O diretor da escola me segurava pelo braço com uma força surpreendente. Seus olhos, antes amigáveis, agora me fuzilavam.
"Seguranças! Tirem esse delinquente daqui! E chamem a polícia!", ele gritou.
"Mas eu não fiz nada!", tentei argumentar, minha voz tremendo. "Eu só queria devolver!"
"Devolver?", ele cuspiu as palavras. "Você queria era profanar este lugar! Exibir seu troféu cruel! Seu doente!"
Os jornalistas, que antes me elogiavam, agora me cercavam como abutres. As câmeras piscavam no meu rosto, e os microfones eram empurrados contra a minha boca.
"Por que você fez isso?", perguntou a mesma repórter, agora com uma voz acusatória. "Qual a sua relação com o caso de Ana?"
Ana. O nome dela de novo. Minha irmã. O que o talismã tinha a ver com ela? Minha mente tentava conectar os pontos, mas era um quebra-cabeça com peças faltando.
"Eu não sei do que vocês estão falando!", gritei, sentindo o pânico subir pela minha garganta. Meu sorriso, que antes era de alívio, agora estava congelado em uma careta de desespero.
Eles não me ouviram. Me arrastaram para fora da escola e me jogaram na calçada. O talismã foi atirado aos meus pés.
"Nunca mais pise aqui, seu psicopata!", gritou o diretor antes de bater o portão.
Sentei no chão, tremendo. As palavras deles ecoavam na minha cabeça: "maldição", "monstro", "cruel", "doente". E o nome de Ana.
Peguei meu celular e liguei para a única pessoa que talvez pudesse me ajudar, meu melhor amigo, Lucas.
"Cara, você não vai acreditar no que aconteceu", disse eu, assim que ele atendeu.
Contei tudo, desde a reação da minha família até a cena na escola. Lucas ouviu em silêncio.
"Que bizarro, Pedro. Não faz o menor sentido. Um talismã?"
"Eu sei! Parece que todo mundo enlouqueceu. Eles mencionaram a Ana."
Houve uma pausa do outro lado da linha. "Sua irmã? Que estranho... Mas olha, talvez seja um grande mal-entendido. Por que você não posta uma foto desse treco na internet? Um anúncio de 'achados e perdidos'. O verdadeiro dono aparece, explica tudo, e sua barra fica limpa."
Parecia uma boa ideia. Uma solução moderna para um problema surreal.
"Você acha que funciona?", perguntei, agarrando-me a essa nova esperança.
"Claro que sim! A internet resolve tudo. Poste com a hashtag da cidade. Vai viralizar, você vai ver."
Agradeci a Lucas e desliguei. Abri minhas redes sociais, tirei uma foto nítida do talismã e escrevi uma legenda simples:
"Encontrei este amuleto da sorte hoje no pátio da escola X, após o vestibular. Se for seu, por favor, entre em contato. Quero muito devolvê-lo ao dono."
Publiquei e esperei. Em poucos minutos, a publicação começou a ganhar tração. Compartilhamentos, curtidas, comentários. Senti um alívio imenso. As pessoas estavam ajudando. Lucas tinha razão.
Comecei a me sentir otimista. Talvez tudo não passasse de um grande e estúpido mal-entendido. Minha família, conhecida na cidade por sua influência e riqueza, era tradicional, talvez supersticiosa demais. Quando vissem que eu estava tentando fazer a coisa certa, me perdoariam.
Eu sempre fui o "príncipe" deles, o filho perfeito, o futuro da nossa linhagem. Eles me amavam. Não podiam ter parado de me amar da noite para o dia. A ideia de que o amor deles era tão frágil era insuportável.
Enquanto eu rolava os comentários, meu celular tocou. Era um número desconhecido, mas eu atendi, esperando ser o dono do talismã.
Era minha tia. Sua voz estava embargada de choro e ódio.
"Pedro? Seu monstro! O que você fez?"
"Tia? O que aconteceu? Eu só..."
"Cale a boca! Por sua culpa! Por causa daquela coisa que você postou na internet, seu avô viu e passou mal! Ele está no hospital! Ele está morrendo, Pedro! E a culpa é sua!"
A ligação caiu.
Meu coração parou. Meu avô. No hospital. Morrendo.
Por minha causa?
O otimismo se transformou em pânico puro. Olhei para a tela do celular, para a foto do talismã que havia postado com tanta esperança. Aquele pequeno objeto de madeira não era um amuleto da sorte. Era uma bomba que eu tinha acabado de detonar no colo da minha família, e eu não fazia a menor ideia do porquê.