Na minha vida passada, eu fiquei em choque. Gritei, chorei, exigi uma explicação. Joguei na cara de Marina tudo o que fiz por ela, como ela podia trazer sua ex-namorada para dentro da nossa casa.
Desta vez, eu apenas sorri. Um sorriso calmo, que não alcançou meus olhos.
"Olá, Luiza. Prazer em conhecê-la."
O choque no rosto das duas foi impagável. Elas esperavam um escândalo, uma briga. Minha calma as desarmou completamente.
"Gabi, você não está... brava?", Marina perguntou, confusa.
"Brava? Por quê? Somos adultas, não é? O passado fica no passado", eu disse, me servindo de uma xícara de café. Minha mão estava firme. "Espero que goste de morar conosco, Luiza."
Luiza, a mestre da manipulação, se recuperou rapidamente.
"Oh, Gabi, você é tão compreensiva!", ela disse, com a voz embargada. "Eu não tenho para onde ir. Marina é a única pessoa que tenho no mundo."
Ela começou a chorar, lágrimas de crocodilo escorrendo por seu rosto perfeito.
"Marina me contou o quanto você a ajudou. Eu sou tão grata a vocês duas."
Marina imediatamente a abraçou, lançando-me um olhar de reprovação, como se eu fosse a vilã insensível.
"Está vendo? A Luiza está passando por um momento difícil. Precisamos apoiá-la."
Revirei os olhos internamente. O mesmo show, a mesma peça de teatro. Só que desta vez, eu conhecia o roteiro de cor.
"Claro", eu disse, com um tom monótono. "O que ela precisar."
De repente, Luiza soltou um gritinho e apontou para a escada.
"Ai! Uma barata!"
No instante seguinte, ela "tropeçou" e caiu em minha direção, como se estivesse se desequilibrando. Na vida passada, eu a segurei instintivamente. Mas desta vez, eu dei um passo para o lado.
Luiza caiu com tudo no chão de madeira. O som foi satisfatório.
Ela olhou para mim, chocada, antes de começar a chorar de verdade.
"Ai, meu tornozelo! Acho que quebrei!"
Marina correu para o lado dela, furiosa.
"Gabriela! O que você fez? Você a empurrou!"
"Eu não encostei nela", respondi friamente. "Ela tropeçou sozinha."
"Mentira! Eu vi!", gritou Marina, com o rosto vermelho de raiva. "Você está com ciúmes! Como você pode ser tão cruel?"
Antes que eu pudesse responder, senti uma dor aguda nas costas. Marina, em um acesso de fúria, me deu um chute forte. A dor me fez cambalear para frente, e meus olhos se encheram de lágrimas, não de tristeza, mas de pura raiva.
Na vida passada, esse chute me quebrou. Chorei por horas, implorando para que Marina acreditasse em mim.
Desta vez, eu apenas me virei e a encarei. A dor física não era nada comparada à memória da mesa de cirurgia.
"Você me chutou", eu disse, minha voz perigosamente calma.
Marina pareceu se assustar com a minha reação. Ela esperava lágrimas, não essa frieza.
"Você mereceu! Olhe o que você fez com a Luiza!", ela disse, ajudando a "vítima" a se levantar. Luiza se agarrou a ela, mancando dramaticamente, e me lançou um sorriso provocador por cima do ombro de Marina.
Elas subiram as escadas, Marina sussurrando palavras de consolo para sua amada. A Villa da Primavera, nossa casa, de repente ficou silenciosa e vazia. Apenas o cheiro do café e a dor latejante nas minhas costas eram reais.
Fui até a cozinha e peguei um saco de gelo, pressionando-o contra o local do chute. A dor era um lembrete. Um lembrete de que nada mudou no coração de Marina. Ela sempre escolheria Luiza.
Lembrei-me do que aconteceria a seguir. Nas próximas semanas, Luiza encenaria vários "acidentes" e problemas de saúde, todos convenientemente causados por mim. Marina, cega de amor, acreditaria em cada mentira. A culminação seria a grande farsa no terraço, onde Luiza se jogaria, fazendo parecer que eu a empurrei.
A farsa que a levaria a um "coma" e a mim, para a prisão. A farsa da sua "morte".
Não desta vez.
Fui até o nosso quarto. Sobre a minha penteadeira estava o nosso porta-retrato. Uma foto do nosso casamento. Nós duas sorrindo, felizes. Era uma mentira. Tudo era uma mentira.
Peguei a foto. Na vida passada, eu a teria guardado, me agarrando à memória de um amor que nunca existiu de verdade.
Desta vez, eu a rasguei ao meio. Pedaço por pedaço. Depois, peguei meu anel de casamento da caixinha de joias. Era um anel de diamante que eu mesma desenhei. Um símbolo do meu amor e dedicação.
Com um sorriso amargo, peguei uma pequena faca de artesanato da minha gaveta e, com força, risquei a superfície do diamante. Uma, duas, três vezes, até que a pedra preciosa estivesse arranhada e sem brilho.
O anel, assim como o meu amor, estava destruído. Irreparável.
Joguei os pedaços da foto e o anel danificado no lixo.
A Gabi que amava Marina estava morta. Agora, era hora da vingança.
---