A Traição Que Mudou Tudo
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Capítulo 4

A estratégia de Alice não demorou a se manifestar. No dia seguinte, a cena se repetiu, mas de forma muito mais agressiva e pública. Ricardo saía de uma aula quando Alice o interceptou no corredor principal, um dos lugares mais movimentados do campus.

Desta vez, ela não tentou ser sutil. Ela correu em sua direção e se jogou no chão, a poucos passos dele, gritando.

"Fica longe de mim! Eu já disse pra você me deixar em paz!"

Um círculo de estudantes curiosos se formou quase instantaneamente. Celulares foram sacados, sussurros começaram a se espalhar. Alice, no chão, chorava histericamente, segurando o tornozelo como se estivesse machucado.

"Ele me empurrou! Ele vive me perseguindo!" ela soluçava para a multidão.

Ricardo parou, as mãos nos bolsos, o rosto uma máscara de calma fria. Ele não disse nada, apenas observou o show patético. Ele sabia que negar só o faria parecer mais culpado aos olhos de uma multidão ávida por drama.

Foi então que uma voz autoritária cortou o barulho.

"O que está acontecendo aqui?"

Era a Dra. Lúcia, a advogada chefe do departamento de assuntos estudantis da universidade. Uma mulher na casa dos cinquenta anos, conhecida por sua retidão e por não tolerar bobagens. Sua presença imediata fez o burburinho diminuir.

Alice viu sua oportunidade. Ela se arrastou na direção da advogada, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

"Doutora Lúcia, graças a Deus! Esse rapaz... Ricardo... ele não me deixa em paz! Ele me perseguiu e me empurrou. Ele é obcecado por mim!"

A Dra. Lúcia olhou de Alice, no chão, para Ricardo, de pé e impassível. Seu olhar era analítico, treinado para ver através de mentiras.

"Sr. Ricardo, o que o senhor tem a dizer sobre isso?"

Ricardo deu um passo à frente, mantendo uma distância respeitosa.

"Doutora Lúcia, eu estava saindo da minha aula de termodinâmica, no prédio B. Eu andei por este corredor, a caminho da biblioteca. Eu não toquei na Srta. Alice. Eu nem sequer falei com ela hoje."

Sua voz era calma, factual. Sem emoção, sem acusações.

Alice gritou. "Mentiroso! Você me disse coisas horríveis ontem na cafeteria! Todo mundo viu!"

Ricardo se virou para a advogada.

"É verdade que tivemos uma interação ontem. Ela me pediu ajuda com uma matéria, eu recusei de forma direta e ela não gostou. Mas em nenhum momento eu a ameacei ou agredi. E hoje, como eu disse, não houve contato algum. Ela se jogou no chão quando me viu."

A Dra. Lúcia franziu a testa, seu olhar alternando entre os dois.

"Srta. Alice, a senhorita diz que ele a empurrou. Alguém aqui viu o empurrão?" , ela perguntou à multidão.

Silêncio. Muitos viram Alice cair, mas ninguém podia afirmar ter visto Ricardo a empurrando. A distância entre eles era um fato inconveniente para a história dela.

Vendo que estava perdendo terreno, Alice mudou de tática.

"Ele é esperto! Ele faz quando ninguém está olhando diretamente! Ele me ameaçou! Ele disse que eu ia me arrepender!"

Foi a deixa que Ricardo esperava. Ele olhou diretamente para a Dra. Lúcia, a expressão séria.

"Doutora, isso é uma acusação muito grave. E, honestamente, é exatamente o tipo de coisa que eu temia que ela fizesse depois do nosso desentendimento de ontem."

Ele fez uma pausa, deixando as palavras surtirem efeito.

"Sabe, depois que eu recusei ajudá-la, ela ficou muito irritada. Eu até comentei com um amigo que não me surpreenderia se ela tentasse inventar alguma história para me prejudicar. Parece que eu estava certo."

Ele estava invertendo o roteiro. Plantando a semente da dúvida, sugerindo que a ação dela era uma vingança premeditada. Ele não a estava acusando de mentir sobre o empurrão; ele estava acusando-a de ter um plano maior e mais sinistro.

Alice ficou pálida. Aquilo não estava no script dela. Ela esperava negações desesperadas, raiva, o que a faria parecer mais vítima. A calma calculada dele a estava destruindo.

"Isso é ridículo! Ele está tentando virar o jogo!" , ela gaguejou.

"Estou?" , Ricardo perguntou, retoricamente, para a advogada. "Ou estou apenas apontando um padrão de comportamento? Uma recusa educada leva a uma cena na cafeteria. Um dia depois, uma acusação pública de agressão. Qual será o próximo passo? Uma denúncia falsa na polícia?"

A palavra "polícia" pairou no ar.

A Dra. Lúcia olhou para Alice, cujo rosto agora mostrava mais fúria do que tristeza. A histeria dela começava a parecer forçada.

"Chega!" , a advogada disse, a voz firme. "Isso não será resolvido em um corredor. Srta. Alice, se levante. Os dois, para a minha sala. Agora."

Alice se levantou, mancando de forma exagerada. Ricardo a seguiu em silêncio. Ele tinha sobrevivido à primeira grande armadilha. E mais importante, ele tinha colocado a principal autoridade do campus em alerta. A Dra. Lúcia não era uma espectadora ingênua; ela agora era uma juíza atenta. E Ricardo sabia que, em um jogo de lógica e fatos, Alice não tinha a menor chance.

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