A Noiva Indesejada
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Capítulo 4

Naquela noite, minha mãe não veio falar comigo. Em vez disso, ela mandou trancar a porta do meu quarto por fora. Era uma punição infantil, uma tentativa patética de reafirmar seu poder. Ela me empurrou para dentro antes de girar a chave.

"Você vai ficar aí e pensar na sua insolência! Vai aprender a respeitar sua mãe e sua família!"

O empurrão dela foi forte. Eu tropecei e caí, batendo o joelho no chão duro de madeira. A dor foi aguda, mas eu não fiz nenhum som. Apenas ouvi o som da chave girando na fechadura e os passos dela se afastando.

Fiquei ali no chão, no escuro, sentindo a dor latejar no joelho. Na minha vida passada, eu teria chorado. Teria me encolhido e me sentido uma prisioneira.

Mas agora, eu apenas respirei fundo. O quarto não era uma prisão. Era meu quartel-general.

Levantei-me, mancando um pouco, e fui até minha escrivaninha. Sob a luz fraca da lua que entrava pela janela, peguei papel e caneta. Minha mão não tremia. Com caligrafia firme e clara, comecei a escrever uma carta. Não era uma carta de desabafo ou de despedida. Era um documento. Cuidadosamente, comecei a listar eventos, datas e nomes. Detalhes sobre os negócios "cinzentos" do Sr. Eduardo Silva que eu ouvi meu pai comentar em raras ligações, coisas que na minha vida anterior eu ignorei como "assuntos de adulto". Eu sabia que meu pai, Dr. Ricardo, estava investigando algo grande. Essas informações, mesmo fragmentadas, podiam ser a semente de algo.

Eu não sabia exatamente como usaria aquilo ainda, mas ter um plano era o primeiro passo para a liberdade.

Dois dias depois, houve um evento beneficente no Palácio Guanabara. Uma prévia da sociedade carioca para conhecer a família do noivo, mesmo que o próprio noivo ainda não estivesse presente, apenas seus representantes. Minha mãe me libertou do quarto, esperando que eu estivesse devidamente "domesticada".

Ela fez questão de que Laura fosse o centro das atenções. Um vestido caríssimo, joias que deveriam ser minhas, herdadas da minha avó. Eu fui vestida com um vestido simples, bege, de um tecido sem graça. A mensagem era clara: eu era a acompanhante, a sombra.

No salão grandioso, cheio de políticos, empresários e socialites, Beatriz e Carlos guiavam Laura de grupo em grupo, apresentando-a como "a futura noiva".

Eu fiquei para trás, observando. Vi a Presidente da República chegar, uma mulher de postura impecável e olhar penetrante. Ela cumprimentava as pessoas com uma formalidade cortês.

Este era o meu momento.

Enquanto a comitiva presidencial passava perto de onde eu estava, fingi um tropeço. Meu pequeno broche de prata, o único adorno que eu usava, se soltou e caiu no tapete vermelho, a poucos passos dela.

"Oh, céus!", exclamei, com a quantidade certa de aflição.

Um dos seguranças se moveu para pegar, mas a própria Presidente fez um gesto para que ele parasse. Ela se inclinou, pegou o pequeno broche e olhou para mim. Seus olhos eram curiosos.

"Isto é seu, minha jovem?"

"Sim, senhora Presidente. Muito obrigada."

Eu fiz uma pequena reverência. Nossos olhos se encontraram.

"É um momento de grande alegria para minha família", eu disse, minha voz calma e respeitosa. "Mas em tempos de celebração, também devemos pensar na segurança e na honra da nossa nação. Uma aliança tão importante deve ser protegida de todos os perigos, previstos ou não."

Foi vago. Foi sutil. Mas plantou uma semente. Eu não estava falando como uma noiva animada, mas como uma cidadã preocupada.

A Presidente me observou por um momento a mais do que o necessário. Ela viu meu vestido simples, meu rosto sério, e a forma como minha família me ignorava do outro lado do salão.

Ela sorriu, um sorriso quase imperceptível.

"Palavras sábias de uma jovem prudente."

Ela então fez algo que chocou a todos que estavam perto o suficiente para ver. Ela retirou um pequeno broche de ouro e platina de sua própria lapela, um emblema discreto do governo.

"Tome. Considere um presente. A prudência deve sempre ser recompensada."

Ela colocou o broche em minha mão e continuou seu caminho, deixando para trás um rastro de sussurros e olhares chocados.

Minha mãe, que viu a cena de longe, ficou pálida. Laura me fuzilou com os olhos, a inveja distorcendo seu rosto bonito.

Eu fechei minha mão em torno do broche de ouro. Não era apenas uma joia. Era uma chave. E eu acabara de encontrar a porta que ela abria.

                         

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