Capítulo 2 O Nome Que Não Esqueci

A madrugada deslizava como veneno nas veias da cidade. As luzes, rareando em janelas solitárias, não alcançavam os becos onde o passado insistia em viver.

Bresser Gale sentia o mundo pulsar - não com vida, mas com memória.

E ela estava em tudo.

Sentado no alto de um prédio, ele olhava para o nada com o rosto escondido sob a sombra do capuz. O silêncio ao redor era espesso, mas dentro dele... um nome ecoava com uma força que o tempo nunca conseguiu apagar.

Ashley Stones.

Ela tinha surgido em sua vida como a aurora antes da tempestade. Naquela época, ele ainda era humano. Um homem comum - se é que um homem pode ser comum quando o destino já lhe desenha as cicatrizes.

Ashley não era apenas bela. Ela era magnética. Estranha. Intensa.

Mas acima de tudo... misteriosa.

Lembrava-se do primeiro encontro com nitidez sobrenatural: a luz dourada do salão de baile, o vestido vermelho como sangue, e os olhos escuros que pareciam conhecer seus pecados antes mesmo que ele os cometesse.

Ela não sorriu.

Ela apenas olhou. E naquele olhar, Bresser sentiu o próprio destino mudar de rumo.

Nos dias que seguiram, ela se tornou sua obsessão. Era impossível resistir. Ashley aparecia onde não era esperada, desaparecia sem explicações, e sempre falava como se tivesse vivido muito mais do que sua juventude aparentava.

- O tempo nos observa, Bresser - ela dissera certa vez, os dedos deslizando sobre o vidro de uma janela. - E ele sempre cobra aquilo que oferecemos de graça.

Ele não entendeu. Não na época.

O amor entre eles foi uma combustão lenta, mas devastadora. Ele acreditava que ela era apenas diferente. Uma mulher livre, excêntrica, talvez nobre demais para se curvar ao mundo.

Mas então, em uma noite de lua cheia, Ashley lhe mostrou o que realmente era.

Ela era uma vampira.

Não por escolha - mas por linhagem. Nascida em uma família ancestral, marcada por rituais antigos e condenada a carregar o sangue imortal em silêncio. Ashley vivia sob o risco constante de ser descoberta, caçada, aniquilada.

E amá-lo foi seu maior erro.

Porque ao fazê-lo, condenou não só a si mesma, mas a ele também.

Quando os inimigos de sua linhagem descobriram que ela havia se envolvido com um humano, a sentença foi dada: ela deveria desaparecer.

Mas antes de partir, Ashley fez o impensável.

Ela o transformou.

- Eu não podia deixar você morrer por mim - disse ela, os olhos marejados. - Mas não podia deixar você viver sem saber o que eu era.

Bresser acordou dias depois, sedento, perdido, faminto por algo que não compreendia.

E ela... havia sumido.

Não fugido. Não exilada.

Ela havia se matado.

Pela proteção dos seus. Pela salvação de seus ancestrais.

Pela culpa de tê-lo condenado à eternidade.

A maldição que Ashley carregava passou para ele no instante da transformação. Só que, em vez de apenas viver como um imortal, Bresser foi amaldiçoado com algo pior:

A imortalidade com consciência.

Com lembranças.

Com a dor.

E com a promessa de que só poderia descansar quando destruísse aquilo que mais amava.

E então veio a profecia.

Ashley voltaria.

Não como ela mesma... mas como um reflexo do que foi.

Uma reencarnação.

E ele teria que matá-la para quebrar o ciclo.

Agora, séculos depois, ali estava ela - Andry Tie, com o mesmo fogo nos olhos, mas sem memória do que foram.

E Bresser não sabia o que era mais cruel: revê-la ou ser forçado a perdê-la novamente.

"Ashley me deu a eternidade... e se matou para me poupar da dor. Mas me deixou vivo. E vazio."

Andry era diferente. Era humana. Era livre.

E era ela.

E Bresser não sabia se poderia suportar a ideia de tocá-la de novo... ou de ser tocado por ela.

            
            

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