Quatro anos após a morte de João, fui ao cemitério, como fazia todo ano.
Mas a lápide com o nome do meu marido simplesmente tinha sumido.
Um coveiro, com um olhar de pena, revelou: "A família pediu pra mover. Ele tá enterrado com a outra lá."
A outra. Ana, a enfermeira com quem ele teve um caso por trinta anos.
Meu filho, Pedro, que eu pensava me apoiar, confirmou: "O pai amava a Ana. Ele disse na carta que se sentiu forçado a casar com você. Que o verdadeiro amor da vida dele era ela."
Trinta anos de casamento, uma farsa. Eu era uma obrigação, não uma esposa.
A dor foi tão avassaladora que perdi a consciência.
Quando abri os olhos, a dor familiar no meu ventre e o quarto do hospital me disseram que eu estava vinte anos no passado.
Era o dia do meu aborto espontâneo, o dia em que João me abandonou, sangrando e despedaçada, para consolar a amante.
Desta vez, quando João veio com sua falsa preocupação, não houve lágrimas. Não haveria súplicas.
Eu tinha uma segunda chance. Não para reconquistá-lo, mas para me libertar dele.
Peguei o telefone, não para reclamar, mas para comprar uma passagem de ida para o Rio de Janeiro.
Eu recusei o presente dele, rejeitei sua chantagem sobre o prêmio de "trabalhadora exemplar" para Ana, e encarei a verdade sobre a minha vida.
João, para me destruir, usou minha maior vergonha, o segredo da minha infância brutalmente exposto.
Mas ele não me quebrou.
Levantei a cabeça, olhei para todos na sala e disse: "Eu me demito. E a partir deste momento, eu renuncio a qualquer laço, qualquer conexão, com João Alves. Para mim, ele não existe mais."
Eu estava livre.