Quando a Morte Revela a Verdade
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Capítulo 4

A perda de sangue, combinada com a sua condição enfraquecida, foi demais para Juliette. A sua visão escureceu e ela desmaiou no relvado.

Quando acordou, não estava no seu quarto. Estava num armazém húmido e escuro, amarrada a uma cadeira. Ao seu lado, também amarrada, estava Cecilia, que parecia aterrorizada.

"O que aconteceu?" perguntou Juliette, a sua voz rouca.

"Fomos raptadas," sussurrou Cecilia, os olhos arregalados de medo. Mas havia um brilho nos seus olhos que Juliette não conseguiu decifrar.

Momentos depois, dois homens encapuzados entraram. Um deles segurava um telemóvel, com uma chamada de vídeo ativa. No ecrã, o rosto pálido e tenso de Hugo.

"Gordon," disse um dos homens. "Temos as tuas duas mulheres. Só podes salvar uma. Quem vai ser?"

O coração de Juliette gelou. Era um teste cruel, uma encenação doentia. E ela sabia, no fundo, quem estava por trás disto.

"Hugo, salva-me!" gritou Cecilia, as lágrimas a escorrerem-lhe pelo rosto. "Eu amo-te! A Juliette nunca te amou, ela só te quer destruir!"

Hugo olhou do rosto choroso de Cecilia para o rosto silencioso e pálido de Juliette. Ele estava a ser testado, e a sua escolha revelaria tudo. Ele queria testar Juliette, ver se ela lutaria por ele, se mostraria algum pingo de ciúme.

"Eu escolho..." ele começou, a sua voz tensa. Ele olhou para Juliette, esperando uma reação, um apelo. Mas ela permaneceu em silêncio, o seu olhar vazio.

Frustrado e furioso com a sua apatia, ele tomou a sua decisão. "Eu escolho a Cecilia."

Cecilia soltou um suspiro de alívio, um sorriso vitorioso a brilhar através das suas lágrimas.

Os raptores desamarraram Juliette. "A senhora tem azar," disse um deles, arrastando-a para uma porta aberta que dava para as falésias escuras de Cascais.

O plano de Cecilia era simples: assustar Juliette, humilhá-la, e depois libertá-la. Mas os homens que ela contratou eram mais cruéis do que ela esperava.

Eles atiraram Juliette ao mar.

O grito de Hugo foi de puro pânico. A encenação tinha corrido terrivelmente mal. A possibilidade de a perder, real e imediata, atingiu-o com uma força brutal.

Sem um segundo de hesitação, ele mergulhou na água escura e gelada atrás dela. O seu corpo a afundar-se nas ondas era a única coisa que importava.

Juliette acordou numa cama de hospital. A primeira coisa que viu foi o rosto furioso de Hugo, molhado e a tremer.

"Tu planeaste isto tudo, não foi?" acusou ele, a sua voz cheia de veneno. Cecilia, ao seu lado, tinha-lhe enchido a cabeça com mentiras, dizendo que Juliette tinha orquestrado o seu próprio rapto para o incriminar. "Fingiste tudo para me fazeres sentir culpado!"

Juliette olhou para ele, demasiado fraca e cansada para discutir. A injustiça era esmagadora.

De repente, uma dor aguda atravessou o seu abdómen. Ela tossiu, e uma onda de sangue jorrou da sua boca, manchando os lençóis brancos do hospital. Era uma hemorragia grave, um sintoma violento do seu cancro avançado.

O horror no rosto de Hugo foi substituído por choque.

Cecilia olhou para o sangue, para o rosto cinzento de Juliette, e a verdade atingiu-a. Isto não era um fingimento. Juliette estava realmente doente. Doente ao ponto de morrer.

Por um momento, o pânico tomou conta dela. Ela devia chamar uma enfermeira, gritar por ajuda. Mas depois, um pensamento mais sombrio tomou forma. Se Hugo soubesse a verdade, se soubesse que Juliette estava a morrer, ele perdoá-la-ia. Ele voltaria para ela.

O medo de o perder superou qualquer pingo de humanidade que lhe restava. Enquanto Hugo corria para fora do quarto à procura de um médico, Cecilia limpou o sangue dos lábios de Juliette com um lenço.

"Vais ficar bem," sussurrou ela, a sua voz uma mistura de pânico e determinação fria. "Este será o nosso segredo."

                         

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