A minha mãe chegou como um furacão de preocupação, com os olhos vermelhos e inchados de tanto chorar.
"Minha filha! Oh, minha querida!"
Ela abraçou-me com força, e eu desabei nos seus braços, a chorar como não chorava desde criança.
Tiago ficou no canto do quarto, desconfortável, um estranho na nossa dor.
"Vou buscar um café", murmurou ele, e saiu, deixando-nos a sós.
A minha mãe afastou-se e olhou para a minha perna.
"O médico disse que vais precisar de fisioterapia. Vai ser um longo caminho, mas vais ficar bem."
Ela segurou a minha mão com força.
"E nós vamos superar isto. Juntas."
Assenti, incapaz de falar. O seu apoio era a única coisa que me mantinha à tona.
Mais tarde, enquanto a minha mãe dormitava numa cadeira ao meu lado, peguei no meu telemóvel. As minhas mãos tremiam, mas eu precisava de saber.
Abri as redes sociais de Lia. O seu perfil era público.
A última publicação era de há poucas horas. Uma fotografia dela a segurar a mão de um homem mais velho numa cama de hospital. A legenda dizia: "Aguenta, pai. Precisamos de ti. Obrigada, Tiago, por estares aqui. Não sei o que faria sem ti."
O meu sangue gelou.
Ele não estava a ir buscar um café. Ele estava com ela. Tinha-me deixado aqui, depois de matar o nosso filho, para ir consolar a mulher que causou tudo isto.
A porta do quarto abriu-se e Tiago entrou. Ele trazia dois cafés na mão.
"A tua mãe estava a dormir, pensei em trazer um para ti", disse ele, com uma tentativa de sorriso.
"Estavas com ela", afirmei, a minha voz fria como gelo.
Ele parou. A sua expressão mudou.
"Eva, o pai dela está muito mal."
"O nosso filho está morto."
As palavras saíram diretas, sem emoção. Eu sentia-me oca por dentro.
"Não é a mesma coisa", disse ele, baixando a voz.
"Não, não é. O pai dela viveu a sua vida. O nosso filho nem sequer teve a oportunidade de respirar."
Levantei o telemóvel e mostrei-lhe a publicação.
"Ela agradece-te publicamente. Enquanto a tua noiva, a mãe do teu filho morto, está aqui sozinha."
Tiago passou a mão pelo cabelo, um gesto de frustração.
"O que queres que eu faça? Ela está sozinha, a passar por um momento terrível!"
"E eu? Eu não estou a passar por um momento terrível? A minha perna está partida, o meu filho morreu, e tu preocupas-te com ela!"
A minha mãe acordou com os nossos gritos.
"O que se passa?", perguntou ela, atordoada.
"O que se passa, mãe, é que o teu futuro genro estava a falar com a ex-namorada ao telemóvel quando teve o acidente. E agora, em vez de estar aqui a apoiar-me, ele foi ter com ela ao hospital."
A minha mãe olhou para Tiago, o seu rosto endurecendo.
"Isso é verdade, Tiago?"
Ele não conseguiu encarar o olhar dela.
"O pai dela..."
"Sai", disse a minha mãe, a sua voz baixa e perigosa. "Sai deste quarto agora."
Tiago olhou para mim, uma última vez, como se esperasse que eu o defendesse.
Eu desviei o olhar.
Ele virou-se e saiu, fechando a porta atrás de si. O som do clique pareceu o fim de um capítulo da minha vida.
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