"Impossível!" Sofia exclamou, como se tivesse encontrado a prova definitiva de um crime. "Gabriel vai viajar para o exterior hoje. Ele me disse ontem. Como ele poderia estar de passagem com você?" Ela levantou o queixo, orgulhosa de sua "descoberta".
Eu arregalei os olhos, surpresa. "Então ele não estava de passagem?" Abaixei a cabeça, a mente cheia de pensamentos. Se não era uma coincidência, então por que ele estava lá? Será que Gabriel...?
Os outros três na mesa riram, um som de zombaria que me feriu.
"Lívia, você não precisa usar o nome de Gabriel para se desculpar," disse Ana, minha madrasta, com um tom de falsa compaixão. "Se você disser a verdade, não vamos te culpar de verdade." Ela estava claramente se deliciando com a minha humilhação.
Eu não tentei mais explicar. Era inútil.
Mas no segundo seguinte, meu celular, que eu havia deixado na mesinha de centro, tocou. O nome "Gabriel" brilhava na tela. O som da chamada pareceu ensurdecedor no silêncio da sala.
Atendi no viva-voz de propósito.
"Lívia, você deixou seu casaco no meu carro," a voz de Gabriel soou clara e calma.
"Ah, eu pego depois, quando tiver tempo," respondi, tentando manter a voz neutra, embora meu coração estivesse acelerado.
"Ok, venha buscar."
Desliguei. Eu ainda estava confusa. "Será que eu usei um casaco hoje de manhã?" Eu nem me lembrava.
Não percebi imediatamente o silêncio mortal que se instalou na sala.
Meu pai bateu a xícara de chá na mesa com tanta força que o líquido derramou. "Por que Gabriel te trouxe de volta? Sofia é quem tem o noivado arranjado com a família Silva!"
"Ele só me deu uma carona," eu disse, encolhendo os ombros. "Foi essa a desculpa que ele me deu."
De repente, Sofia começou a chorar. Lágrimas grossas rolaram por seu rosto enquanto ela apontava um dedo trêmulo para mim.
"Ele nunca me deu uma carona! Mas deu um desvio enorme só para te buscar? Você não sabe que ele é meu noivo? Você não tem limites?"
Sofia chorava incontrolavelmente. Minha madrasta a confortou rapidamente, lançando-me um olhar cheio de raiva. Meu pai me encarava com fúria. Por um momento, me senti um pouco atordoada, transportada para o passado.
Em minhas memórias, meu pai me amou. Quando eu era criança, ele me levantava no ar e dizia que me amava mais que tudo no mundo, junto com minha mãe. Mas, gradualmente, depois que ela se foi e Ana e Sofia chegaram, meu pai pareceu se afastar de mim, como se eu fosse um lembrete de um passado que ele queria esquecer.
Pedro se levantou abruptamente. A cadeira arrastou no chão, fazendo um barulho estridente e feio.
"Lívia, você foi longe demais!" ele disse, a voz cheia de acusação.
Sofia já estava chorando e correndo para o andar de cima. Os pais e Pedro foram atrás dela, como se eu fosse a vilã de uma tragédia. O jantar em família terminou em desordem e acusações.
Mais tarde, à noite, eu estava no jardim da casa dos Fernandes, alimentando os peixes no pequeno lago de carpas. O ar estava parado e pesado. De repente, ouvi passos atrás de mim.
Virei-me e vi Sofia. O rosto dela não tinha mais a inocência de antes. Em seu lugar, havia um ressentimento e um ciúme feios e distorcidos.
"Como você ousa se aproximar de Gabriel? Ele é meu."
Eu não disse nada, apenas a encarei.
Ela se aproximou, a voz um sussurro venenoso. "Desde criança, tudo o que eu queria, eu pegava para mim. O que eu não queria, eu destruía para não te dar."
Eu a olhei. O rosto delicado e refinado de Sofia, agora distorcido pela raiva, parecia monstruoso sob a luz fraca da lua.
"É mesmo? Então, vamos ver," eu disse, a voz fria.
Tentei sair, mas ela me puxou para trás com força. Em um piscar de olhos, perdi o equilíbrio. Ela me agarrou e, em um movimento deliberado, nos jogou para dentro da água fria do lago.
A água gelada me chocou. Espirrou para todo lado. Lutei para subir à superfície, mas Sofia me empurrou com força para baixo, usando meus ombros como apoio para tentar sair da água. Ela estava me afogando de propósito.
O barulho finalmente atraiu os outros.
Na confusão, vi meu pai, minha madrasta e Pedro correndo desesperadamente em nossa direção. Os três pularam na água, mas nadaram diretamente para Sofia, me deixando para trás, lutando sozinha para respirar.
Só quando Sofia foi arrastada para fora da água, e eu finalmente senti minhas forças se esvaírem, afundando na escuridão, que vi uma nova figura correndo em minha direção.
Era Gabriel. Ele gritava meu nome, a voz cheia de um desespero que eu nunca tinha ouvido antes.
"Lívia!"