A Dor do Adeus
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Capítulo 4

Na semana seguinte, voltei ao trabalho na confeitaria da empresa de Lucas.

Minha licença médica havia acabado. Eu precisava manter as aparências até que a "Doce Sonho" me desse uma resposta.

O ambiente estava pesado.

Meus colegas me olhavam com uma mistura de pena e curiosidade. As notícias sobre o acidente e a perda do bebê haviam se espalhado. E, aparentemente, as notícias sobre Lucas e Sofia também.

As pessoas cochichavam quando eu passava. Desviavam o olhar.

Eu tentava ignorar, focando em minhas receitas, no cheiro de açúcar e baunilha que antes me confortava. Mas agora, até isso parecia artificial.

Em uma tarde, enquanto eu estava na copa pegando um copo d' água, ouvi duas funcionárias do marketing conversando em voz baixa.

"Você viu a foto no Instagram? Que descarado."

"Eu ouvi dizer que ele a levou para aquele resort em Angra no fim de semana. O mesmo que ele sempre ia com a Lívia."

"Coitada dela. Perder o bebê e ainda ser traída publicamente. Eu não aguentaria."

O copo d' água escorregou da minha mão e se espatifou no chão.

O som agudo fez as duas mulheres se virarem. Seus rostos se contorceram em pânico e culpa quando me viram ali, parada, olhando para os cacos de vidro no chão.

Elas gaguejaram pedidos de desculpas e saíram às pressas, me deixando sozinha com o som da água pingando e o eco de suas palavras.

Eu não chorei.

Com uma precisão robótica, peguei a pá e a vassoura do canto e comecei a varrer os cacos de vidro. Cada movimento era deliberado, focado. Um caco, depois outro. Limpando a bagunça.

Era uma metáfora perfeita para o que eu precisava fazer com a minha vida.

Naquela noite, Lucas chegou tarde em casa.

Ele me encontrou na cozinha, terminando de limpar.

"Nossa, o que aconteceu aqui?" , ele perguntou, casualmente.

"Eu derrubei um copo" , respondi, sem olhá-lo.

Ele se aproximou, colocando as mãos em meus ombros. Um gesto que deveria ser de carinho, mas que pareceu uma invasão.

"Você parece cansada. Deixa isso aí. Por que não relaxamos um pouco?"

Ele tentou me abraçar por trás. Senti um arrepio de repulsa.

Afastei-me de seu toque.

"Estou bem. Só terminando de limpar."

Ele tentou de novo, tentando um caminho diferente.

"Fiz uma sobremesa nova hoje no trabalho. Uma mousse de maracujá com chocolate branco. Lembrei que você adora."

Eu me virei para encará-lo, a expressão vazia.

"Você nunca fez essa sobremesa para mim, Lucas. Você a fez para Sofia. Eu vi a foto que ela postou nos stories hoje à tarde. A legenda era 'O melhor chefe do mundo fez minha sobremesa favorita' ."

O rosto dele congelou. A máscara de marido atencioso caiu, revelando a confusão e a raiva por ter sido pego.

Ele ficou me olhando, sem palavras, tentando entender como a mulher que antes chorava por qualquer discussão agora o confrontava com uma calma de gelar os ossos.

Ele não entendia.

Ele não entendia que a mulher que ele conhecia não existia mais.

Ela havia morrido naquele acidente de carro, junto com o filho deles.

                         

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