O som da porta da frente batendo me fez estremecer.
Eu esperei, meu coração batendo forte, mas ele não voltou. O silêncio que se seguiu foi pesado e definitivo.
Saí do quarto. Os papéis do divórcio ainda estavam na mesa, mas a mala de Diogo tinha sumido.
Ele se foi.
Ana apareceu na porta da cozinha, enrolada em um cobertor. "Ele se foi?"
Eu assenti, incapaz de falar.
Ela veio e me abraçou. "Você fez a coisa certa."
Eu sabia que sim, mas a dor era real. O fim de um casamento, mesmo um ruim, é uma espécie de morte.
Nos dias seguintes, o apartamento pareceu vasto e vazio. Comecei o processo de apagar Diogo da minha vida. Guardei suas roupas em caixas. Tirei suas fotos das paredes.
Cada objeto era uma lembrança, uma pequena facada de "e se".
Uma semana depois, recebi uma ligação de um número desconhecido.
Eu atendi com cautela. "Estou?"
"É a Eva."
A voz dela era suave, quase hesitante. Meu estômago revirou.
"O que você quer?" eu perguntei, minha voz fria como gelo.
"Eu só... eu queria pedir desculpas," ela disse. "Eu nunca quis causar problemas entre você e o Diogo."
A ironia era tão espessa que eu quase engasguei. "Você não quis? Eva, você tem sido o problema desde o primeiro dia."
"Não é verdade," ela protestou. "Nós somos apenas amigos. Ele estava preocupado comigo. Meu pai tinha acabado de morrer."
"Eu sei o que aconteceu com o seu pai, e eu sinto muito por sua perda," eu disse, e eu realmente sentia. "Mas sua dor não te dá o direito de destruir o casamento de outra pessoa. Diogo tem uma esposa. Ou tinha."
"Ele me disse que você pediu o divórcio," sua voz era um sussurro. "Ele está arrasado, Joana."
"Ele está arrasado?" eu ri, um som amargo e feio. "Bom. Agora ele sabe como eu me senti por dois anos. Diga a ele para assinar os papéis, Eva. Diga a ele para me deixar em paz."
"Mas ele te ama," ela insistiu.
"Se ele me amasse, ele estaria aqui quando eu precisei dele. Ele estaria aqui quando minha irmã estava em uma cama de hospital. Ele não estaria em Lisboa, segurando sua mão e te chamando de 'meu amor' no Instagram para o mundo inteiro ver."
Houve um silêncio do outro lado da linha. Eu a tinha pego.
"Apenas diga a ele para assinar os papéis," repeti antes de desligar.
Eu estava tremendo de raiva. A audácia dela, de me ligar, de bancar a inocente.
Naquela noite, não consegui dormir. A conversa continuava se repetindo na minha cabeça.
Por volta das 2 da manhã, meu telefone tocou. Era Diogo.
Eu ignorei.
Ele ligou de novo. E de novo.
Na quinta chamada, eu atendi, pronta para gritar. "O que você quer, Diogo?"
"Não desligue," ele implorou, sua voz embargada. "Por favor, Joana. Vamos conversar."
"Nós já conversamos. Eu não tenho mais nada a dizer."
"Eu estava errado," ele disse, as palavras saindo apressadas. "Eu fui um idiota. Eu estava confuso, de luto pelo pai da Eva, e não pensei direito."
"Você não pensa direito há dois anos," eu retruquei.
"Eu sei! Eu sei, ok? Mas eu vejo agora. É você que eu quero. É você que eu amo. A Eva... foi um erro. Eu disse a ela para não me contatar mais. Eu terminei tudo com ela."
As palavras que eu sempre quis ouvir. E agora, elas soavam vazias.
"É tarde demais, Diogo."
"Não, não é!" ele insistiu. "Por favor, me dê outra chance. Eu vou provar para você. Eu vou para a terapia. Eu farei qualquer coisa. Apenas não desista de nós."
Eu fechei os olhos, a exaustão me dominando. "Eu não sei."
"Apenas pense sobre isso," ele implorou. "Um último encontro. Jantar. Apenas para conversar. Se depois disso você ainda quiser o divórcio, eu assino os papéis. Sem mais brigas. Eu prometo."
Eu hesitei. Uma parte de mim, a parte tola e esperançosa, queria acreditar nele.
"Tudo bem," eu suspirei. "Um jantar."
"Obrigado," ele disse, o alívio em sua voz palpável. "Obrigado, Joana. Você não vai se arrepender."
Mas enquanto eu desligava o telefone, eu já estava me arrependendo.