Traída no Velório: A Vingança de Duda
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Capítulo 3

Na manhã seguinte, a tranquilidade frágil da nossa casa foi quebrada pelo barulho de um caminhão parando na nossa rua.

Minha mãe foi até a janela.

"Meu Deus, Duda, o que é isso?"

Olhei por cima do ombro dela. Um caminhão da construtora de Lucas estava estacionado em frente à nossa porta. Dois homens começaram a descarregar caixas e mais caixas. Eram presentes de noivado. Sedas caras, joias, objetos de decoração luxuosos. Uma demonstração de poder e posse.

"Ele não pode estar falando sério", minha mãe sussurrou, a mão no peito, o suor brotando em sua testa.

Antes que pudéssemos reagir, o próprio Lucas apareceu, e ele não estava sozinho. Ao seu lado, de braços dados com ele, estava Clarice, a filha do político. Ela usava um vestido caro e um sorriso desdenhoso.

Vizinhos curiosos começaram a sair de suas casas, observando a cena.

"Bom dia, Duda. Bom dia, dona Helena", disse Lucas, alto o suficiente para que todos ouvissem. "Vim trazer a primeira parte dos presentes de noivado. Sei que estamos de luto, mas a vida precisa continuar. Nosso casamento ainda está de pé, claro."

Minha mãe olhou de Lucas para a mulher ao seu lado, completamente perplexa. Eu senti o sangue ferver nas minhas veias.

Clarice olhou para nossa casa simples com desprezo. "Lucas, querido, você tem certeza que é aqui? É... bem rústico."

Lucas riu, apertando a mão dela. "É o charme da comunidade, meu amor. Duda e eu temos um acordo. Ela entende minhas necessidades."

Ele se virou para mim, seu olhar um misto de desafio e posse.

"Espero que goste dos presentes, Duda. E, a propósito, Clarice vai me ajudar a organizar os detalhes do nosso casamento. Ela tem um gosto impecável."

A humilhação era pública, deliberada. Ele estava me mostrando que podia ter as duas: a noiva de status e a "parceira criativa" da favela. Ele estava me transformando em sua amante antes mesmo de se casar.

Eu senti os olhares dos meus vizinhos em mim. Vi pena em alguns, zombaria em outros. Meu rosto queimava.

Eu queria gritar. Queria jogar todas aquelas caixas na cara dele. Mas olhei para minha mãe, que parecia prestes a desmaiar novamente. Uma briga agora só pioraria as coisas, só nos tornaria o assunto principal da favela por semanas.

Respirei fundo, forçando uma calma que não sentia.

"Agradeço os presentes, Lucas", eu disse, minha voz controlada. "Mas agora estamos ocupadas. Minha mãe não está se sentindo bem."

Lucas sorriu, vitorioso, como se minha calma fosse uma forma de submissão.

"Claro. Descansem. Nos falamos mais tarde."

Ele e Clarice se viraram e foram embora, deixando para trás um rastro de arrogância e uma pilha de presentes que eram como um monumento à minha humilhação.

Fechei a porta e me encostei nela, finalmente deixando o ar sair dos meus pulmões. Minha mãe começou a chorar.

"Como ele pode fazer isso, Duda? Na frente de todo mundo?"

Eu a abracei, meu próprio coração duro como uma pedra. "Ele quer nos quebrar, mãe. Mas não vai conseguir."

Na rua, as fofocas já tinham começado. Ouvi a voz de uma vizinha.

"Coitada da Duda. O noivo trazendo a outra na porta de casa. Que vergonha."

"Vergonha nada", disse outra. "Ela que aceita. Se tivesse um pingo de orgulho, já tinha mandado esse homem para o inferno."

Aquelas palavras doíam, mas elas estavam erradas. Eu não estava aceitando. Eu estava esperando. Esperando o momento certo para derrubar o castelo de cartas de Lucas. E esse momento estava cada vez mais perto.

            
            

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