O Senhor Alves levantou uma sobrancelha. "Sofia, a família Matias é extremamente rica. A empresa deles cresceu exponencialmente nos últimos cinco anos. Tens direito a uma parte significativa disso."
"Eu sei. Mas esse dinheiro vem com amarras. Vem com a família dele. Eu só quero a minha liberdade."
Ele suspirou. "Como queiras. Mas aconselho-te a reconsiderar. Esta é uma questão de princípio."
"O princípio é que ele me traiu e me deixou quase morrer. O dinheiro não pode consertar isso."
O Senhor Alves acenou com a cabeça, compreendendo. "Está bem. Vou redigir os papéis do divórcio declarando que abdicas de todos os bens matrimoniais. Mas ele terá de concordar com isso."
"Ele vai concordar," disse eu com confiança. "Para ele, será um preço pequeno a pagar para se livrar de mim e ficar com a Clara."
Uma semana depois, o Senhor Alves ligou-me.
"O advogado do Lucas contactou-me. Eles concordam com os teus termos."
Senti uma onda de alívio. Estava quase a acabar.
"Eles querem marcar uma reunião para assinar os papéis na próxima semana," continuou o Senhor Alves. "No escritório deles."
"Está bem," concordei.
A Eva não ficou feliz quando lhe contei.
"Estás a desistir de tudo, Sofia! Isso não é justo! Tu ajudaste-o a construir aquela empresa. Estiveste lá para ele."
"E para quê, Eva? Para ele me descartar pela primeira ex-namorada que apareceu a chorar? Não, eu não quero o dinheiro sujo deles."
No dia da assinatura, vesti um vestido simples e apanhei o cabelo. Queria parecer calma e controlada.
A Eva insistiu em ir comigo.
O escritório de advogados dos Matias era opulento e intimidante, todo em mogno escuro e couro.
O Lucas já lá estava, sentado à enorme mesa de conferências. Os seus pais estavam ao seu lado, parecendo juízes num tribunal.
A Clara não estava lá, o que foi um pequeno alívio.
O advogado do Lucas, um homem de ar arrogante chamado Dr. Campos, empurrou uma pilha de papéis pela mesa na minha direção.
"Senhora Sofia, por favor, reveja e assine," disse ele num tom condescendente.
O meu advogado, o Senhor Alves, pegou nos papéis primeiro, lendo-os cuidadosamente.
Eu mantive o meu olhar fixo no Lucas. Ele não encontrou o meu olhar, mantendo os olhos na mesa.
Ele parecia cansado, mais velho do que os seus trinta e dois anos. Havia uma sombra de culpa no seu rosto, ou talvez fosse apenas a minha imaginação.
"Está tudo em ordem," disse o Senhor Alves, passando-me os papéis e uma caneta.
A minha mão tremia ligeiramente enquanto pegava na caneta.
Esta era a decisão final. O fim de um capítulo.
Respirei fundo e comecei a assinar o meu nome, página após página.
Quando terminei, empurrei os papéis de volta para o centro da mesa.
"Está feito," disse eu, a minha voz mais forte do que esperava.
Levantei-me, pronta para ir embora.
"Espera," disse o Lucas, a sua voz baixa.
Olhei para ele.
Ele finalmente levantou a cabeça, e os seus olhos encontraram os meus.
"Eu quero que fiques com o apartamento da baixa. E o carro."
A Senhora Helena ofegou. "Lucas! Qual é o significado disto? Ela disse que não queria nada!"
O Lucas ignorou-a, o seu olhar fixo em mim.
"É o mínimo que posso fazer," disse ele.
Senti um lampejo de raiva.
"Guardas a tua caridade para a tua amante," cuspi eu. "Eu não preciso de nada de ti."
Virei-me e saí da sala, com a Eva logo atrás de mim.
Não olhei para trás.
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