Minha família era tradicional e rica, e a maior parte da fortuna estava amarrada em um fundo fiduciário com uma cláusula clara: o primeiro neto a ter um herdeiro receberia o controle majoritário das empresas da família, era uma regra arcaica, mas que definia o poder dentro do clã.
De repente, essa gravidez não era apenas uma catástrofe pessoal, era uma arma, uma oportunidade.
Decidi ir a um hospital para confirmar a gravidez com um exame de sangue, precisava ter certeza antes de tomar qualquer decisão, e foi lá, na sala de espera da clínica de obstetrícia, que o inferno resolveu me visitar pessoalmente.
Ricardo e Laura entraram de mãos dadas, Laura tinha um sorriso presunçoso no rosto e colocava a mão na barriga de forma protetora, eles pareciam um casal feliz e ansioso.
Meu coração parou por um segundo, a coincidência era cruel demais para ser verdade, eles se sentaram bem na minha frente, e Laura fez questão de falar alto.
"Ai, amor, estou tão feliz que nosso bebezinho está saudável," ela disse, acariciando a barriga, "Mal posso esperar para sermos uma família."
Ricardo sorriu para ela, um sorriso que ele nunca me deu, e então seus olhos encontraram os meus, a surpresa em seu rosto rapidamente se transformou em desprezo.
Laura seguiu seu olhar e seu sorriso se alargou ainda mais quando me viu, ela se levantou e veio em minha direção, como uma rainha se dirigindo a uma serva.
"Sofia, que surpresa te ver aqui," ela disse, com uma falsa simpatia, "Veio fazer um check-up? É bom se cuidar, especialmente depois de uma certa idade."
A provocação era óbvia, ela estava insinuando que eu era velha, infértil.
"O que você está fazendo aqui, Sofia?" a voz de Ricardo era dura, fria, "Não me diga que está tentando fingir uma gravidez para me prender, seria o seu golpe mais baixo."
As palavras dele me atingiram, mas a raiva superou a dor, como ele ousava? Como ele ousava me acusar de algo tão baixo, quando era ele quem vivia uma vida de mentiras?
Antes que eu pudesse responder, o médico chamou o nome de Laura, eles se levantaram para entrar, mas Ricardo parou e se virou para mim, seu rosto estava sério, quase sombrio.
Ele se aproximou e falou baixo, para que só eu pudesse ouvir, "Sofia, preciso falar com você, é importante."
Eu o ignorei, mas ele insistiu, depois que saíram do consultório, ele me encurralou no corredor.
"Laura está grávida," ele disse, sem rodeios, "Mas a família dela tem um histórico de problemas de saúde, os médicos dizem que a gravidez é de risco, e ela talvez não possa ter outros filhos."
Eu o encarei, sem entender aonde ele queria chegar com aquela conversa.
"Minha família precisa de um herdeiro, Sofia," ele continuou, e sua voz ficou ainda mais baixa, "E você sempre foi saudável."
Um calafrio percorreu minha espinha, eu comecei a entender.
"Eu quero que você gere o nosso filho," ele disse, e as palavras saíram da sua boca com uma naturalidade assustadora, "Quando o bebê de Laura nascer, nós diremos que é seu, você o criará como mãe, e Laura será apenas uma tia distante."
O choque foi tão grande que eu não consegui reagir, ele queria que eu fosse a barriga de aluguel emocional para o filho da amante dele? Ele queria que eu criasse o símbolo da sua traição como se fosse meu?
"Por que eu faria uma coisa dessas?" minha voz era um fio.
Ele sorriu, um sorriso condescendente que me encheu de nojo.
"Porque você me ama, Sofia," ele disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, "E porque você não é nada sem mim, eu te dou um teto, uma vida confortável, em troca, você me dá um herdeiro, é um bom acordo."
Aquele homem na minha frente não era apenas um traidor, ele era um monstro, um monstro que acreditava que tudo e todos podiam ser comprados, controlados.
Naquele momento, eu olhei para ele e senti um ódio tão puro e intenso que clareou minha mente, ele não teria meu filho, ele não teria meu perdão, ele não teria mais nada de mim.
A única coisa que ele teria seria a minha vingança.