"Luana, meu amor, o que aconteceu? Você saiu tão de repente", ele disse, tentando colocar a mão em seu ombro.
Ela se encolheu, afastando-se de seu toque. "Preciso de um pouco de ar", ela conseguiu dizer, a voz fraca.
"Claro, claro", ele disse rapidamente. "Olha, eu preciso resolver uma coisa urgente no escritório. Uma emergência. Prometo que não demoro. Você me espera aqui, certo?"
Ele lhe deu um beijo rápido na testa, um gesto que pretendia ser carinhoso, mas que pareceu gelado e vazio. "Eu te amo", ele sussurrou antes de se virar e caminhar apressadamente de volta para dentro.
Luana não acreditou em uma única palavra. Da varanda, ela tinha uma visão clara da saída dos fundos do salão, a área de serviço. E, como ela esperava, alguns minutos depois, a figura esguia de Sofia saiu pela porta, olhando para o celular. Segundos depois, o carro de Pedro parou ao lado dela. Sofia entrou rapidamente, e o carro partiu, desaparecendo na noite.
A emergência. A mentira descarada, a traição acontecendo bem na sua frente, sem o menor pingo de vergonha. A visão quebrou a última barreira de controle que Luana possuía.
A dor em seu peito explodiu, uma dor física tão intensa que a fez dobrar-se ao meio. Ela correu para o banheiro de serviço, o mais longe possível da festa, e caiu de joelhos no chão frio. O vômito veio em espasmos violentos, seu corpo tentando expelir o veneno que a consumia. Ela tremia incontrolavelmente, o suor frio escorrendo por sua testa, a respiração vindo em soluços rasgados. Era a dor da alma se manifestando no corpo, uma agonia que parecia não ter fim.
Quando as convulsões finalmente pararam, ela ficou ali, no chão sujo, sentindo-se vazia, oca. Com as mãos trêmulas, ela pegou o celular. Ela precisava saber. Precisava da confirmação final, da prova irrefutável que aniquilaria qualquer resquício de dúvida ou esperança.
Ela havia instalado um pequeno gravador ativado por voz no chaveiro do carro de Pedro semanas atrás, depois que as primeiras suspeitas surgiram. Um ato de desespero que ela esperava nunca ter que usar. Agora, ela abriu o aplicativo conectado ao dispositivo. O áudio estava sendo transmitido ao vivo.
Ela colocou os fones de ouvido, o coração batendo dolorosamente contra as costelas.
A voz de Sofia encheu seus ouvidos, risonha e provocadora. "...você viu a cara dela? Parecia que ia desmaiar. Foi perfeito."
"Não fale assim dela, Sofia", a voz de Pedro respondeu, mas sem convicção.
"Ah, qual é, Pedro? Você adora isso. O perigo, o segredo. Você me deu a pulseira no mesmo dia em que comprou o colar para ela. No nosso quarto. Na nossa cama."
Houve um silêncio, seguido por sons que fizeram o estômago de Luana revirar. Sons de beijos, de roupas sendo remexidas. Sons íntimos, inconfundíveis. Ela forçou-se a continuar ouvindo, cada segundo uma nova camada de tortura.
"Eu te amo, Luana", a voz de Pedro disse, ofegante, entre os beijos.
O absurdo daquelas palavras, ditas para uma mulher enquanto ele estava com outra, foi a coisa mais grotesca que Luana já tinha ouvido.
"Você tem que dizer o nome dela?", Sofia reclamou. "Isso estraga o clima."
"É diferente", ele respondeu, a voz mais distante. "O que eu sinto por ela é... real. É para sempre. Você é... diversão. Você entende, não é?"
Diversão. A palavra ecoou na mente de Luana. Então era isso. Ele traía o amor "real e eterno" por diversão. A hipocrisia era tão profunda, tão absurda, que a dor se transformou em uma clareza fria e cortante. O amor que ele proclamava era oco, uma mentira que ele contava para si mesmo tanto quanto para ela.
Ela ouviu o som de uma notificação de mensagem no áudio. A voz de Pedro amaldiçoou baixinho. "Merda, é o rastreador do celular dela. Ela vai saber que estamos no mesmo lugar."
"Então desligue", sugeriu Sofia.
"Não posso. Ela ficaria desconfiada. Tenho que apagar o histórico de localização de hoje à noite assim que chegar em casa. Ela nunca vai saber."
Uma risada fria escapou dos lábios de Luana. Ele não fazia ideia. Ele não fazia ideia de que ela já sabia de tudo, que ela estava ouvindo cada palavra, cada som de sua traição.
Ela desligou o áudio. Chega.
Com uma determinação gélida, ela se levantou. Voltou para a festa, caminhando com a cabeça erguida, passando pelas pessoas que a parabenizavam, seus rostos sorridentes uma zombaria de sua dor. Ela foi até o palco vazio onde Pedro a havia humilhado com seu gesto grandioso.
Lá, ela arrancou o "Coração do Oceano" de seu pescoço. O fecho arranhou sua pele, mas ela não sentiu. Ela segurou o colar pesado em sua mão. Uma jornalista se aproximou, curiosa.
"Algum problema, Luana? O colar é magnífico."
Luana olhou para a mulher, depois para o colar em sua mão, e disse, com a voz clara e firme, "Está sujo."
"Sujo? Mas parece perfeito."
"Sim", Luana concordou, um sorriso vazio em seus lábios. "Mas é uma sujeira que não sai com a lavagem."
E com um movimento fluido, ela jogou a joia de milhões de dólares na lixeira mais próxima, junto com os restos de guardanapos e copos de plástico. O som do metal e dos diamantes batendo no fundo do lixo foi o som mais libertador que ela já tinha ouvido. Foi o som do fim.
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