Meu Filho, Minha Estrela-Guia
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Capítulo 2

A minha mãe chegou como um furacão de preocupação, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.

"Minha filha! Oh, minha querida!"

Ela abraçou-me com força, e eu desabei nos seus braços, a chorar como não chorava desde criança.

Tiago ficou no canto do quarto, desconfortável, um estranho na nossa dor.

"Vou buscar um café", murmurou ele, e saiu, deixando-nos a sós.

A minha mãe afastou-se e olhou para a minha perna.

"O médico disse que vais precisar de fisioterapia. Vai ser um longo caminho, mas vais ficar bem."

Ela segurou a minha mão com força.

"E nós vamos superar isto. Juntas."

Assenti, incapaz de falar. O seu apoio era a única coisa que me mantinha à tona.

Mais tarde, enquanto a minha mãe dormitava numa cadeira ao meu lado, peguei no meu telemóvel. As minhas mãos tremiam, mas eu precisava de saber.

Abri as redes sociais de Lia. O seu perfil era público.

A última publicação era de há poucas horas. Uma fotografia dela a segurar a mão de um homem mais velho numa cama de hospital. A legenda dizia: "Aguenta, pai. Precisamos de ti. Obrigada, Tiago, por estares aqui. Não sei o que faria sem ti."

O meu sangue gelou.

Ele não estava a ir buscar um café. Ele estava com ela. Tinha-me deixado aqui, depois de matar o nosso filho, para ir consolar a mulher que causou tudo isto.

A porta do quarto abriu-se e Tiago entrou. Ele trazia dois cafés na mão.

"A tua mãe estava a dormir, pensei em trazer um para ti", disse ele, com uma tentativa de sorriso.

"Estavas com ela", afirmei, a minha voz fria como gelo.

Ele parou. A sua expressão mudou.

"Eva, o pai dela está muito mal."

"O nosso filho está morto."

As palavras saíram diretas, sem emoção. Eu sentia-me oca por dentro.

"Não é a mesma coisa", disse ele, baixando a voz.

"Não, não é. O pai dela viveu a sua vida. O nosso filho nem sequer teve a oportunidade de respirar."

Levantei o telemóvel e mostrei-lhe a publicação.

"Ela agradece-te publicamente. Enquanto a tua noiva, a mãe do teu filho morto, está aqui sozinha."

Tiago passou a mão pelo cabelo, um gesto de frustração.

"O que queres que eu faça? Ela está sozinha, a passar por um momento terrível!"

"E eu? Eu não estou a passar por um momento terrível? A minha perna está partida, o meu filho morreu, e tu preocupas-te com ela!"

A minha mãe acordou com os nossos gritos.

"O que se passa?", perguntou ela, atordoada.

"O que se passa, mãe, é que o teu futuro genro estava a falar com a ex-namorada ao telemóvel quando teve o acidente. E agora, em vez de estar aqui a apoiar-me, ele foi ter com ela ao hospital."

A minha mãe olhou para Tiago, o seu rosto endurecendo.

"Isso é verdade, Tiago?"

Ele não conseguiu encarar o olhar dela.

"O pai dela..."

"Sai", disse a minha mãe, a sua voz baixa e perigosa. "Sai deste quarto agora."

Tiago olhou para mim, uma última vez, como se esperasse que eu o defendesse.

Eu desviei o olhar.

Ele virou-se e saiu, fechando a porta atrás de si. O som do clique pareceu o fim de um capítulo da minha vida.

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