Destino de Almas Perdidas
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Capítulo 4

O celular de Helena toca, quebrando a tensão na sala de reuniões.

Ela olha para o identificador de chamadas e um sorriso instantâneo ilumina seu rosto cansado. É uma transformação impressionante.

"Oi, meu amor."

A voz dela é mel. Pura, doce e cheia de um amor que eu não sabia que ela era capaz de sentir.

É Pedro, claro.

"Mãe, você está bem? O pai disse que vocês estavam em um caso difícil. Eu fiquei preocupado."

A preocupação de Pedro é tão falsa quanto uma nota de três reais. Eu sei. Eu o vi entregar o endereço deste galpão ao meu assassino. Eu o ouvi dizer "faça parecer que foi um assalto que deu errado".

"Estamos bem, querido. Apenas cansados", diz Helena, sua voz um sussurro de carinho. "Como foi o jantar? Você comeu direito?"

"Sim, mãe. Pedi pizza. Mas não tem a mesma graça sem vocês aqui. E o Lucas ainda não apareceu. Será que aconteceu alguma coisa com ele?"

A menção do meu nome faz a máscara de doçura de Helena rachar.

"Não se preocupe com o Lucas, Pedro. Você conhece seu irmão. Ele é egoísta. Provavelmente está em alguma festa, sem se importar com ninguém."

Eu quero vomitar, mas não tenho estômago.

Meu pai, Ricardo, pega o telefone da mão dela.

"Campeão, é o papai. Não deixe que o Lucas estrague sua noite. Ele não vale a pena. Quando aquele moleque irresponsável decidir dar as caras, ele vai se ver comigo. Eu juro por Deus, Helena, desta vez ele passou dos limites. Que ele se perca e não volte nunca mais!"

As palavras dele são como ácido.

Que ele se per-ca e não vol-te nun-ca mais.

Um desejo concedido.

Ele desliga o telefone e se vira para os colegas, o rosto uma máscara de fúria.

"Desculpem. Problemas com o meu outro filho. O problemático."

Todos na sala murmuram em compreensão. Eles conhecem a reputação de Ricardo, o pai de família exemplar. Eles também conhecem os rumores sobre seu filho mais novo, o "ovelha negra".

O telefone da sala toca. É para Ricardo. É Camila. Minha irmã.

"Pai? Estou tentando falar com o Lucas o dia todo, o celular dele está desligado. Estou preocupada. Aconteceu alguma coisa?"

A voz de Camila é tensa. Ela sempre sentia quando algo estava errado comigo.

"Calma, filha", diz Ricardo, mas sua voz não tem a mesma ternura que usou com Pedro. "Seu irmão está bem. Ele só está sendo o Lucas de sempre. Sumiu para nos irritar. Não se preocupe, ele vai aparecer quando o dinheiro acabar."

"Mas pai, ele prometeu que me ligaria hoje. Ele nunca quebra uma promessa para mim."

"Camila, eu estou no meio de um caso de assassinato horrível. Não tenho tempo para os dramas do seu irmão. Quando ele aparecer, eu te aviso. Agora preciso ir."

Ele desliga.

Sem "eu te amo". Sem "se cuida". Apenas a pressa de se livrar de mais um problema familiar.

Minha mãe se aproxima dele, colocando a mão em seu braço.

"Talvez devêssemos ligar para os hospitais? Só para ter certeza."

"Ter certeza de quê, Helena? Que ele está bêbado em algum bar? Ou dormindo na casa de algum amigo que nós não aprovamos? Chega! Eu não vou mais gastar minha energia com ele. Ele fez sua escolha."

Eles decidem tentar ligar para o meu celular mais uma vez.

Obviamente, vai direto para a caixa postal.

"Viu? Desligado. Ele não quer ser encontrado", diz Ricardo, com um tom de triunfo amargo.

Ele joga o telefone na mesa.

"Vamos nos concentrar no que importa. Encontrar o assassino deste pobre coitado."

O "pobre coitado".

Eu me afasto deles, flutuando para um canto da sala.

Eu me lembro de quando meus pais me contaram sobre Pedro. Eu tinha sete anos.

"Lucas, você vai ganhar um irmãozinho", disse minha mãe, sorrindo. "Nós o adotamos. Ele precisa de uma família, de amor."

Eu fiquei feliz. Eu sempre quis um irmão.

Mas quando Pedro chegou, ele não era um irmão. Ele era um substituto.

Ele era tudo que eu não era. Obediente, estudioso, charmoso.

E eu, o filho biológico, me tornei o intruso. O cuco no ninho.

Eles me criaram, mas nunca me pertenceram. E eu, aparentemente, nunca pertenci a eles.

A busca por mim, o filho perdido, nunca começará.

Porque na mente deles, eu nunca estive realmente lá.

                         

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