A Traição Que Mudou Tudo
img img A Traição Que Mudou Tudo img Capítulo 2
3
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 2

Enquanto caminhava para a universidade por uma rota diferente, as memórias da vida passada inundaram a mente de Ricardo com a força de uma avalanche. Cada detalhe era vívido, cada emoção, crua e dolorosa. Ele se lembrou do momento exato em que seu inferno começou.

Ele estava a caminho da biblioteca quando viu a cena. Alice, uma colega que ele conhecia de vista, parecia acuada perto de um dos prédios menos movimentados do campus. Bruno, que já tinha fama de ser agressivo e mimado, a segurava pelo braço, insistindo em algo que ela claramente não queria. A expressão de medo no rosto dela foi o que o fez agir.

Ricardo, na época, acreditava em fazer a coisa certa. Ele se aproximou, com a voz firme, mas não agressiva.

"Ei, cara. Solta ela. Ela não parece confortável."

Bruno se virou, o rosto contorcido de raiva por ter sido interrompido.

"Quem você pensa que é? Isso não é da sua conta, seu otário."

"É da minha conta quando vejo alguém incomodando uma colega" , Ricardo retrucou, mantendo a calma.

A intervenção foi o suficiente para Alice se soltar e sair correndo, sem nem olhar para trás. Bruno, furioso por ter sido humilhado, empurrou Ricardo.

"Você vai se arrepender disso" , ele rosnou antes de se afastar.

Ricardo não deu muita importância à ameaça. Ele achava que tinha feito o bem e que aquilo terminaria ali. Naquela noite, ele contou ao pai o que aconteceu, e o homem sorriu, cheio de orgulho.

"Você fez a coisa certa, meu filho. Nunca tenha medo de defender o que é justo. Foi pra isso que eu te criei."

A lembrança daquele sorriso, do orgulho nos olhos de seu pai, era a mais dolorosa de todas. Aquela aprovação, que na época o encheu de calor, agora parecia uma sentença de morte.

Dois dias depois, a polícia apareceu em sua porta.

A acusação era de agressão e assédio. A vítima? Alice.

Ricardo ficou em choque. Não podia ser. Devia haver um engano. Mas não havia. Alice o acusou formalmente. Ela contou uma história completamente fabricada, na qual ele era o agressor que a perseguia, e Bruno, o herói que a defendeu.

No campus, a notícia se espalhou como fogo. Alice, com lágrimas nos olhos, deu entrevistas para o jornal da universidade, pintando-se como uma vítima aterrorizada. Ela era convincente. Ela descreveu o medo que sentia, como Ricardo a olhava nas aulas, como ele a teria encurralado se Bruno não tivesse bravamente intervindo. A narrativa era perfeita, e a maioria das pessoas comprou. Ele, o aluno quieto e dedicado, de repente se tornou um monstro.

Seu pai não duvidou dele por um segundo. Ele se recusou a acreditar naquilo e mergulhou de cabeça na defesa do filho. Contratou o melhor advogado que podia pagar, o que significava vender o carro, fazer empréstimos e usar todas as economias que guardara a vida inteira.

A pressão era imensa. O processo se arrastava. As contas se acumulavam. O pai de Ricardo, um homem que nunca ficava doente, começou a emagrecer. Seus ombros, antes largos e fortes, agora pareciam curvados sob um peso invisível. Ele passava noites em claro, pesquisando leis, conversando com o advogado, tentando encontrar uma brecha, uma testemunha, qualquer coisa.

O estresse cobrou seu preço. Uma noite, Ricardo o encontrou caído na sala, a mão no peito. Um ataque cardíaco fulminante. Ele morreu antes mesmo de a ambulância chegar, com uma pasta de documentos do caso do filho ao seu lado.

A morte de seu pai foi a notícia que virou o jogo. A tragédia foi tão grande que algumas pessoas começaram a questionar a história de Alice. A ausência de provas concretas contra Ricardo, além do testemunho dela e de Bruno, finalmente levou o promotor a retirar as acusações. Ele foi libertado, legalmente inocente.

Mas a que custo? Ele havia perdido tudo. Seu pai, sua reputação, sua vaga na universidade, suas economias, seu futuro. Ele era um homem livre, mas sua vida estava em ruínas.

Foi nesse estado que ele vagou por meses, até a noite fatídica em que encontrou Alice e Bruno. A noite de sua morte. A noite em que ele finalmente soube a verdade por trás da mentira dela.

"Eu fiz isso pelo Bruno" , ela confessara com um sorriso cruel, naquela última confrontação. "Ele é de uma família poderosa. Ele pode me dar tudo. E você? Você não era nada. Um obstáculo. Um degrau. Foi fácil te usar pra me aproximar dele, pra mostrar minha lealdade."

A lembrança daquelas palavras ainda queimava em sua mente. Ele não foi destruído por ódio ou vingança, mas por conveniência. Ele e seu pai foram sacrifícios descartáveis no jogo social de uma garota ambiciosa e de um filhinho de papai cruel.

Agora, andando pelo campus sob o mesmo sol daquele dia terrível, Ricardo sentia o peso daquelas duas vidas. A que ele perdeu e a que foi devolvida a ele. Ele não estava mais apenas buscando justiça. Ele estava em uma missão para reescrever a história, não apenas para si mesmo, mas para o pai que o esperava em casa com o café na mesa. Desta vez, o sacrifício não seria o deles.

---

            
            

COPYRIGHT(©) 2022