Pesadelo Conjugal: O Despertar
img img Pesadelo Conjugal: O Despertar img Capítulo 4
5
Capítulo 5 img
Capítulo 6 img
Capítulo 7 img
Capítulo 8 img
Capítulo 9 img
Capítulo 10 img
img
  /  1
img

Capítulo 4

A ironia era esmagadora. O pai de João, um homem simples e honesto, havia sido motorista da família de Maria por trinta anos. Ele morrera em serviço, de um ataque cardíaco fulminante enquanto levava o pai de Maria a uma reunião de negócios urgente, salvando o velho de ter um acidente ao assumir o volante mesmo passando mal. Como forma de "gratidão", a família de Maria pagou os estudos de João e o acolheu. Foi assim que ele e Maria se conheceram.

Ele se lembrava dela na adolescência, uma garota que parecia diferente de sua família arrogante. Ela era doce, ou pelo menos fingia ser. Dizia que admirava a força e a bondade dele, que estava cansada do mundo superficial em que vivia. João, ingênuo e apaixonado, acreditou. Ele se dedicou a ela de corpo e alma, trabalhando duro para provar que era digno de seu amor, construindo uma vida para eles. O nascimento de Pedro foi o dia mais feliz de sua vida, a prova de que seu amor era real.

Agora, ele via tudo com uma clareza dolorosa. Não era amor. Para ela, ele fora uma fase, uma rebeldia passageira. E a fase havia acabado com o retorno de Miguel. Miguel Santos, o primeiro namorado de Maria, um playboy rico que a havia dispensado na faculdade. Ele voltou para a cidade e, de repente, a vida simples e honesta que João oferecia não era mais suficiente.

Dias depois, quando João recebeu alta, Dona Sofia o esperava.

"Maria está fora de controle", disse ela, com a voz cansada. "Meu marido quer passar toda a gestão da empresa para você, João. Como um pedido de desculpas. É o mínimo que podemos fazer."

João balançou a cabeça.

"Eu não quero o seu dinheiro, Sofia. Eu não quero sua empresa."

Ele a olhou nos olhos, a dor transformando seu rosto em uma máscara de determinação fria.

"Eu nunca vou perdoar o que ela fez com o meu filho. Nunca. A única coisa que eu quero é justiça. E ficar longe de todos vocês."

Sua recusa a deixou sem palavras. Ele sabia que era uma oferta de milhões, uma vida de conforto que ele nunca tivera. Mas nada disso importava. Seu tesouro estava em uma cama de hospital, lutando por uma vida que lhe fora roubada.

Naquela noite, ele foi até a casa que um dia fora seu lar para pegar algumas roupas para ele e para Pedro. Ao se aproximar, ouviu risadas vindas do jardim. Ele olhou por cima do muro e a cena o paralisou.

Maria e Miguel estavam na piscina. Ela o beijava com uma paixão que ele nunca recebera, as mãos dela percorrendo o corpo dele. Eles pareciam um casal em uma propaganda de margarina, felizes e despreocupados.

A raiva subiu pela garganta de João como bile. Ele entrou em casa. A porta estava aberta.

"O que você está fazendo aqui?", gritou Maria, saindo da piscina e se enrolando em uma toalha, sem nem um pingo de vergonha.

"Eu vim pegar as coisas do Pedro", ele disse, a voz baixa e perigosa.

"Você não tem direito de estar aqui! Esta é a minha casa!", ela retrucou.

"E você não tem o direito de ser mãe dele", ele cuspiu as palavras.

Ele subiu para o quarto de Pedro, o coração apertado. Foi então que ele viu. O relógio quebrado. O maldito relógio que começara tudo. Estava sobre a cômoda, como um troféu. Não era um relógio qualquer. João o havia presenteado a Miguel anos atrás, um gesto de amizade. Era um modelo simples, que ele comprou com seu primeiro salário, com uma gravação no verso: "Para meu irmão, Miguel". Um símbolo de uma amizade que ele agora via ser uma farsa completa. Miguel havia mentido sobre o valor, e Maria, em sua ignorância e desdém, nunca se importou em saber a verdade. Ela apenas usou aquilo como a desculpa perfeita para executar seu plano cruel.

                         

COPYRIGHT(©) 2022