A Dor do Adeus
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Capítulo 3

Recebi alta dois dias depois. Lucas veio me buscar.

Ele abriu a porta do carro para mim, um gesto que ele não fazia há anos. Em sua mão, um copo de café.

"Trouxe para você" , ele disse, com um sorriso que parecia ensaiado. "Sei que você gosta assim, forte, como você."

Peguei o copo. Estava quente. Abri a tampa e o cheiro forte de café preto puro subiu.

Eu olhei para o líquido escuro, depois para ele.

"Lucas, há sete anos eu tomo café com leite e dois açúcares."

O sorriso dele desapareceu.

"Ah. Eu... eu esqueci. Achei que você tinha mudado."

"Não, eu não mudei" , respondi, colocando o copo intocado no porta-copos. "Você que parou de prestar atenção."

O silêncio dentro do carro era pesado, denso. Ele dirigiu rápido, batendo os dedos no volante, claramente irritado.

Quando chegamos em casa, o apartamento parecia frio e estranho. Era o nosso lar, mas eu me sentia uma visita.

Enquanto ele levava minha mala para o quarto, fui até a minha bolsa. Tirei de dentro uma pequena caixa de joias embrulhada para presente.

Quando ele voltou para a sala, eu a estendi para ele.

"Acho que isso é da Sofia. Estava no seu carro, no dia do acidente. Deve ter caído."

Ele pegou a caixa, a confusão estampada em seu rosto. Abriu-a. Dentro, um único brinco de diamante cintilava. Era caro, obviamente.

Seu rosto ficou pálido.

Ele me encarou, esperando uma explosão. Esperando lágrimas, acusações, um escândalo.

Mas eu permaneci em silêncio, meu rosto uma tela em branco.

O autocontrole que eu exibia o desarmava completamente. Ele não sabia como reagir à minha calma. A perda do controle o deixava visivelmente desconfortável.

"Lívia, eu posso explicar..."

"Não precisa" , eu o interrompi. "Só estou devolvendo o que não me pertence."

Ele fechou a caixa com força.

Tentando recuperar o controle da situação, ele forçou outro sorriso.

"Lívia, vamos jantar fora hoje? No nosso restaurante italiano preferido. Para comemorar sua volta para casa."

Era uma tentativa tão óbvia, tão patética. Mas eu aceitei.

"Tudo bem."

Uma hora antes do horário da reserva, enquanto eu me arrumava sem nenhum entusiasmo, o celular dele tocou.

Ouvi a voz dele no quarto ao lado, baixa e preocupada.

"O que aconteceu, Sofia? Calma, respira... Onde você está? Certo, estou indo para aí."

Ele apareceu na porta do meu quarto, já com as chaves do carro na mão.

"Desculpa, amor, surgiu um imprevisto. A Sofia está com um problema sério no trabalho, ela precisa de mim."

Eu apenas o observei, sem dizer uma palavra.

"A gente remarca o jantar, ok? Prometo."

Ele se aproximou para me beijar, mas eu virei o rosto. Seus lábios encontraram o ar.

Ele hesitou, depois suspirou e saiu, batendo a porta atrás de si.

Fiquei parada no meio do quarto, com o vestido que ele gostava, a maquiagem feita.

Sozinha. De novo.

Mas desta vez, não havia dor.

Havia apenas a confirmação final de que minha decisão era a correta.

Lentamente, tirei o vestido, limpei a maquiagem e vesti uma roupa confortável.

A promessa vazia dele ecoava no silêncio do apartamento.

E eu sabia que não haveria um próximo jantar.

            
            

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