Na primeira vez, a cena foi surreal. Marina a abraçou como se tivesse encontrado uma parte perdida de sua alma. Elas choraram juntas, riram juntas, relembraram um passado do qual eu não fazia parte. Eu me senti uma intrusa na minha própria casa.
Naquela noite, Marina veio falar comigo.
"Gabi, eu sei que é difícil de entender", ela começou, com aquele tom falsamente conciliador. "Mas a Luiza não tem para onde ir. A família dela a abandonou. Ela precisa de um lugar para ficar. Só por um tempo."
"Aqui? Na nossa casa?", perguntei, incrédula.
"Sim. Ela pode ficar no quarto de hóspedes. Por favor, Gabi. Eu devo isso a ela. Nós tínhamos uma história."
Eu deveria ter dito não. Deveria ter batido o pé e a expulsado, junto com sua ex-namorada. Mas eu era fraca. Eu a amava, e o medo de perdê-la era maior que meu amor-próprio. Eu cedi.
Foi o maior erro da minha vida.
Viver com Luiza sob o mesmo teto era uma tortura diária. Elas trocavam olhares, sorrisos e toques que eram íntimos demais. Marina passava mais tempo com ela do que comigo. Eu me tornei a coadjuvante na minha própria vida.
A confirmação da traição veio de forma brutal.
Eu voltei para casa mais cedo de uma reunião. A casa estava silenciosa. Subi as escadas, pensando em surpreender Marina. Ao passar pela porta do quarto de Luiza, que estava entreaberta, ouvi sons.
Sons que fizeram meu estômago revirar.
Gemidos baixos, respirações ofegantes.
Espiei pela fresta. A cena queimou em minha retina.
Marina estava sentada na cama, e Luiza estava em seu colo, de frente para ela. As roupas de Luiza estavam jogadas no chão, e ela se movia ritmicamente sobre Marina, suas mãos nos ombros dela, seus lábios roçando seu pescoço.
"Você é uma diabinha, sabia?", Marina sussurrou, a voz rouca de desejo. "Me deixou louco o dia todo."
"Eu te amo, Marina. Sempre te amei", Luiza respondeu, ofegante. "Ela não te satisfaz, não é? Tão sem graça, tão sem sal."
Meu mundo se partiu em mil pedaços. O ar me faltou. Eu não conseguia respirar. O som do meu próprio coração batendo era um trovão nos meus ouvidos.
"E a Gabi?", Luiza perguntou, em um sussurro provocador.
Marina riu. Um som oco e cruel.
"A Gabi? Ela é útil. Mas amor... amor é o que eu sinto por você. Só por você."
A raiva superou o choque. O sangue subiu à minha cabeça. Eu chutei a porta, abrindo-a com um estrondo.
As duas se viraram para mim, os olhos arregalados de surpresa. Luiza não fez menção de se cobrir. Pelo contrário, ela sorriu, um sorriso vitorioso e descarado.
"Gabriela!", Marina gritou, empurrando Luiza de seu colo e se levantando rapidamente. "O que você está fazendo? Não é o que parece!"
"NÃO É O QUE PARECE?", minha voz saiu como um grito rasgado. "EU NÃO SOU CEGA, MARINA! VOCÊS DUAS... NA MINHA CASA! NA MINHA CAMA!"
"Tecnicamente, o quarto é meu", Luiza disse, com uma calma venenosa, enquanto pegava seu roupão do chão.
"CALA A BOCA!", eu gritei para ela, tremendo da cabeça aos pés. Me virei para Marina, as lágrimas finalmente vindo, quentes e amargas. "Como você pôde? Depois de tudo? Eu te dei tudo! E é assim que você me retribui? Me traindo com ela debaixo do meu nariz?"
Marina, em vez de mostrar remorso, ficou na defensiva. Seu rosto se fechou, a surpresa dando lugar à irritação.
"E o que você queria que eu fizesse? Eu recuperei minha memória! Luiza é parte da minha vida! Você é a egoísta aqui, que não consegue entender isso!"
A lógica dela era tão distorcida, tão absurda, que me deixou sem palavras. Eu era a errada. Eu era a egoísta.
Naquele momento, na minha vida passada, eu desmoronei. Chorei, implorei, perguntei onde eu tinha errado.
Mas desta vez, eu estava revivendo a cena. Eu não estava no meu corpo, eu era uma espectadora. A Gabi da minha memória estava gritando e chorando, enquanto a Gabi renascida observava tudo com um distanciamento gélido.
Eu vi minha própria humilhação. Vi a fraqueza que permitiu que elas me destruíssem.
Nunca mais.
A lembrança se dissipou, e eu estava de volta ao presente, no quarto silencioso, com o lixo contendo os restos do meu antigo amor.
A vingança não seria um ato de paixão, um grito de raiva. Seria fria, calculada e implacável. Elas me ensinaram a jogar o jogo delas.
E eu seria uma aluna muito, muito boa.
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