No dia seguinte, chamei Márcia ao meu quarto. Márcia era minha governanta, uma mulher de meia-idade que me servia com uma lealdade quase canina. Na vida passada, essa lealdade tinha sido a minha ruína, pois a sobrinha dela, Juliana, era ambiciosa demais.
Juliana, a quem eu tratava como uma irmã mais nova, tinha me traído por um broche de ouro que Sofia lhe deu, revelando segredos que me custaram caro.
Desta vez, eu usaria a ambição dela a meu favor.
"Márcia, sua sobrinha Juliana já tem idade para servir na casa principal, não é?", perguntei, enquanto examinava minhas unhas.
Márcia ficou radiante, seus olhos se encheram de lágrimas de gratidão.
"Senhora, está falando sério? Seria uma honra para Juliana servir ao senhor Pedro!"
"Claro. O senhor anda muito ocupado ultimamente. Precisa de alguém inteligente e atenta ao seu lado no escritório para servir um chá, organizar seus papéis. Juliana é a pessoa perfeita."
O rosto de Márcia se contorceu em um sorriso tão grande que era quase doloroso de ver. Ela não fazia ideia de que eu estava oferecendo sua sobrinha como um cordeiro para o lobo.
Mais tarde, abordei Pedro com a minha "brilhante" ideia.
"Querido, eu sei que você valoriza sua privacidade no escritório, mas pensei que talvez fosse bom ter alguém de confiança por perto. A sobrinha de Márcia, Juliana, é uma moça muito esperta e discreta."
Pedro franziu a testa, fingindo desinteresse.
"Não preciso de ninguém zanzando pelo meu escritório, Luana. Gosto de trabalhar em paz."
Ah, a falsa modéstia. Eu conhecia bem aquele teatro. Ele adorava ser paparicado, cercado por rostos bonitos e jovens.
"Eu entendo, querido", disse eu, com uma voz suave e compreensiva. "Mas pense nisso como uma forma de me ajudar. Com a casa tão grande, preciso de pessoas de confiança em postos-chave. E Juliana é leal a mim, o que significa que será leal a você. Além disso," fiz uma pausa, "ela é muito bonita. Não faz mal ter algo agradável para olhar enquanto trabalha, não é?"
Vi um brilho nos olhos dele. A semente estava plantada.
"Bem, se você insiste... Pode ser útil ter alguém para servir café", ele cedeu, como se estivesse me fazendo um grande favor.
Eu sorri. "Ótimo. Vou falar com ela."
No dia seguinte, Juliana começou a servir no escritório de Pedro. Ela usava um vestido novo e seu rosto brilhava de orgulho e ambição. Ela me serviu uma xícara de chá, a mão tremendo levemente de excitação.
"Obrigada, Senhora. Eu nunca vou me esquecer da sua bondade."
"Não se preocupe com isso, Juliana. Apenas sirva bem ao seu senhor", eu disse, olhando-a nos olhos. "Garanta que ele tenha tudo o que precisa. Tudo."
Ela entendeu a insinuação. Um rubor subiu por seu rosto, mas seus olhos brilhavam com determinação. Pobre coitada. Ela pensava que estava subindo na vida, mas era apenas mais um peão no meu tabuleiro.
Márcia veio me agradecer novamente mais tarde, com os olhos marejados.
"Minha Juliana tem tanta sorte de ter uma senhora como você. Ela será eternamente grata."
"Eu sei que será", respondi, com um sorriso enigmático.
Enquanto a noite caía, eu acariciava minha barriga. O primeiro peão estava em posição. Agora, era só esperar as outras peças entrarem no jogo.