Tentei improvisar, mas meu corpo estava treinado para outra coreografia. Meus movimentos eram confusos, desajeitados. O painel de jurados, incluindo o Mestre Moreau e minha própria avó, uma lenda da dança aposentada, me observava com uma mistura de pena e desprezo. O silêncio da plateia era ensurdecedor.
"Chega!" , a voz do Mestre Moreau cortou o ar. "Senhorita Ana, o que você pensa que está fazendo? Isso é uma piada?"
Eu estava humilhada. As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu saía correndo do palco, passando pelos meus traidores.
Fui oficialmente desqualificada. Meu sonho, feito em pedaços na frente de todos.
Mais tarde, sentada no vestiário vazio, Sofia entrou.
"Ana, eu sinto muito! Foi terrível" , ela disse, abraçando-me. O cheiro de seu perfume me enjoou. "Eu não entendo o que aconteceu. Mas não se preocupe, eu vou falar com o Mestre Moreau, vou tentar te ajudar" .
A falsidade dela era tão espessa que eu quase podia tocá-la.
"Obrigada, Sofia" , murmurei, jogando o jogo dela. "Você é uma boa amiga" .
Ela sorriu, satisfeita.
"Claro que sou. Agora, vamos sair daqui. Pedro está nos esperando. Vamos tomar um ar" .
Eu a segui, meu coração uma pedra de gelo. Eles me levaram para uma área dos fundos do teatro, um lugar que eu não conhecia, supostamente um atalho para o estacionamento. Era um corredor escuro e empoeirado, cheio de cenários antigos e adereços.
"Acho que a porta está por aqui" , disse Pedro, apontando para o final do corredor.
De repente, ele agarrou a mão de Sofia e começou a correr na direção oposta, de volta por onde viemos.
"Ei, esperem!" , gritei.
Ouvi o som de uma porta pesada batendo e o clique de uma fechadura.
Eles me trancaram.
O pânico me atingiu. Gritei, bati na porta, mas ninguém respondeu. Eu estava sozinha, no escuro, em um labirinto de madeira e lona velhas. O cheiro de mofo era sufocante.
Por horas, vaguei por aquele lugar, meu tornozelo torcendo dolorosamente quando tropecei em um cabo solto. A dor era aguda, mas a raiva era mais forte. Eles não apenas sabotaram meu sonho, eles me abandonaram para apodrecer aqui.
Finalmente, encontrei uma pequena janela de ventilação perto do teto. Com a adrenalina pulsando, empilhei caixas velhas, subi com dificuldade e consegui quebrar o vidro enferrujado com a minha sapatilha. O espaço era minúsculo, mas eu me contorci e me arrastei para fora, caindo em um beco sujo nos fundos do teatro.
Estava machucada, suja e exausta. Mas enquanto eu mancava para casa sob a luz fraca dos postes, uma única certeza queimava dentro de mim. Isso não tinha acabado. Estava apenas começando. A vingança seria minha.