Meu Filho, Minha Estrela-Guia
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Capítulo 1

Quando abri os olhos, o cheiro a desinfetante invadiu-me as narinas. O meu namorado, Tiago, estava ao lado da cama, a descascar uma maçã com uma concentração que nunca lhe tinha visto.

"Acordaste, Eva. Como te sentes?"

A sua voz era suave, mas eu sentia uma distância fria.

A minha perna direita estava engessada, pendurada numa estrutura metálica. A dor era uma presença constante e latejante.

"O que aconteceu... ao bebé?", perguntei, com a voz rouca.

Tiago parou de cortar a maçã. Não me olhou nos olhos.

"O médico disse que tiveste sorte em sobreviver, Eva. Foi um acidente grave."

A sua resposta evasiva foi como um soco no estômago. O meu peito apertou.

"Tiago, o nosso bebé."

Ele finalmente levantou a cabeça. Os seus olhos estavam vazios de qualquer emoção que eu conseguisse reconhecer.

"Não tivemos escolha. Os médicos tiveram de te salvar a ti."

As lágrimas que eu não sabia que estava a segurar começaram a escorrer pelo meu rosto, quentes e silenciosas. O nosso filho, o nosso bebé tão desejado, tinha-se ido.

O meu telemóvel tocou na mesa de cabeceira. Era a minha mãe.

"Filha! Estás bem? O Tiago disse-me que tiveste um acidente! Como está o bebé?"

A voz dela estava cheia de pânico. Não consegui responder. O telemóvel caiu da minha mão trémula. Tiago apanhou-o.

"Olá, sogra. Sim, a Eva está estável. Mas... perdemos o bebé. Foi necessário para a cirurgia dela."

Houve um silêncio do outro lado, seguido por um soluço abafado.

"Vou já para aí!", disse a minha mãe, com a voz embargada.

Tiago desligou a chamada e colocou o telemóvel de volta na mesa.

"Ela vem a caminho", disse ele, simplesmente, e voltou a pegar na maçã, como se nada tivesse acontecido.

Mas algo tinha acontecido. O mundo como eu o conhecia tinha acabado.

"Quem te ligou antes do acidente, Tiago?", perguntei, a minha voz a tremer. "Eu ouvi o telemóvel. Estavas a discutir com alguém."

Ele enrijeceu.

"Não era ninguém importante. Apenas trabalho."

"Não mintas para mim. Eu vi a chamada. Era a 'Lia'."

O nome pairou no ar entre nós, pesado e feio. Lia. A sua ex-namorada. A mulher que ele jurou ter deixado para trás.

"Não vamos falar sobre isso agora, Eva. Precisas de descansar."

"Eu preciso da verdade!", insisti, a minha voz a subir de tom. "Estavas ao telemóvel com ela quando o carro bateu, não estavas?"

Ele atirou a faca e a maçã para o prato com um barulho seco.

"Sim! Estava! Satisfeita? Ela ligou-me a chorar, a dizer que o pai dela estava a morrer. O que querias que eu fizesse? Que a ignorasse?"

"E por isso desviaste os olhos da estrada? Por causa dela? E o nosso filho morreu por causa disso!"

O grito saiu rasgado da minha garganta. A dor na minha perna não era nada comparada com a dor que me rasgava por dentro.

Ele não respondeu. Apenas ficou ali, a olhar para mim, o seu rosto uma máscara de raiva e culpa.

Naquele momento, eu soube. Soube que não tinha perdido apenas o meu filho. Tinha perdido tudo.

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