A Traição Que Mudou Tudo
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Capítulo 1

A sirene da ambulância rasgava o silêncio da noite, mas para Ricardo, era apenas um ruído distante, abafado pela dor pulsante em sua cabeça e pelo gosto de sangue na boca. Ele estava caído na calçada fria, a chuva fina começando a molhar seu rosto e suas roupas já sujas. Seus olhos, perdendo o foco, fixaram-se nas luzes vermelhas e azuis que dançavam no asfalto molhado. Sua vida, que um dia fora uma promessa brilhante, terminava ali, de forma patética e injusta.

Tudo tinha desmoronado tão rápido. Um momento ele era Ricardo, o melhor aluno de engenharia, o orgulho de seu pai, um jovem com um futuro garantido. No momento seguinte, ele era um criminoso, um agressor, um pária. A acusação falsa de Alice, uma colega de classe que ele tentara ajudar, foi como um veneno que se espalhou por todas as áreas de sua vida. A universidade o suspendeu, os amigos se afastaram, e o peso da vergonha e do estresse foi demais para o coração de seu pai, um homem simples e trabalhador que havia sacrificado tudo por ele. A morte do pai foi o golpe final, o que quebrou o pouco que restava de seu espírito.

Libertado por falta de provas, mas não de suspeitas, ele se tornou um fantasma. Sua reputação estava em frangalhos, seu futuro acadêmico, destruído. Sem pai, sem diploma, sem honra. E foi nesse estado de desespero que ele os encontrou esta noite. Alice e Bruno, o verdadeiro agressor, o filho de uma família rica e influente que usara seu poder para esmagá-lo como um inseto.

Eles riam, saindo de um restaurante caro. Ver a felicidade descarada deles, a forma como brindavam ao seu poder e à sua impunidade, reacendeu uma brasa de fúria no peito vazio de Ricardo. Ele os confrontou, não com violência, mas com a voz rouca de quem não tinha mais nada a perder. Ele só queria a verdade, uma confissão, qualquer coisa que pudesse limpar a memória de seu pai.

"Por quê?" ele perguntou, sua voz falhando.

Alice o olhou com desprezo, o mesmo olhar que usou no tribunal.

"Porque você estava no caminho, Ricardo. Você é um ninguém. Sempre foi."

Bruno, com um sorriso arrogante, deu um passo à frente.

"Ela queria a mim, não a um nerd pobretão como você. Você deveria ter entendido o seu lugar. Eu te dei uma lição."

A verdade era tão banal e cruel que o deixou sem ar. Não havia um grande plano, apenas o capricho de uma garota manipuladora e a arrogância de um valentão rico. A discussão esquentou, Bruno o empurrou com força. Ricardo tropeçou para trás, desequilibrado, caindo da calçada para a rua movimentada. O som de pneus cantando, a luz ofuscante dos faróis, uma dor aguda e avassaladora, e depois, o silêncio. Sua última visão foi a de Alice e Bruno se afastando, suas silhuetas se dissolvendo na escuridão, indiferentes.

O último pensamento de Ricardo foi um lamento. Se ao menos ele pudesse voltar. Se ao menos ele não tivesse sido tão ingênuo. Se ele tivesse uma segunda chance...

E então, uma sensação estranha. A dor sumiu. A escuridão se dissipou. Não havia mais o cheiro de asfalto molhado e poluição, mas sim um cheiro familiar de café fresco e pão na chapa. Uma luz suave entrava por uma janela, não a luz dura dos postes da rua.

Ricardo abriu os olhos, piscando contra a claridade.

Ele não estava em uma calçada, nem em um hospital. Estava em seu quarto. Seu antigo quarto, na casa de seu pai. O pôster de uma banda que ele não ouvia há anos estava na parede, seus livros da faculdade empilhados na escrivaninha. Tudo exatamente como era... antes de tudo.

Uma voz soou do corredor, uma voz que ele pensou que nunca mais ouviria, tão cheia de vida e calor que fez seu coração parar.

"Ricardo! Filho, você vai se atrasar pra aula! O café tá na mesa!"

Era a voz de seu pai.

Ricardo se sentou na cama, o corpo tremendo. Ele olhou para as próprias mãos. Não havia arranhões, nem o inchaço da briga. Ele pegou o celular na mesinha de cabeceira. A tela se acendeu, mostrando a data. Era um dia de semana, três anos atrás. O dia. O exato dia em que tudo começou.

O choque inicial deu lugar a uma clareza gelada. Isso não era um sonho, não era o delírio de um homem morrendo. Era real. De alguma forma impossível, ele havia retornado. Ele tinha sua segunda chance.

Lágrimas quentes escorreram por seu rosto, mas não eram de tristeza. Eram de alívio, de fúria contida e de uma determinação de ferro. Ele se lembrou do desprezo no rosto de Alice, da arrogância de Bruno, da dor no rosto de seu pai. Ele se lembrou de tudo.

Na vida passada, naquele exato dia, ele sairia pela porta e, no campus, veria Alice sendo importunada por Bruno. Seu instinto de ajudar o levaria a intervir, e essa boa ação seria o estopim de sua ruína.

Mas não desta vez.

Ricardo enxugou as lágrimas com as costas da mão. O garoto ingênuo e bem-intencionado morreu naquela calçada fria. O homem que acordou nesta cama era diferente. Mais cauteloso, mais astuto e infinitamente mais perigoso para seus inimigos.

Ele se levantou e foi até a janela. O sol da manhã brilhava, prometendo um dia normal. Mas Ricardo sabia que não seria. Ele não iria intervir diretamente. Não desta vez. Ele usaria sua inteligência, sua memória do futuro e as ferramentas que a vida moderna lhe oferecia para orquestrar uma justiça muito mais precisa e devastadora.

Ele não apenas limparia seu nome. Ele destruiria aqueles que o destruíram. Ele honraria a memória de seu pai, garantindo que o sacrifício dele não fosse em vão. Desta vez, ele não seria a vítima. Ele seria o caçador.

Ele desceu as escadas, o coração batendo forte. Ele não iria para a aula pelo caminho de sempre. Ele faria um desvio. Um pequeno desvio que mudaria tudo. A primeira peça de seu novo jogo estava prestes a ser movida. E ele não iria errar.

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