A Traição Que Mudou Tudo
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Capítulo 3

Chegar em casa depois da aula foi uma experiência surreal. A porta se abriu e o cheiro de comida caseira o atingiu, um aroma que ele pensou ter perdido para sempre. Seu pai estava na cozinha, cantarolando uma música antiga enquanto mexia em uma panela.

"E aí, filhão? Como foi a aula?"

Ricardo parou na porta da cozinha, apenas observando. Cada detalhe, a forma como seu pai se inclinava sobre o fogão, as rugas de expressão ao redor dos olhos, o cabelo grisalho que ele sempre se recusava a pintar. Eram visões preciosas, resgatadas do abismo.

Ele não conseguiu responder. Apenas se aproximou e abraçou o pai por trás, um abraço apertado, desesperado.

Seu pai se assustou por um momento, depois riu.

"Opa, que bicho te mordeu? Ganhou na loteria?"

"Quase isso, pai. Quase isso" , Ricardo murmurou, a voz embargada, o rosto enterrado nas costas do pai. "Só... senti saudade."

Seu pai se virou, o sorriso se desfazendo ao ver a emoção nos olhos do filho. Ele colocou a mão no ombro de Ricardo, o olhar preocupado.

"Aconteceu alguma coisa? Alguém te incomodou?"

"Não, pai. Pelo contrário" , disse Ricardo, forçando um sorriso para tranquilizá-lo. "Foi um dia bom. Muito bom."

Naquela noite, Ricardo mal dormiu. Ele ficou em seu quarto, com o laptop aberto, não para estudar, mas para planejar. Ele tinha uma vantagem única: o conhecimento do futuro. Ele sabia das ações que Bruno compraria e que disparariam, dos pequenos escândalos que abalariam empresas locais, das oportunidades que todos deixariam passar.

Seu primeiro objetivo era claro: proteger seu pai. Isso significava garantir sua estabilidade financeira para que ele não precisasse mais se matar de trabalhar. Ricardo começou a traçar um plano de pequenos investimentos, usando o pouco dinheiro que tinha guardado, em movimentos que ele sabia que seriam certeiros. Não era sobre ficar rico da noite para o dia, mas sobre construir uma segurança, um alicerce que a tempestade que viria não pudesse abalar.

O segundo objetivo era sua própria vingança. Mas seria uma vingança fria, calculada. Ele não se aproximaria de Alice ou Bruno. Ele os deixaria vir até ele. E ele sabia que viriam.

A oportunidade surgiu dois dias depois, na cafeteria da universidade. Ricardo estava sentado em uma mesa, lendo um livro, quando sentiu uma presença. Era Alice. Ela se aproximou com um sorriso ensaiado.

"Oi, Ricardo. Tudo bem?"

Na vida passada, ele teria sido educado, talvez um pouco tímido. Desta vez, ele nem levantou os olhos do livro.

"O que você quer, Alice?" sua voz era fria, desinteressada.

O sorriso dela vacilou por um instante. Ela não esperava por aquilo.

"Nossa, grosso. Eu só ia perguntar se você pode me ajudar com uma coisa. O professor de cálculo passou uma lista de exercícios impossível."

Era o mesmo pretexto da outra vida. Uma desculpa para iniciar uma conversa, para se fazer de vítima depois.

Ricardo fechou o livro com um baque surdo, fazendo algumas pessoas olharem. Ele finalmente a encarou, os olhos vazios de qualquer simpatia.

"Não. Peça ajuda a outra pessoa."

Alice ficou boquiaberta. A recusa direta e pública a desarmou.

"Mas... por quê? Eu pensei que você fosse bom em cálculo. É só uma ajudinha."

"Eu estou ocupado" , ele disse, levantando-se. "E honestamente, não tenho interesse em te ajudar. Arranje seus próprios meios para passar de ano."

A humilhação era visível no rosto dela. As bochechas coraram, e o sorriso falso foi substituído por uma carranca de raiva.

"Quem você pensa que é pra falar assim comigo?" ela sibilou, a voz baixa e cheia de veneno.

"Alguém que não tem tempo a perder com gente como você" , Ricardo respondeu, no mesmo tom.

Ele se virou para ir embora, mas ela o agarrou pelo braço. O toque dela o fez recuar como se tivesse sido queimado.

"Não me toque" , ele disse, a voz subitamente perigosa.

A reação dela foi instantânea e teatral. Ela soltou o braço dele e deu um passo para trás, o rosto se contorcendo em uma máscara de medo e dor.

"Ai! Você tá me machucando!" ela gritou, alto o suficiente para que todos na cafeteria ouvissem.

O murmúrio começou imediatamente. As pessoas se viraram, vendo a cena: o rapaz alto e a garota aparentemente assustada. Era o começo do mesmo roteiro.

Mas Ricardo não era mais o mesmo ator. Ele não entrou em pânico, não tentou se explicar. Ele apenas a olhou com um misto de pena e desprezo.

"O seu teatro é patético, Alice. Mas continue. Vamos ver até onde você vai com isso."

Ele se virou e saiu da cafeteria, deixando-a no meio do palco que ela mesma havia montado. Ele a ouviu gritar atrás dele, algo sobre ele ser um agressor, um louco. Mas ele não olhou para trás.

Ele sabia que aquilo era apenas o começo. Ela não deixaria barato. Ela iria até Bruno, contaria uma versão distorcida dos fatos, e eles planejariam algo maior. Ótimo. Que viessem. Desta vez, ele estaria esperando. E a plateia estaria assistindo a um espetáculo bem diferente.

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