Pesadelo Conjugal: O Despertar
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Capítulo 3

Dona Sofia agiu rápido. Ela era uma mulher de recursos e, naquele momento, toda a sua lealdade estava com o neto e com o genro que sua filha havia destruído.

"Tome, João", ela disse, estendendo-lhe um envelope grosso. "Aqui tem dinheiro suficiente para o que você precisar. E aqui..." Ela entregou uma pasta de documentos. "São os papéis do divórcio. Maria assinou há dois meses. Ela só estava esperando o momento certo para te dar o fora."

A premeditação de Maria foi como outro soco no estômago. Ele pegou os papéis, a assinatura dela uma ofensa à vida que eles um dia compartilharam.

João passou os dias seguintes em um nevoeiro de dor, alternando entre a UTI de Pedro e breves momentos de sono inquieto em uma poltrona. Ele não comia, não falava. Ele apenas existia, conectado ao filho pelo fio invisível do sofrimento.

Numa tarde, exausto e desesperado, ele decidiu que não podia mais deixar Pedro naquele hospital. Na sua mente delirante, ele precisava levá-lo para casa, para o quarto dele, cercado por seus brinquedos.

Ele conseguiu colocar Pedro, ainda conectado a um monitor portátil, em uma cadeira de rodas e o levou até o estacionamento. Ninguém o impediu, talvez por pena, talvez por choque.

Ao sair do hospital, a luz do sol o cegou. Ele estava tonto, fraco. Ao fazer uma curva, perdeu o controle do carro e bateu em um poste. O impacto não foi forte, mas foi o suficiente para que o airbag disparasse e ele perdesse a consciência.

Ele acordou em um quarto de hospital. Não o de Pedro, mas o seu próprio. Tinha uma costela quebrada e vários hematomas. Dona Sofia estava ao seu lado.

"Pedro está bem, João. Ele está seguro no quarto dele. Você precisa descansar."

A porta se abriu e Maria entrou. Ela não parecia nem um pouco preocupada. Pelo contrário, havia um sorriso de escárnio em seus lábios.

"Olha só para você", ela disse, a voz cheia de desprezo. "Patético. Teve que inventar toda essa história, esse acidente, só para chamar atenção?"

João a encarou, incrédulo.

"Inventar? Maria, nosso filho está em estado vegetativo por sua causa!"

"Ah, por favor. Ele está fingindo, e você o está incentivando. Vocês dois sempre foram bons em drama. Mas isso não vai funcionar. Eu não vou ceder à sua chantagem emocional."

Ela se aproximou da cama, a arrogância emanando de cada poro.

"Você nunca entendeu, não é, João? Eu sou de uma família importante. Eu tenho status. E você? Você é só o filho do motorista do meu pai. Um ninguém que eu, por pena, elevei ao meu nível. Mas o seu lugar sempre foi lá embaixo."

As palavras eram cruéis, calculadas para ferir. E feriram.

"Miguel está me esperando lá fora", ela disse, ajeitando o cabelo. "Ele não está se sentindo muito bem, preciso cuidar dele. Diferente de você, ele é um homem que merece minha atenção."

Ela se virou para sair, parando na porta.

"O divórcio já está resolvido. Fique com a casa. Considere um prêmio de consolação por ter perdido. Agora, se me der licença, minha vida de verdade me espera."

Ela saiu, deixando para trás um silêncio pesado e o som do coração de João se partindo em mil pedaços.

Ele virou o rosto para o travesseiro, as lágrimas que ele pensou terem secado voltando com força total. Não era só a perda do filho, era a aniquilação de sua identidade, de seu amor, de tudo em que ele um dia acreditou. Ela não o havia apenas traído, ela o havia apagado, como se ele nunca tivesse existido. E a dor disso era quase tão insuportável quanto a visão de Pedro imóvel em uma cama de hospital.

            
            

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