"Eu quero o divórcio, Lucas."
As palavras saíram, claras e firmes, cortando a tensão no quarto.
A Senhora Helena foi a primeira a reagir.
"Divórcio? Não sejas ridícula. Os Matias não se divorciam. Pensa na reputação da família."
"A vossa reputação?" Ri-me, sentindo uma estranha sensação de libertação. "A vossa reputação foi para o lixo no momento em que permitiram que esta mulher entrasse na minha casa."
Apontei para a Clara, que se encolheu sob o meu olhar.
O Senhor Matias deu um passo à frente, o seu rosto vermelho de fúria.
"Como te atreves a falar assim connosco? Depois de tudo o que fizemos por ti?"
"O que fizeram por mim? Deram-me um marido que me trai? Uma família que me desrespeita? Não, obrigada. Podem ficar com tudo."
Virei-me para o Lucas. "Eu quero o divórcio. Vou contactar o meu advogado amanhã."
O Lucas agarrou-me no braço, a sua força a surpreender-me.
"Sofia, não podes estar a falar a sério. Estamos a passar por um momento difícil. Não tomes decisões precipitadas."
"Precipitadas?" Puxei o meu braço do seu aperto. "A única decisão precipitada que tomei foi casar contigo."
A sua expressão endureceu. "Se é assim que te sentes, então talvez o divórcio seja o melhor."
A sua concordância rápida foi como um soco no estômago, mesmo que fosse o que eu queria.
Isso só provava o quão pouco eu significava para ele.
"Ótimo," disse eu, a minha voz a tremer ligeiramente. "Vou fazer as minhas malas."
Subi as escadas, sentindo os seus olhos em mim. A Eva seguiu-me, fechando a porta do quarto atrás de nós.
"Sofia..." ela começou, a sua voz cheia de pena.
"Não," interrompi-a, abrindo o armário. "Não digas nada. Eu estou bem."
Mas não estava. O meu corpo tremia enquanto eu tirava as minhas roupas das gavetas, atirando-as para uma mala.
Cada item era uma memória. O vestido que usei no nosso primeiro encontro. A camisola que ele me deu no Natal.
Eram todas mentiras.
A Eva ajudou-me em silêncio, a sua presença um conforto silencioso.
Vinte minutos depois, a minha mala estava feita.
Quando desci as escadas, a sala estava vazia, exceto pelo Lucas. A Clara e os pais dele tinham desaparecido.
Ele estava de pé junto à janela, a olhar para a escuridão.
"Onde vais ficar?" perguntou ele, sem se virar.
"Com a Eva," respondi.
Ele acenou com a cabeça, ainda de costas para mim.
"Sofia... sobre o bebé... eu..."
"Não," cortei-o, a minha voz afiada. "Não te atrevas a falar do meu bebé. Tu perdeste esse direito."
Ele finalmente virou-se, o seu rosto uma mistura de dor e confusão.
"Eu lamento," disse ele.
"É tarde demais para lamentar, Lucas. É tarde demais para tudo."
Passei por ele e saí pela porta da frente sem olhar para trás.
A Eva seguiu-me, fechando a porta da minha antiga vida atrás de mim.
O ar da noite estava frio, mas pela primeira vez em muito tempo, eu senti que podia respirar novamente.
---