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No dia seguinte, Sofia apareceu no hospital.
Ela era exatamente como eu imaginava: jovem, bonita, com um sorriso que não alcançava os olhos. Carregava uma sacola de uma confeitaria famosa.
"Lívia, o Lucas me pediu para trazer suas coisas. E eu trouxe um doce para você se sentir melhor."
Ela colocou a caixa na mesinha de cabeceira e a abriu, revelando um bolo de coco perfeitamente decorado.
Eu olhei para o bolo.
Eu odeio coco. Sempre odiei. Em sete anos, Lucas nunca se esqueceu disso. Ele sempre tirava sarro de como eu fazia careta só de sentir o cheiro.
"Obrigada" , eu disse, a voz neutra. "Mas sou alérgica a coco."
O sorriso de Sofia vacilou por um segundo.
"Oh! Que pena. O Lucas disse que era o seu favorito."
Claro que ele disse.
Mais tarde, meu celular tocou. Era Lucas.
"Você já superou o drama? Preciso que você assine uns papéis do apartamento, estou pensando em usar como garantia para um novo investimento."
A frieza em sua voz era inacreditável. Eu ainda estava no hospital, me recuperando de um acidente que matou nosso filho, e ele estava falando de investimentos.
"Lucas, eu acabei de passar por uma cirurgia. Você pode esperar?"
"É rápido, Lívia. Não seja tão sensível."
De repente, ouvi uma risada feminina no fundo. Uma risada alta e um pouco forçada. A risada de Sofia.
A voz de Lucas mudou instantaneamente, tornando-se mais suave, quase brincalhona.
"Sofia, para com isso. Estou no telefone."
Ele se despediu de mim apressadamente e desligou.
Eu fiquei olhando para o celular em minha mão, a tela escura refletindo meu rosto sem expressão. A humilhação era um gosto amargo na minha boca.
Horas depois, sem conseguir dormir, peguei meu celular e abri o Instagram por puro hábito. A primeira postagem no meu feed era da página da empresa de Lucas.
Uma foto de uma "celebração de equipe" .
Lá estava ele, no centro da foto, sorrindo para a câmera. Ao seu lado, com um braço possessivamente em volta de sua cintura, estava Sofia.
Ela usava uma saia preta curta e justa. A mesma saia da mensagem de texto.
A legenda, claramente escrita por Lucas, dizia: "Comemorando o sucesso com a equipe que faz acontecer. Um agradecimento especial à Sofia por sua dedicação e energia contagiante, que nos impulsiona a ir sempre além."
O ar pareceu ser sugado dos meus pulmões.
Não era apenas uma traição privada. Era uma declaração pública. Ele não estava apenas me enganando, estava me substituindo diante de todos. Nossos amigos em comum, colegas de trabalho, todos veriam aquilo.
Eu esperava sentir uma onda de dor, lágrimas, desespero.
Mas não senti nada.
Apenas um frio que se espalhou por minhas veias.
Fechei o Instagram. Abri meu e-mail.
Com uma calma que me surpreendeu, anexei meu currículo e portfólio a uma nova mensagem. O destinatário era o gerente de RH da "Doce Sonho" , a maior concorrente da empresa de Lucas no ramo de confeitaria de luxo.
O assunto: "Candidatura para a vaga de Chef de Confeitaria."
No corpo do e-mail, escrevi uma breve apresentação, destacando minha experiência e minha paixão.
Cliquei em "enviar" .
O pequeno som de notificação do e-mail sendo enviado foi o som mais libertador que eu já tinha ouvido.
Naquela noite, eu não chorei por Lucas. Eu não chorei pelo nosso passado. Eu planejei meu futuro. Um futuro sem ele.