou a tocar, uma música que ele sabia ser a favorita dela. A imagem pública de Pedro era impecável: o noivo devotado, o romântico incurável. Ninguém ali imaginava a verdade sombria que se escondia por trás daquela fachada.

Para Luana, cada nota daquela música era uma facada. A dor era tão física que ela teve que se apoiar na parede, o ar faltando em seus pulmões. Aquele homem, que agora declarava seu amor para o mundo, era o mesmo que a tinha destroçado. O contraste entre a imagem pública e a realidade privada era um veneno que queimava em suas veias.

Sua mente a traiu, puxando-a para uma lembrança de cinco anos atrás. Ela era uma jovem designer, recém-formada e cheia de sonhos, mas sem dinheiro ou contatos. Pedro, já um empresário em ascensão, a encontrou em uma pequena feira de moda. Ele viu seu talento, investiu nela, abriu portas que pareciam intransponíveis. Ele a ajudou a construir sua própria marca do zero, trabalhando noites a fio ao seu lado, celebrando cada pequena vitória como se fosse dele.

Ele não era apenas seu noivo, ele tinha sido seu parceiro, seu maior incentivador. Ele a fizera acreditar que o amor deles podia superar qualquer obstáculo.

A lembrança mais vívida veio em seguida, de um incêndio que quase a consumiu. Eles estavam visitando um fornecedor em um prédio antigo quando o fogo começou. A fumaça era densa, o pânico se instalou. Luana ficou presa sob uma viga que desabou. A dor em sua perna era excruciante, o calor insuportável. Ela pensou que ia morrer.

Então, através da fumaça escura, ele apareceu. Pedro, com o rosto coberto de fuligem e os olhos cheios de determinação. Ele se recusou a deixá-la. Com uma força que ela não sabia que ele possuía, ele levantou a viga o suficiente para que ela se arrastasse para fora. Ele a carregou através das chamas, protegendo-a com seu próprio corpo.

Mais tarde, no hospital, com queimaduras nos braços e nas costas, ele segurou a mão dela. "Eu nunca vou te deixar", ele sussurrou, a voz rouca. "Você é a minha luz na escuridão, Luana. Eu te amo mais que a minha própria vida."

Naquele momento, ela acreditou nele. Acreditou que seu amor era heroico, inabalável.

De volta ao presente, na segurança da casa de seus pais, essa memória se tornou uma tortura. A felicidade do passado agora servia apenas para ampliar a dor do presente. O herói que a salvou do fogo era o mesmo monstro que a jogou em um inferno emocional.

O som de uma notificação em seu celular a tirou de seu torpor. Ela olhou para a tela, seu coração afundando ao ver o nome. Sofia. Sua melhor amiga. Ou, pelo menos, quem ela pensava que era.

A mensagem era curta, direta e cruel.

"Ele está cantando para você, mas é em mim que ele pensa. Aproveite o show, querida."

Abaixo da mensagem, uma foto. Sofia, usando nada além de um sorriso presunçoso e a camisa de seda que Luana havia dado a Pedro de aniversário. A camisa que ele deveria estar usando naquela noite no restaurante.

A traição não era apenas de Pedro. Era dupla, mais profunda e mais cortante do que qualquer chama.

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