Eu sou órfã, uma garota da favela que não tinha nada além de um sonho. Desde pequena, o som do samba corria nas minhas veias, e meu maior desejo era me tornar uma dançarina profissional, uma passista de verdade.
Foi Pedro Costa quem me encontrou.
Ele, um passista famoso, a estrela da escola de samba, me viu dançando num beco empoeirado e decidiu me acolher. Ele me deu um teto, comida e, o mais importante, uma oportunidade no mundo do samba.
Naquela época, ele era meu tudo. Meu mentor, meu protetor, meu deus.
Ele me tratava com um carinho imenso, como se eu fosse sua irmã mais nova. Cuidava de mim, me ensinava os passos, me protegia dos olhares maldosos. E eu, ingênua e carente, confundi gratidão com amor.
Aos poucos, o sentimento cresceu dentro de mim, silencioso e avassalador. Eu o amava. Com a certeza pura e absoluta de uma adolescente, eu decidi que passaria o resto da minha vida ao lado dele.
No dia do meu aniversário de dezoito anos, tomei coragem. Com o coração batendo descontrolado no peito, eu me declarei. As palavras saíram trêmulas, mas cheias de uma esperança que me consumia.
A reação dele foi um balde de água fria.
Pedro me olhou, primeiro surpreso, depois com uma espécie de pena divertida. Ele riu, um riso que não alcançou seus olhos.
"Sofia, para com isso. Você é como uma irmã pra mim. Sempre foi e sempre será."
Ele disse isso com uma facilidade que partiu meu coração. Ele traçou uma linha clara entre nós, uma fronteira que eu nunca poderia cruzar. O mundo que eu construí ao redor dele desmoronou em segundos.
Para ter certeza de que eu entendia a mensagem, para arrancar de vez qualquer esperança do meu peito, ele fez algo rápido e cruel. Duas semanas depois, ele começou a namorar Clara Silva.
Não qualquer uma. Clara era a deslumbrante rainha de bateria de uma escola de samba rival, uma mulher que representava tudo o que eu não era. Ela era famosa, confiante e estava no mesmo patamar que ele.
Ele fez questão de que eu os visse juntos. Trazia Clara para casa, exibia o relacionamento para todos, principalmente para mim. Era uma tortura silenciosa.
E eu, querendo provar que era madura, que tinha entendido o recado, aceitei a situação. Forcei um sorriso, fingi amizade com Clara, até a ajudei quando Pedro pedia. Eu me tornei a sombra obediente, a "irmãzinha" perfeita.
Mas por dentro, eu estava morrendo. Cada sorriso deles era um golpe. Cada toque, cada beijo trocado na minha frente, me destruía um pouco mais.
Cansada de ser uma espectadora da felicidade dele, cansada da dor que se tornou minha companhia constante, eu decidi que precisava acabar com aquilo.
Minha avó, Dona Regina, uma mulher prática e com os pés no chão, sempre se preocupou com meu futuro. Ela mencionou um possível casamento arranjado com Lucas Almeida, um empresário rico que poderia me dar estabilidade.
Antes, a ideia me parecia um absurdo. Mas agora, era minha única rota de fuga.
Eu aceitei. Decidi que me afastaria do samba, de Pedro, de tudo aquilo. Eu me casaria com Lucas, encontraria minha própria independência e construiria um futuro longe daquela dor.
Era hora de parar de sonhar com Pedro e começar a viver por mim.