A Noiva Indesejada
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Capítulo 3

O Dr. Matos chegou em menos de vinte minutos, sua maleta preta em mãos. A sala de estar parecia um hospital de campanha. Laura estava deitada no sofá, pálida, mas agora com os olhos abertos, parecendo uma santa sofredora.

Minha mãe e Carlos pairavam sobre ela, enquanto o médico a examinava.

"É o estresse, doutor. A notícia do casamento... ela é tão sensível", explicava minha mãe, com a voz embargada.

O Dr. Matos, um homem experiente e que conhecia nossa família há anos, ergueu uma sobrancelha. Ele auscultou o coração de Laura, mediu sua pressão.

"A pressão está normal. Os batimentos estão um pouco acelerados, mas nada alarmante. É provável que seja apenas uma crise de ansiedade, Dona Beatriz."

Mas minha mãe não queria ouvir a razão. Ela queria um drama.

"Ansiedade? Doutor, minha sobrinha quase morreu! Ela precisa de repouso absoluto! Ela não tem condições de viajar para lugar nenhum!"

Ela se virou para mim, os olhos faiscando.

"Está vendo, Sofia? É por sua causa! Se você tivesse aceitado sua responsabilidade desde o início, sem questionar, sua prima não teria passado por esse susto!"

Era uma lógica distorcida, insana. Eu não tinha dito uma palavra, mas era a culpada.

Júlia, que estava limpando os cacos do copo que Carlos deixara cair, não aguentou.

"Dona Beatriz, por favor! A Srta. Sofia não fez nada! Ela só tem sofrido em silêncio! A senhora não se lembra do ano passado, quando ela caiu da escada e quebrou o braço? A Srta. Laura disse que foi um 'acidente', mas eu vi o empurrão! A Srta. Sofia ficou semanas com dor, e ninguém chamou um médico para ela!"

O ar na sala ficou pesado. O Dr. Matos olhou de Júlia para mim, depois para minha mãe, cujo rosto se contorceu em uma máscara de ódio.

"Cala essa boca, sua criada insolente!"

Beatriz marchou até Júlia e, sem aviso, deu-lhe um tapa forte no rosto. O som ecoou na sala silenciosa.

"Quem você pensa que é para falar do passado?"

Mas então, ela se virou para mim. Seus olhos estavam injetados de raiva.

"E você! Sempre com essa sua cara de vítima! É isso que você quer? Destruir esta família com suas mentiras e ressentimentos?"

Ela levantou a mão para me bater também.

Mas desta vez, eu não recuei. Eu não desviei o olhar.

A mão dela parou no ar. Meu silêncio, minha imobilidade, a desarmou por um segundo.

Foi quando eu falei. Minha voz saiu fria, cortante, desprovida de qualquer emoção que ela esperava.

"Bata. Me bata na frente do médico. Mostre a ele, e a si mesma, que tipo de mãe a senhora é."

Beatriz engasgou, a mão ainda suspensa. O Dr. Matos pigarreou, claramente desconfortável.

Eu continuei, meus olhos fixos nos dela.

"Por que a senhora me odeia tanto, mamãe? O que eu fiz para merecer ser tratada como lixo, enquanto Laura, que não é sua filha, é tratada como uma rainha?"

A pergunta ficou suspensa no ar, uma acusação que ela não podia negar. Pela primeira vez na minha vida, eu a vi sem palavras, seu rosto passando da raiva para o choque, e talvez, por um ínfimo segundo, para a vergonha.

"Eu sou sua filha?", repeti, a voz um pouco mais alta. "Ou sou apenas uma peça de reposição para a vida perfeita que a senhora planejou para a sua sobrinha?"

Laura, no sofá, se encolheu. A performance tinha acabado. A realidade era muito mais feia.

Eu não esperei por uma resposta. Virei as costas para ela, para todos eles.

"Não se preocupe, mamãe. Eu vou fazer o que a senhora quer. Eu vou me casar com o filho do Sr. Silva."

Parei na porta e olhei para trás por cima do ombro.

"Mas não pense que estou fazendo isso por esta família. Porque, para mim, a partir de hoje, esta família não existe mais."

Saí da sala, deixando para trás um silêncio atordoado. No corredor, Júlia me encontrou, os olhos cheios de lágrimas e a marca vermelha em sua bochecha. Eu peguei a mão dela.

"Não chore, Júlia. A guerra só está começando."

E, pela primeira vez em muito tempo, eu senti uma fagulha de esperança. A esperança de que, no final, a justiça seria minha.

            
            

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