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Jonathan Campos
Naquele dia, numa noite quente de sábado, olhei para o céu, bebi uma garrafa de vodca e senti o líquido escorrer pela minha garganta. Nunca percebi quantas estrelas brilham nos céus das grandes cidades. Não sou esse tipo de rapaz, fraco e sensível, muito menos olhando as estrelas, mas quando levantei a cabeça e bebi o último copo da garrafa, vi a luz delas naquele exato momento, e por alguns segundos as estrelas me encantaram.
- O céu está lindo hoje – Carol me abraçou por trás e enterrou o rosto nas minhas costas largas – vamos sair daqui, para um lugar só nosso?
Afastei as mãos dela, não tendo tempo para ser sentimental, e recuei um pouco desorientado.
- A festa ainda não começou, gatinha – disse e fui caminhando para o interior da casa.
Gosto da estupidez de Carol por me conhecer há tanto tempo e ainda acreditar que pode me conquistar. Não pertenço a ninguém, mas numa noite como esta, todas podem ser minhas. O som era alto. Entrei na sala onde a festa realmente aconteceu e vi uma linda morena do outro lado da sala. Com certeza a coisa mais linda que já vi na vida. Atravessei a sala para encontrá-la, que sorriu enquanto segurava um copo em uma das mãos. Não consegui distinguir o que era a bebida, mas parecia alegre e irresistivelmente sedutora. Encontrei um ou dois rapazes pelo caminho que olharam para mim para mostrar que não gostavam da minha presença. Abri um sorriso para eles, e isso os deixou ainda mais zangados. Eu me perguntei: o que há de errado em ser tão popular no grupo? Mais dois passos e eu estava na frente dela. Cabelos longos e cacheados, olhos escuros, pele morena e usava um vestido preto decotado. Esse é o tipo de garota de que gosto, ousada, bonita e atraente. Ele me olhou diretamente nos olhos e seu sorriso desapareceu.
- Oi – o volume alto da música ao fundo quase abafou a minha voz.
- Você é o Jonathan Campos? - ela se aproximou e sussurrou no meu ouvido. Seu hálito quente fez os pelos do meu corpo se arrepiarem - está aqui de penetra?
Eu sorri. Ninguém faz uma festa nessa cidade e não me convida, fica sem punição.
- Sou eu – aproximei meu corpo do dela e também falei baixo no seu ouvido – está acompanhada?
- Você é muito corajoso – ela me olhou e bebeu um gole da bebida – o Ravi sabe que você está aqui?
- Todos sabem que estou aqui – ela sorri, mas não sei decifrar se é um sorriso engraçado ou zombador – quer sair para podermos conversar melhor?
- Não acho uma boa ideia – ela diz e imediatamente seu olhar se desvia para algo ou alguém atrás de mim. Sua expressão muda, me avisando que entrei em uma enrascada.
- O que você está fazendo aqui? Você não é bem-vindo.
Eu quase não escutei o que ele dizia, mas senti sua mão pousar em um dos meus ombros. Eu conhecia aquela voz. Me virei e meus olhos se chocaram com os de Ravi, que tinha uma expressão furiosa no rosto.
- Eu nunca fui muito bem-vindo em lugar algum. Mas isso não significa que eu não possa ficar aqui, não é?
Ele fechou o punho já pronto para me socar, mas a moça o impediu.
- É inútil, Ravi – ela segurou em um dos braços dele.
Ele continuava com a expressão contrariada no rosto. Eu sabia do motivo do Ravi me odiar tanto e isso se estendia desde o tempo do colegial, quando ele me viu beijando a garota pela qual ele era apaixonado, e depois disso ouvi-la dizer que também gostava de mim. Desde então, criou uma disputa contumaz pela qual só existia na cabeça dele e de mais ninguém. Era obcecado em provar que podia ser melhor do que eu em tudo.
- Sua namorada é uma gata – ironizei só para provocá-lo - está com medo dela se apaixonar por mim também, Ravi?
- Não se meta com ela – seu punho continuava fechado.
- Ou o quê? – Minha expressão mudou. Meu maxilar se contraiu.
- Eu não sou namorada dele - ela se meteu entre a gente - e também não quero confusões aqui.
Ravi não disse nada. Me olhou como se estivesse me avaliando e logo em seguida segurou no braço da garota e saiu, compelindo-a para fora da casa. Fui atrás. A moça não resistiu, foi com ele, como se soubesse que essa era a melhor decisão.
- Já que ela não é a sua namorada – falei, e ele parou no meio do quintal, ainda segurando no braço dela – não vai se importar que eu fique com ela essa noite.
- Nem por cima do meu cadáver. – Ele se virou e olhou para mim.
- Não seja por isso – me aproximei – te desafio a uma corrida. O perdedor desiste de conquistá-la.
- Meu nome é Natália – ela nos interrompeu – e eu não sou um troféu para ser disputado pelos rapazes, então esquece.
- Eu aceito – Ravi disse de imediato.
- É o quê? – Natália pareceu não acreditar – por Deus, você não pode fazer isso, Ravi.
- Te vejo lá fora – ele ignorou a Natália completamente e eu percebi o quanto ele era incansável em disputar qualquer coisa comigo.
- Vou ganhar de você – ofereci um sorriso provocador – sabe disso, não é?
- Veremos – ele encostou um dos dedos sobre o meu peito e o empurrou levemente.
Me olhou pela última vez e caminhou para fora da casa. Natália observava tudo sem acreditar, mas não gesticulava, voltando em seguida para a festa. Sei que, mesmo que eu ganhasse essa corrida, provavelmente não ficaria com ela, mas desafiar o Ravi e vencê-lo mais uma vez seria como se tivesse feito.
Precisava de uma bebida, eu acreditava. Caminhei de volta à festa, enchi um copo com uma batida de vodca misturada com outra coisa e, quando estava pronto para a diversão, observei a Carol correndo atrás de mim.
- Que história é essa de corrida? – ela tinha os cabelos curtos e negros.
Vestia um vestido preto, mas Carol não era tão atraente como as outras garotas da festa.
- As notícias voam – eu disse, voltando a caminhar para fora da casa – é só uma corrida de carro.
- Arriscado demais – ela continuou.
Tomei um gole da bebida e achei estranho o gosto.
Observei o Ravi, encostado no carro, esperando. Tomei outro gole, estava quente e não gostei daquilo misturado com a vodca.
- Por qual motivo? – Ela me perguntou e eu demorei a entender.
- Da corrida? – Perguntei e sei que ela não vai gostar da resposta – conquistar uma garota.
O rosto de Carol se transformou em tristeza, mas eu não me importei. Minha atenção estava totalmente voltada para a bebida, mas desisti de tentar degustá-la. Levantei o copo e joguei o líquido por cima dos meus ombros, por trás. Segundos depois, percebi que acertei alguém atrás de mim.
Me virei e meus olhos se chocaram com os dela. Eles eram azuis e brilhavam em minha direção. Ela vestia um vestido azul-turquesa com mangas bufantes. Seus cabelos eram compridos e claros. Havia uma expressão de surpresa e ódio em seu semblante.
- Olha o que você fez, seu imbecil – sua voz era doce, mas o timbre mudou quando ela disse isso com raiva.
- Estou vendo – soltei um sorriso baixo, percebendo que fiz até mesmo o Ravi sorrir – se quiser, te ajudo a se secar.
- Não se aproxime de mim – suas bochechas encarnaram. Tinha algo nela que me incomodava – você obviamente faz parte de toda essa confusão.
- O Ravi não te convidou? – Ironizei e isso pareceu deixá-la mais furiosa ainda.
- Não gosto desse tipo de festa – tentou se secar e eu continuei rindo – e você não faz o meu tipo.
O sorriso desapareceu do meu rosto. Travei o maxilar. Ela me olhou mais uma vez, mas eu não gostei do que vi em seus olhos. Tinha algo naquela mulher que me irritou e eu quis nunca mais vê-la em minha vida. Ela caminhou em minha direção, passou por mim, seu braço roçou no meu, seu perfume era doce e pareceu ficar impregnado em mim. Ela era louca, mas cheirava bem.
Pela primeira vez naquele dia, eu fiquei irado de verdade.