"Darryl," a voz de Raegan era suave, quase um sussurro, enquanto lhe ajeitava o colarinho da camisa. "Estás pálido. Não dormiste bem?"
Ele estava na luxuosa mansão dela na Foz, um palácio com vista para o mar que contrastava violentamente com o seu pequeno apartamento em Gaia.
"Estou bem," mentiu ele. "Apenas a pensar num novo design."
Raegan sorriu, um sorriso que raramente mostrava em público. Ela passou os dedos pelo seu cabelo. "Não te esforces demasiado. Se precisares de inspiração, diz-me. Posso comprar-te qualquer atelier de moda em Paris."
Ele sabia que ela não estava a brincar. Uma vez, ele mencionou casualmente que gostava do vinho de uma pequena adega em Vila Nova de Gaia. Na semana seguinte, ela comprou a adega inteira e deu-lha.
Outra vez, ele apanhou uma febre ligeira. Raegan cancelou uma negociação de exportação multimilionária em Lisboa e voou de helicóptero para a quinta no Douro só para se sentar ao seu lado e lhe dar sopa.
No seu vigésimo aniversário, ela levou-o à Islândia para ver a aurora boreal. Sob as luzes dançantes no céu, ela abraçou-o com força.
"Prometo, Darryl. Estarei sempre aqui para ti."
Ele acreditou nela. Acreditou que a sua gentileza, a sua proteção, era amor. Como poderia não acreditar? Ele era jovem, ingénuo, e desesperadamente grato. O dinheiro que ela lhe dava salvou a vida da sua mãe, e o carinho que ela lhe mostrava salvou a sua alma.
Até que Conrad Gordon regressou.
Estavam sentados numa esplanada à beira-rio, o sol da tarde a brilhar na água do Douro. Darryl estava a desenhar num caderno quando uma sombra caiu sobre a sua mesa.
"Então, tu és o novo brinquedo dela."
A voz era arrogante, cheia de desdém. Darryl levantou o olhar e viu um homem alto, impecavelmente vestido, com um sorriso trocista nos lábios. Era Conrad Gordon, o famoso arquiteto. O ex-namorado de Raegan.
"Não sei do que estás a falar," respondeu Darryl, a sua mão a apertar a caneta.
Conrad riu-se, um som desagradável. "Claro que sabes. Raegan sempre teve um fraquinho por artistas sensíveis. Deixa-me adivinhar, ela mima-te, faz-te sentir especial?"
Ele não esperou por uma resposta. "Ela levou-te a ver a aurora boreal? Prometeu estar sempre contigo? Comprou a tua adega favorita?"
Cada pergunta era uma facada. O sangue fugiu do rosto de Darryl. Como é que ele sabia?
Conrad inclinou-se, a sua voz baixando para um sussurro conspiratório. "Porque ela fez tudo isso por mim primeiro. Tu, meu rapaz, és apenas um substituto. Uma cópia barata."
"Isso não é verdade," gaguejou Darryl, o seu coração a bater descontroladamente.
"Não? Vamos fazer uma aposta," disse Conrad, tirando o telemóvel do bolso. "Eu vou enviar-lhe uma mensagem a dizer que o meu carro avariou na Ponte da Arrábida. Tu," ele apontou para Darryl, "envias uma a dizer que tiveste um acidente de mota e estás ferido."
A mão de Darryl tremia enquanto pegava no seu próprio telemóvel. Era uma ideia estúpida, cruel. Mas ele precisava de saber.
Ele escreveu a mensagem, o seu polegar a pairar sobre o botão de enviar.
"Envia," ordenou Conrad.
Darryl enviou. Conrad enviou a sua um segundo depois.
Eles esperaram em silêncio. O telemóvel de Darryl permaneceu mudo. Um minuto depois, o telemóvel de Conrad vibrou. Ele virou o ecrã para Darryl.
A mensagem de Raegan era clara: "Onde estás? Estou a ir para aí agora. Não te mexas."
O estômago de Darryl revirou-se. Ele olhou para o seu próprio telemóvel. Nenhuma resposta. Nenhuma chamada perdida. Nada. A sua mensagem, a sua mentira sobre estar ferido, tinha sido completamente ignorada.
A ilusão estilhaçou-se. O calor do sol da tarde de repente pareceu frio.
Conrad sorriu, vitorioso. "Vês? Ela nunca te amou. És apenas um eco do que nós tínhamos."
Ele tirou um talão de cheques da sua carteira de pele. Escreveu um número, assinou-o com um floreio e empurrou-o pela mesa.
Cinco milhões de euros.
"Pega nisto e desaparece," disse Conrad. "Ela é minha. Sempre foi."
Darryl olhou para o cheque, depois para o rosto triunfante de Conrad. A dor era tão intensa que mal conseguia respirar. Ele não era amado. Era uma ferramenta. Um substituto.
Ele pegou no cheque. A sua mão não tremia mais. Estava fria, firme.
"Vou desaparecer," disse ele, a sua voz vazia de emoção.
Mais tarde naquela noite, a chuva começou a cair sobre o Porto. Uma chuva fria e implacável, tal como a verdade que ele tinha acabado de aprender.
Darryl estava de pé em frente a um caixote do lixo, encharcado até aos ossos. Na sua mão estava o fato de gala exclusivo que passara semanas a desenhar e a costurar. Era o seu presente para o próximo aniversário de Raegan.
Ele olhou para a peça de roupa, um símbolo de todo o seu amor e dedicação equivocados.
Com um gesto lento e deliberado, ele deixou-o cair no lixo molhado.
A chuva lavava as suas lágrimas, mas não conseguia limpar a humilhação. Conrad não se contentou com a sua vitória silenciosa. Ele queria esfregá-la na sua cara.
No dia seguinte, Raegan ligou. A sua voz era casual, como se nada tivesse acontecido.
"Darryl, o Conrad vai ficar na mansão por uns tempos. A casa dele está em obras. Espero que não te importes."
Darryl sentiu o seu estômago apertar. "Não, claro que não."
Ele não tinha o direito de se importar. Ele era apenas o amante contratado.