"Dona Helena, Maria Eduarda. Por favor, sentem-se. Eu sinto muito pela perda de vocês. Roberto era um grande homem, um amigo e um pilar para sua comunidade e para o nosso governo."
Ele falou sobre os projetos que meu pai ajudou a desenvolver, sobre sua integridade e seu legado. Suas palavras eram um bálsamo para nossas almas feridas. Ele reconhecia o valor do meu pai, um valor que Lucas havia cuspido em cima.
"O legado do seu pai não pode morrer", continuou o Presidente. "E eu sei do seu projeto, Maria Eduarda. O 'Costurando Sonhos'. É um trabalho extraordinário de empoderamento. O governo quer apoiar você. Queremos que você continue o trabalho do seu pai, não apenas na sua comunidade, mas como um exemplo para o país."
As lágrimas encheram meus olhos. Era o reconhecimento que eu tanto desejava, não para mim, mas para a memória do meu pai.
"Senhor Presidente, eu... eu não sei o que dizer."
"Não precisa dizer nada. Apenas continue sendo quem você é." Ele fez uma pausa. "Soube também que você está de casamento marcado."
Meu estômago gelou.
"Sim, senhor", eu disse, minha voz um fio. "Com Pedro, um empresário de tecnologia."
O Presidente sorriu. "Um bom rapaz, de boa família. Para honrar a memória do seu pai e o seu novo papel, o governo gostaria de oferecer uma cerimônia especial. Nós a nomearemos 'Embaixadora Cultural' da nossa nação. Seu casamento será um evento de Estado."
Eu estava atônita. Embaixadora Cultural. Eu.
Então, vi minha chance. A peça final do meu plano.
"Senhor Presidente, eu tenho um pedido, se me permite."
"Pois não."
"A construtora de Lucas, o herdeiro da... da família que era próxima à minha, tem um contrato com o governo para fornecer serviços de transporte em eventos oficiais. Como um gesto de... reconciliação e para mostrar que não há ressentimentos, eu gostaria que ele fosse nomeado o responsável oficial pelo transporte da noiva no dia do meu casamento."
O Presidente me olhou por um longo momento, um brilho de entendimento em seus olhos. Ele era um político experiente; ele entendeu exatamente o que eu estava fazendo.
Ele sorriu levemente. "Um pedido nobre e magnânimo, Maria Eduarda. Considero-o atendido. Será feito como você deseja."
Saímos do palácio flutuando. A justiça, de uma forma que eu nunca imaginei, estava a caminho.
Quando estávamos no corredor, esperando o carro, ouvi uma voz irritante.
"Ora, ora, se não é a pequena órfã."
Era Clarice. E ao lado dela, Lucas, com um ar presunçoso. Eles provavelmente tinham uma reunião com o pai dela.
Clarice olhou para o broche que eu usava na minha blusa. Era uma pequena peça de artesanato, o último presente que meu pai me deu antes de morrer.
"Que coisinha feia é essa? Parece lixo reciclado", ela disse, e antes que eu pudesse reagir, ela estendeu a mão e o arrancou da minha roupa. O broche caiu no chão de mármore polido e uma das pedrinhas se partiu.
Um grito de dor escapou dos meus lábios. Eu me abaixei para pegar os pedaços, meu corpo tremendo.
"Clarice!", Lucas a repreendeu, mas sem muita convicção.
"O que foi? Ela tem um monte dessas bugigangas na favela dela", disse Clarice, sem um pingo de remorso.
Quando me levantei, tropecei, e minha mão arranhou uma coluna de mármore, um corte pequeno, mas doloroso, se abriu na minha palma.
Lucas me olhou com desprezo.
"Veja o que você fez, Duda. Sempre desastrada. Está sujando o chão do palácio com seu sangue. Tenha mais modos."
Naquele momento, olhando para o meu broche quebrado e para o sangue na minha mão, eu não senti mais dor. Eu só senti uma certeza fria e absoluta.
A queda dele não seria apenas humilhante. Seria total.